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Vilã fora dos padrões
André Bernardo
Da TV Press
22/05/2005 | 10:21
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Camila Morgado é a primeira a admitir que sua beleza é um tanto exótica, fora dos padrões televisivos vigentes que privilegiam popozudas e siliconadas. A intérprete da May, de América, na Globo, ainda ostenta um vozeirão grave que parece não combinar com o rosto suave, de menina. Mas combina. Prova disso é que, apesar da beleza pouco convencional, ou talvez por causa dela, causou furor em sua estréia na TV, como a enigmática Manuela de A Casa das Sete Mulheres, em 2003. “Houve uma época em que achei que não daria certo como atriz. Certa vez, fui fazer um teste e ouvi: Sua voz é grossa e não combina com seu tipo físico’. Comecei a suspeitar de que estava no caminho errado”, diz.

Camila, porém, não desistiu da profissão. E nem Jayme Monjardim deixaria. Diretor de A Casa das Sete Mulheres, foi ele também quem a convidou para protagonizar Olga no cinema e a fazer sua primeira novela na televisão, América, de Glória Perez. Por essas e outras, Camila arregala os hipnóticos olhos azuis ao dizer que levou um baque ao saber que Jayme pediu desligamento – ou foi desligado pela própria autora – do comando da novela. “Levei um susto danado. Aliás, todos levaram. Mas o meu foi maior porque foi ele que me trouxe até aqui”, diz.

Mas Camila já tem maturidade suficiente para caminhar com as próprias pernas. Mesmo abalada com a ausência do diretor, não deixa esmorecer o entusiasmo ao falar de sua primeira experiência em novelas. E de sua primeira vilã, a autoritária Miss May. Para convencer no papel de megera, recorreu a dois de seus atores prediletos: Bette Davis e Peter Sellers. “Eles me inspiram em qualquer ocasião”.

PERGUNTA: América é a sua primeira novela. Com pouco mais de dois meses no ar, o que mais tem chamado a sua atenção no gênero?

CAMILA MORGADO: Só agora comecei a entender porque chamam novela de obra aberta. Quando comecei a gravar, sabia que faria uma ceramista. Sabia também que a minha personagem ensinaria artes para alunos de uma escola em Miami. Entre outras coisas, caberia a ela avaliar se algum deles tinha vocação artística. Pois bem, já estamos com dois meses de novela e só tive duas ceninhas com cerâmica (risos). Só estou citando esse exemplo para mostrar o quanto é engraçado fazer novela. Em outras palavras, não dá muito para fixar o que quer que seja. E olha que, antes de a novela começar, estudei cerâmica por uns quatro meses. Aprendi a mexer com torno, argila, essas coisas.

PERGUNTA: Mas o fato de novela ser uma obra aberta é bom ou ruim? Instiga a curiosidade do ator ou atrapalha o processo de criação?

CAMILA MORGADO: As duas coisas. O lado bom é que estou aprendendo muito com tudo o que tem acontecido. Aprendi a ser mais flexível com a personagem e a relaxar mais em cena. Não dá para criar pequenos detalhes que, para a câmera, não têm tanta importância. Percebi também que só vou descobrir inteiramente a personagem à medida em que receber os capítulos. Mas tem também o lado ruim. Porque sou muito ansiosa, sabe? Sempre me pergunto: ‘Meu Deus, será que estou no caminho certo? Será que não estou? Onde será que isso vai dar?. Preciso administrar melhor a minha ansiedade (risos).

PERGUNTA: Você estreou como protagonista na TV e, em seguida, também no cinema, no filme Olga. Em nenhum momento ficou temerosa de o sucesso subir à cabeça?

CAMILA MORGADO: Não. Mas eu sei o quanto o sucesso é perigoso. É um campo... não vou dizer minado, mas quase minado. Você tem de manter os olhos bem abertos para prestar atenção a tudo o que acontece ao seu redor. Algumas coisas mudam sim. O jeito como as pessoas tratam você, por exemplo. Você só tem de tomar cuidado com esses pequenos detalhes: acreditar que nem tudo é verdade. Eu não acredito, vamos dizer assim, nos elogios. Veja bem, não quero que isso soe mal, mas é preciso manter os pés no chão. Isso é um processo diário porque essa profissão trabalha com a vaidade e, se você não tomar cuidado, pode pirar.

PERGUNTA: O que está achando de interpretar uma vilã, depois de despontar com duas heroínas, uma na TV e outra no cinema?

CAMILA MORGADO: Maravilhoso. Como televisão, às vezes, pode ser um tanto cruel por rotular os atores, considero um privilégio estar interpretando uma vilã. Todo ator, por natureza, é camaleônico, pode fazer o que quiser. E como televisão fixa muito a imagem de determinados atores, estou levantando as mãos para o céu por terem me chamado para fazer a má, a preconceituosa, a autoritária porque, a partir daí, posso construir uma carreira na televisão. Amanhã ou depois, o público pode avaliar o meu trabalho e pensar: ‘Puxa, ela sabe fazer isso, mas sabe também fazer aquilo’ . Só espero desempenhar bem o meu papel.




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