Economia Titulo Benefício
Aposentadoria acumula alta menor do que inflação

Em 17 anos, preços subiram 303% e salário de idoso só 239%

Vinicius Gorczeski
15/01/2012 | 06:58
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Judite Azevedo, 74 anos, se aposentou em 1985 com três salários-mínimos. O marido da andreense, que morreu nesse mesmo ano, havia planejado a contribuição à Previdência. Ele disse a ela: "Não sabemos quem vai partir primeiro. Então, contribuindo dessa forma, você ficará com um bom salário". Não foi assim. Hoje, Judite amarga a corrosão de sua renda para o piso, R$ 545 vigentes (R$ 622 a partir de fevereiro). Suas despesas mensais, entre elas aluguel de R$ 142, são o destino do dinheiro. Sobra, em média, R$ 50, mas não raro ela passa o mês com R$ 20.

"Não compro nada para mim. Mas graças a Deus tenho meus filhos. Eles me ajudam bastante, além dos sobrinhos. Porque senão teria que ficar com a Saúde pública", teme dona Judite, cujo lema é pagar todas as despesas primeiro. Se sobrar é lucro.

A situação da aposentada é a mesma de centenas de outros beneficiários da Previdência, que recebem acima do piso e viram seu poder de compra despencar nos últimos anos.

Apesar de a inflação do idoso ter registrado baixa pela primeira vez em oito anos em 2011 (6,19%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade, da FGV), a realidade dessa população é amarga. De 1995 até dezembro, a correção da aposentadoria, calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor, acumula alta de 239,86%. Número que não acompanha o custo de vida da terceira idade. Nesses 17 anos, o IPC-3i subiu 303,98%.

O professor do Instituto de Economia da Unicamp Giuliano Contento de Oliveira explica que a carbonização da renda é resultado da política de reajustes adotada pela Previdência Social. "Isso faz com que os benefícios convirjam para o mínimo em função dos diferentes indicadores de correção inflacionários."

Para Giuliano, uma coalizão entre os aposentados a fim de pleitear alterações nesses cálculos seria alternativa. Especialmente em cenário em que a perda progressiva dos benefícios é dada como certa.

Em meio ao fogo cruzado, em que governo defende rombos na Previdência como forma de não conceder aumento real aos beneficiários - de janeiro a novembro o deficit somou R$ 41,2 bilhões no País -, Oliveira destaca que o problema precisa ser analisado pelo conjunto, além da necessidade de se redesenhar as prioridades econômicas.

No topo da hierarquia orçamentária deveriam ficar idosos e crianças. Não temos observado isso." Há ainda o argumento da baixa qualidade nos serviços públicos, que vem de longa data. "Estamos caindo; serão mais 300 mil recebendo o mínimo neste ano e vai chegar ao ponto de decidirmos: ou comemos ou pagamos convênio médico", reclama o diretor da Associação dos Aposentados e Pensionistas do Grande ABC, Luis Antônio Rodrigues.

Associação promete processo contra reajuste até o dia 19

O diretor da Associação dos Aposentados Luis Rodrigues, dará entrada em processo contra o reajuste de 6,08% a quem ganha acima de um salário-mínimo até o dia 19. Para ele, o valor é incompatível com a Constituição.

A provável data de avalização do pedido se dá porque na próxima terça-feira haverá plenária entre a Federação dos Aposentados e Pensionistas do Estado e demais órgãos representativos. A ideia é levar o projeto, aprovado na entidade regional na sexta-feira, às demais, para que engrossem o movimento contra o projeto.

"Queremos fazer esse engajamento para poder pressionar a Presidência sobre o atual salário", sustenta Rodrigues. Para ele, o valor mínimo do benefício deveria ser de R$ 2.500, para atender a todas as despesas dos idosos. Além disso, ele pressionou a Justiça para que decisa a favor dos idosos. "Os juízos não podem atender aos interesses do Executivo, e sim o da sociedade."




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