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O presente de Natal? Dias melhores

Pedido é de quem não tem fartura e benefícios típicos
da data; para muitos, ocasião é só mais um dia normal

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
25/12/2016 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


 Quando se fala em Natal, além do nascimento de Jesus para os cristãos, o que vem à cabeça é a tradicional cena da família reunida em volta de mesa farta, além da troca de presentes. No entanto, parcela significativa de moradores das sete cidades não tem oportunidade de desfrutar de celebração na companhia de familiares, tampouco da abundância de alimentos ou de mimos. Para essas pessoas, a festa ocidental é apenas mais um dia comum.

Elenir Laurice Elias Valentim, 72 anos, vive sozinha em humilde casa de três cômodos na Vila Moraes, em São Bernardo. As companhias diárias da dona de casa são as bonecas que ela coleciona. Itens que, quando criança, não teve a oportunidade de ter. “Desde os 7 anos eu trabalhava abrindo poço com meu pai e ele não me deixava brincar. Fui ter boneca depois de velha”, conta.

Dos dois filhos que teve, apenas um está vivo e ela não vê há mais de dez anos. “Ele mora no Mato Grosso e manda recado dizendo que não esqueceu de mim e que virá me ver quando tiver condições”, diz dona Elenir. Um irmão, que mora em Embu-Guaçu, na Região Metropolitana, a visita também quando pode.

Com a saúde debilitada por problemas na tireoide, dona Elenir afirma que se acostumou à solidão, mas confessa que, às vezes, bate tristeza. “Aí, fico quieta e passa tudo”, revela. Uma forma de se distrair é sair diariamente em busca de latas de alumínio descartadas. Com a venda dos itens para reciclagem, ela consegue dinheiro para complementar a aposentadoria e permitir a compra de alimentos básicos, além dos variados remédios. Hoje, inclusive, a idosa pretende passar o Natal à procura de latinhas usadas. O presente que ela deseja ganhar nesta data não é material. “Quero ter saúde, pois quem tem isso tem tudo na vida.”

ESPERANÇA

A difícil situação enfrentada ano a ano pela família de Alexandra Araújo da Silva de Souza, 38, do Parque Miami, em Santo André, agravou-se com o desemprego que atingiu os chefes da casa neste ano. O casal e cinco filhos (o sexto, mais velho, de 22, mora com a avó paterna, no mesmo bairro) vivem com R$ 1.760 por mês. Parte da verba vem do seguro-desemprego de Alexandra (que acaba em fevereiro) e outra parcela, da pensão que a mãe recebe em razão da morte da filha, que partiu em 2013, aos 19, vítima de tumor no cérebro.

“Com o dinheiro, compro bastante arroz, feijão, óleo, açúcar, leite e fraldas (para o caçula, de 10 meses). Mistura, só quando dá. Se quebra um chinelo, põe prego. Se corta o cabelo de um filho, o outro tem de esperar mais um pouco”, relata Alexandra.

Diferentemente de grande parte das crianças e adolescentes que hoje tem oportunidade de abrir seus presentes de Natal, os filhos de Alexandra fazem ‘bicos’ para comprar o que desejam. Gabriele, 12, cuida do filho de uma vizinha. Nicolas, 17, busca crianças no ponto de ônibus na volta da escola. “Com o dinheiro que recebem, eles compram roupas e sapatos. Dói não ter condições de dar as coisas, mas é o mundo em que a gente vive”, desabafa a mãe.

Entre os principais desejos natalinos da matriarca estão emprego para ela, para o marido e para o filho primogênito, além do conserto do telhado de sua casa tendo em vista que a residência alaga quando chove. “A gente levanta todo dia acreditando que amanhã será melhor do que hoje”, confia Alexandra.

O Natal da família Souza não tem ceia, nem presentes, mas conta com a essência da data: a união. “Não é só nesta época do ano que a gente deve estar junto. A paz com o próximo deve ser todo dia”, destaca a matriarca.

“Não temos condições de comprar nem um frango para cear”, lamenta a auxiliar de limpeza Maria Ivoneide Gomes de Souza, 47, moradora do Jardim Oratório, em Mauá. Se não há verba para a ceia, menos ainda para presentear as crianças. No entanto, os pequenos já compreendem. Uma das netas, Milena, 8, diz que não fica triste com a situação. “Sei que um dia vou ganhar. Se eu pedir para Deus Ele me ajuda”, crê.

Já por parte dos adultos, o principal pedido ao Bom Velhinho está relacionado a melhores condições de vida. Isso porque o barraco que pertencia a Maria Ivoneide, de apenas três cômodos, ela cedeu para duas filhas, um genro (o único que está trabalhando, no momento) e cinco netos. A auxiliar de limpeza se instalou em outro cômodo nas proximidades, para continuar ao lado do clã.




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