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Projeto de alfabetização para idosos pede socorro

Iniciativa de associação de Mauá já auxiliou 450 pessoas, mas está paralisada por falta de verba

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
19/02/2018 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Atualização mais recente dos indicadores municipais de Educação apurados pelo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano) indica que a taxa de analfabetismo na região era inferior a 3% em 2015. E, de lá para cá, esse percentual deve ter sido reduzido ainda mais graças a projeto desenvolvido pela Associação Comunitária Educacional Cícera Tereza dos Santos, no Jardim Itapark Novo, em Mauá.

Por sala de aula improvisada na casa do jovem José Alex Trajano dos Santos, 23 anos, já passaram, desde 2009, pelo menos 450 pessoas, a maioria delas com mais de 60 anos e que chegaram lá sem saber ler nem escrever. “Iniciei o trabalho aos 14 anos, após observar que em minha comunidade havia muitas pessoas que não sabiam ao menos assinar o próprio nome. Nunca é tarde para voltar a estudar”, defende ele, que concluirá, neste ano, curso de Pedagogia.

Foi aos 81 anos que a dona de casa Santa Gomes Menezes, hoje com 83, teve sua vida transformada, após aprender a ler e a escrever. Nascida em Minas Gerais, não frequentou a escola que, naquela época, “era só para coronéis”. “O estudo é muito importante. A pessoa que não sabe nada é como se fosse cega”, exemplifica.

Nem a distância tira de Maria Anunciada de Lima, 65, o desejo de estudar. Para chegar até a associação, ela, que mora no Jardim Ipê, precisa utilizar dois ônibus. “Morei em Goiás, no meio do mato, nem ouvia falar de professor”, lembra. Há um ano, entrou pela primeira vez em uma sala de aula. “Passava vergonha por não saber nada. Já aprendi bem”, orgulha-se.

O entusiasmo dos alunos, porém, dá lugar à tristeza. Até hoje Santos manteve o trabalho com recursos próprios, no entanto, agora enfrenta dificuldade financeira para dar continuidade a ele. As aulas ainda não foram iniciadas. Para manter duas turmas, totalizando 30 alunos, ele necessita de R$ 1.800 mensais ao custeio de materiais e despesas como água, luz e lanches para os alunos. “A gente fica triste por não saber se terá mais essa sala de aula. Queria muito que continuasse para que outras pessoas pudessem aprender, como eu aprendi”, diz Valmir dos Santos Lima, 47.

A coordenadora do curso de Pedagogia EAD (Educação a Distância) da Universidade Metodista, Silvia Perrone Freitas, destaca a importância da execução de trabalhos como este. “Aprender a ler e a escrever é uma necessidade de inclusão social. Deve haver incentivo e políticas públicas que deem conta dessa defasagem que existe.”

Na região, a rede municipal de Educação oferece o EJA (Educação de Jovens e Adultos). Neste ano, dos 468 alunos matriculados em duas cidades (São Caetano e Ribeirão Pires), 52 têm mais de 60 anos. Em Santo André, 7,4% do total de matriculados em 2017 eram dessa faixa etária. Em São Bernardo, as aulas começaram na quinta-feira. 




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