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OAB denuncia ataque racista ao MP
Bruno Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
22/11/2006 | 22:21
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A Caad (Comissão de Advogados para a Afro-Descendência) da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) deve protocolar até o final desta semana no Ministério Público Estadual uma representação por conta do ataque ao salão de beleza afro Casa 5, do Centro de Santo André, que foi pichado com inscrições racistas e nazistas na madrugada de terça-feira. A medida visa agilizar a mobilização do MP para identificar e punir os responsáveis pelos atos de vandalismo.

Segundo o advogado Helton Fesan, membro do Caad, o MP passa a agir a partir do momento em que há uma denúncia ao órgão. “Legalmente, o MP investiga depois que a queixa é apresentada. Geralmente, a denúncia é feita pela polícia quando ela termina o inquérito policial. Mas decidimos entregar esse representação também”, explica. O advogado disse que o texto só não foi entregue ainda porque está em fase de preparação.

O boletim de ocorrência aberto pela proprietária do salão de beleza, Vera Lúcia dos Santos Rosa, gerou um inquérito no 1º Departamento Policial de Santo André, que foi instaurado quarta-feira.

O delegado-titular do DP, Fábio Dal Mas, ainda não sabe se existem testemunhas da ação. “Instaurei inquérito hoje, amigo. Ainda não ouvi ninguém”, disse o delegado. Terça-feira o delegado plantonista que registrou a ocorrência, Fabiano Vieira da Silva, disse que entraria no site da internet pichado nos muros do salão para tentar identificar os responsáveis. “A gente sente uma certa morosidade da polícia. Eles nos passam a sensação de que tem mais o que fazer ao invés de cuidar de um caso como esse. A pergunta é o que será preciso acontecer para que a polícia se mexa?Um negro ser pregado num poste em praça pública?” argumentou o advogado Helton Fesan. Os sites dos grupos neonazistas na internet continuavam no ar na tarde de quarta-feira.

Intolerância – Santo André, cidade palco do ataque, possui um departamento para políticas de minorias. A assessora política do NPGRGPD (Núcleo de Políticas de Gênero, Raça, Geração e Pessoas com Deficiência) da Prefeitura, Cristiana Batista, acredita que o ataque de terça-feira não é um caso isolado de Santo André, e preocupa-se com a revolta e a intolerância pelo fato dos negros conseguirem um feriado (o Dia da Consciência Negra, comemorado no dia do ataque ao salão). “Não é para chocar tanto. É um dia de luta pelas nossas conquistas. Não é feriado porque negro não gosta de trabalhar”, afirmou, referindo-se ao panfleto deixado no salão de beleza no momento do ataque. O panfleto mostra um negro deitado embaixo de uma árvore, com dizeres preconceituosos e críticas ao Dia da Consciência Negra.

O advogado Fesan disse que houve resistência de comerciantes da avenida Coronel Oliveira Lima em fechar durante o feriado. “Tivemos que panfletar no calçadão para explicar aos comerciários que, se trabalhassem, teriam que receber o adicional de feriado”, explicou. Sem fazer acusações diretas, ele disse que a Casa 5 ficou visada pelos comerciantes por conta dessas ações.

Calma – Passado o susto inicial, a proprietária da Casa 5, Vera Lúcia dos Santos Rosa preocupou-se em limpar a fachada do salão atacado ainda na tarde de terça-feira. As suásticas nazistas nas portas e janelas, bem como as frases racistas e os endereços eletrônicos de grupos de intolerância já foram apagados, dando lugar às cores originais do salão.

Além do salão de beleza voltado a mulheres negras, a casa é usada por militantes de movimentos afros de Santo André, como o Negras Sim.

O clima quarta-feira no comércio foi de tranqüilidade. “Eu recebi telefonemas de apoio, muita gente se solidarizou comigo”, disse Vera Lúcia. Ela contou que não recebeu nenhuma ameaça após a descoberta das pichações.



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