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‘Congonhas é um aeroporto perfeito’
Adriana Ferraz
Cristiane Bomfim
Do Diário do Grande ABC
22/07/2007 | 07:00
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Falta planejamento, investimento e, principalmente, comunicação no setor aéreo brasileiro. No mesmo dia em que o governo federal divulgou seu plano de mudanças para a malha aeroviária do País, o que inclui a construção de um novo aeroporto no Estado, o superintendente regional da Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária), Edgard Brandão Júnior, em entrevista exclusiva, revelou que é contra a obra.

Segundo o responsável pela administração de Congonhas e mais sete aeroportos em São Paulo e Mato Grosso do Sul, a obra só pode ser cogitada após o esgotamento de outras medidas, como modernização dos aeroportos de São José dos Campos e Campinas e mesmo Guarulhos, que deve receber uma nova pista para atender mais 12 milhões de passageiros ao ano. Atualmente, cerca 17 milhões de pessoas são atendidas anualmente pelo aeroporto.

Para Brandão, o acidente da última terça-feira foi uma fatalidade. “Congonhas é um aeroporto perfeito”, disse. Durante visita ao Diário, o superintendente afirmou, ainda, que a tragédia que matou mais de 200 pessoas não foi causada por falhas na infraestrutura. “A pista central estava em boas condições de uso. Como já foi divulgado, o acidente aconteceu por uma questão de manutenção da aeronave. É o que podemos pensar por enquanto”, garante.

Desse modo, a Infraero e, conseqüentemente, o governo federal se isentam de qualquer culpa na explosão do Airbus 320. As imagens captadas pelas câmeras espalhadas pela pista de Congonhas mostram, de acordo com Brandão Júnior, que a velocidade do avião da TAM era quatro vezes maior que a normal em um procedimento de pouso. “A impressão é que ele tentou arremeter, mas infelizmente não conseguiu.” Confira entrevista com o administrador de Congonhas:

REFORMA

“A pista está pronta, sim, de acordo com o cronograma da obra e investimento de R$ 220 milhões. Foram feitos testes de aderência antes da liberação. Estava acordado que primeiro iríamos retirar o pavimento antigo, fazer a correção das trincas e fissuras. As ranhuras ficam para depois mesmo. Se fôssemos cortar o pavimento com material agregado ainda quente, iríamos estragar a pista.”

GROOVING

“O grooving não dá aderência. As ranhuras são importantes em situações onde a lâmina d’água ultrapassa 3mm na pista. Na noite do acidente, o índice era de 0,7mm. O grooving não poderia evitar a tragédia. Fizemos a vistoria entre 17h04 e 17h20. Se houvesse problema, saberíamos, ainda a ponto de avisar o piloto. Dois minutos antes, outro avião da TAM pousou sem problemas.”

INTERDIÇÃO

“Não se pode tomar decisões radicais. É preciso incentivar, não impor medidas. É possível fechar Congonhas? Quando aconteceu o acidente no Metrô, no início do ano, cogitou-se fechar todas as estações? Não. A questão da transferência de vôos não-comerciais para o Campo de Marte também não pode acontecer da noite para o dia. Temos de negociar.”

CRISE

“O acidente foi uma fatalidade. Não vejo crise no setor. Há, sim, um movimento muito grande. Overbooking, também. O acidente, às vezes, parece uma coisa ruim, mas temos de pensar com a cabeça fria e ver como algo que pode ser usado como lição. Isso serve para ajudar que problemas como este não se repitam.

Minha preocupação não é com esse momento, mas com 2010, quando o crescimento atingirá outro patamar. O movimento cresce cerca de 8% ao ano. O transporte de cargas cresce mais: cerca de 18% ao ano. Com o setor de automóveis, nos anos de 1970, aconteceu a mesma coisa.”

CONTRAMÃO

“Antes de pensarmos em construir outros aeroportos, temos de otimizar os que temos. Investir na ampliação de Guarulhos e otimizar os de São José dos Campos e Viracopos. No de Campinas são precisos R$ 157 milhões para desapropriações e mais R$ 500 milhões para construção da pista e interligação com a atual. O total, até 2025, passa de R$ 2 bilhões. Com esse projeto, Viracopos poderá atender 70 milhões de passageiros ao ano para vôos internacionais. Não seria preciso outro.”

PRIVATIZAÇÃO“Seria uma ótima saída. Temos 67 aeroportos, mas apenas oito são rentáveis. Se você abrisse o capital da Infraero, o que não seria privatizar, já seria uma bela injeção de dinheiro para investimentos. Recebo cerca de dez a quinze pessoas, por dia, na minha sala interessadas na privatização. A previsão para o término do terceiro terminal de Guarulhos é de 4 anos. Por que não adiantar? Não tem dinheiro? A iniciativa privada tem. A estrutura do País requer modernização.”



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