Setecidades Titulo Solidariedade
Iniciativa oferece alimentos à
população de rua em Santo André

Local conta com geladeira, microondas, arara de roupas e materiais de higiene; vaquinha arrecada fundos para instituições

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
27/03/2020 | 12:26
Compartilhar notícia
Nario Barbosa/DGABC


Um local com geladeira abastecida com sopa e alimentos que podem ser consumidos frios, como sucos, frutas e bolachas. Um microondas para aquecer o que é melhor ser consumido quente. Uma arara com roupas e produtos de higiene à disposição de quem vive na rua. Pessoas que não só estão mais expostas à contaminação pelo novo coronavírus, como também com uma escassez ainda maior de tudo que precisam. Esse ponto solidário existe e funciona desde a última segunda-feira, na Rua Javri, 449, na Vila Assunção, em Santo André. O espaço está aberto todos os dias, das 9h às 20 horas, tanto para receber doações, quanto para a retirada dos produtos pela população em situação de rua, e foi criado pela cabeleireira Gisele Capelli, 35 anos.

Gisele mora em frente ao local onde o ponto solidário está montado e, do outro lado da rua, orienta tanto quem chega para entregar doações, quanto quem chega para retirá-las. “Peço que escolham e saiam, para não ter aglomeração. É incrível ver como realmente só pegam o que precisam, são solidários. Temos pessoas vindo à pé de Mauá para cá. Sabemos que essa população pode morrer mais pela fome do que pela doença”, lamentou.

A munícipe lidera o projeto Anjos da Sopa, que há cinco anos distribui, uma vez por semana, alimentação para pessoas que estão nas ruas, nas cidades de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Mauá e na zona leste de São Paulo. Os 54 voluntários produziam e entregavam 600 refeições, mas com o avanço da pandemia da Covid-19, Gisele começou a se preocupar tanto com os voluntários, a maioria idosos e/ou em grupos de risco para a doença, quanto com a falta de assistência para essa população.

“Conheço a realidade dessas pessoas e estava perdendo o sono. Na semana passada já havia pedido aos voluntários que integram o grupo de risco que não viessem preparar a sopa. Fizemos tudo apenas em cinco pessoas e saímos deixando as sacolas com alimento, suco e colher nos pontos onde já estamos acostumados a visitar. Colocamos na calçada, com uma distância segura entre os kits, as pessoas pegaram e se dispersaram”, relatou.

A ideia de colocar a geladeira na garagem onde funcionava o seu salão veio após mais uma noite insone. “Entendo que tenho sido instrumento de Deus. É ele quem me inspira e digo isso porque não quero qualquer tipo de mérito ou reconhecimento”, declarou. Mas é impossível não se emocionar ou elogiar a iniciativa de Gisele. “Tenho mantido contato com pelo menos 11 instituições assistenciais e todas estão precisando de doações e recursos, porque muitos perderam os voluntários e os donativos por conta das medidas de isolamento. Então montamos uma vaquinha virtual para que ninguém fique totalmente desamparado nesse momento”, explicou. O link para contribuições é http://vaka.me/958962.

Essa semana, Gisele conseguiu intermediar uma grande doação de legumes da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), que também tem registrado queda nas vendas. “Montei uma lista de transmissão pelo whatsapp e consegui contatar diversas entidades. Nessa sexta-feira todas vão buscar as doações e isso mostra que a gente pode se articular e manter o distanciamento”, afirmou.

A cabeleireira mantinha o Anjos da Sopa com o dinheiro arrecadado pelo salão e algumas doações, mas o estabelecimento está fechado. “Por isso a gente precisa de toda ajuda possível. Antes de ter a arara e a geladeira comecei colocando caixotes, as pessoas podem pendurar kits para os moradores de rua nos seus portões. Nós somos capazes de fazer muito pelos outros”, concluiu. Gisele reforça que a contribuição para a vaquinha e a doação de alimentos e itens de higiene é que eles mais precisam no momento.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;