Adversários políticos inflexíveis nos últimos anos, os deputados estaduais Alex Manente (PPS) e Orlando Morando (PSDB) estão imbuídos em ao menos um objetivo: alterar a lei que obriga os vendedores de todo o Estado de São Paulo a comercializar a banana por peso.

A intenção dos parlamentares é flexibilizar a medida, colocando a possibilidade de o consumidor escolher se compra o fruto por dúzia, como ocorre geralmente na maioria dos estabelecimentos comerciais, ou se por quilo, como propõe a legislação que entrará em vigor a partir do dia 16 de setembro.

O objetivo da norma é padronizar a cadeia produtiva do produto, para que a cobrança por peso ocorra desde a produção, passando pelo revendedor, até o consumidor.

Morando e Manente participaram de reuniões distintas com feirantes do Grande ABC e Capital, os quais reclamaram da nova lei observando que a venda de banana por peso acarretaria em concorrência injusta com redes de supermercados, que compram em maior escala e, com isso, negociam preços mais acessíveis para revenda.

Mas as coincidências entre os deputados param por aí. Eles apresentaram projetos diferentes para alterar a redação da lei. E as distinções geraram ainda uma pequena troca de farpas entre os políticos.

Enquanto a sugestão de Morando é autorizar as feiras livres e sacolões públicos a também comercializarem a banana por dúzia, a proposta de Manente é facultar ao consumidor a opção de adquirir o alimento por quantidade ou por quilo em qualquer estabelecimento.

"Meu projeto é mais completo, pois abrange todos os locais, beneficiando o consumidor", cutucou o popular-socialista. "Os supermercados já trabalham há muito tempo de acordo com a lei que será aplicada", discorreu o tucano.

Produtores elogiam e comerciantes reclamam da mudança
A Abavar (Associação dos Bananicultores do Vale do Ribeira) estima que o preço da banana para o consumidor caia de 20% a 30% com a venda por quilo, inclusive com melhora da qualidade. Entretanto, os comerciantes da região argumentam que haverá aumento.

Em um supermercado da região, o quilo da banana prata era vendido por R$ 2,59 na semana passada. Por essa quantia fixada, uma dúzia de unidades custou R$ 2,76, ou seja, R$ 0,23 por banana. Em uma barraca de feira, o mesmo tipo do produto - inclusive com tamanho equivalente - saía por R$ 2,50 as mesmas 12 bananas, ou R$ 0,20 cada uma.

Proprietária de uma quitanda em São Bernardo, Mélia dos Reis vende o produto por quilo. Apesar de dizer que o consumidor já se acostumou, analisa que era melhor comercializar por quantidade. "Por dúzia o freguês escolhe as maiores, mais bonitas, sai mais satisfeito e vendemos mais."

O feirante de São Caetano Marcelo Damasceno ressalta que o preço na barraca pode subir se a banana for vendida por quilo. "Não compramos por peso. Não faz sentido essa lei."

Projeto inicial teve apoio dos dois parlamentares

O projeto de lei que propôs a mudança no formato da comercialização da banana em território paulista é de autoria do deputado Samuel Moreira (PSDB) e foi aprovado em junho do ano passado. Na oportunidade, tanto Orlando Morando (PSDB) quanto Alex Manente (PPS) votaram a favor da matéria.

Agora, um ano depois de serem a favor da venda do produto por quilo, já não estão mais tão convictos assim. "À época da apreciação não havia um movimento contrário como existe agora. E também não dá para fazer audiência pública sobre todas as proposituras que tramitam na Casa", justificou Orlando.

"Nós não tínhamos conhecimento de como afetaria exatamente os comerciantes. Eles nos procuraram somente agora e buscaremos as alternativas para aperfeiçoar a proposta", observou Alex.

Sobre a apresentação de dois projetos separados, sendo que uma matéria conjunta ganharia mais força, os parlamentares tentam evitar a competitividade. "Para mim não é problema apoiar uma ou outra iniciativa. O beneficiado tem de ser o consumidor", avaliou o popular-socialista. "Só soube do projeto dele depois que apresentei o meu", frisou o tucano.

Entretanto, a evidente rivalidade entre os deputados de São Bernardo perdurará até a eleição do ano que vem, quando os dois devem buscar a reeleição. Enquanto isso, fora da polarização, a outra parlamentar da cidade, Ana do Carmo (PT), continua o trabalho junto à periferia para conquistar novamente a vaga na Assembleia.

Em todo o Estado, a plantação de banana abrange 60 mil hectares, sendo 40 deles no Vale do Ribeira (no Sul de São Paulo, onde há 4.000 produtores).

Políticos já foram aliados e hoje estão em lados opostos

Os deputados que em 2010 disputarão os votos dos eleitores paulistas para obterem mais um mandato na Assembleia Legislativa têm trajetórias políticas semelhantes. Jovens, iniciaram cedo a carreira política e passaram pela Câmara de São Bernardo antes de garantir assento no parlamento estadual.

Orlando Morando, 34 anos, e Alex Manente, 28, inclusive, fizeram parte do mesmo grupo político, de apoio à administração de William Dib (PSB- 2002 a 2006) à frente da Prefeitura.

Com a dissidência de Morando para lançar candidatura a deputado em 2006, os dois se separaram e hoje travam duelo político, partidário e ideológico. O auge da disputa ocorreu no ano passado, durante a eleição para o Paço. Os dois foram adversários diretos e trocaram acusações. Fora do páreo no segundo turno, Manente apoiou Luiz Marinho.

Hoje, também integram a mesma base de apoio ao governador José Serra (PSDB). Mas cada um do seu lado, como devem permanecer nas próximas eleições.