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Conversa na Varanda – Turismo e tráfico sexual
Por Regina Navarro Lins
Especial para o Diário
30/03/2008 | 07:04
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O Brasil está entre as principais rotas de turismo sexual e tráfico internacional de mulheres. Meninas, jovens e adultas não-brancas, especialmente das regiões Norte e Nordeste do País, são as principais vítimas desse negócio. A manipulação da identidade cultural, étnica e racial das mulheres é elemento constitutivo do sexy marketing, que dá suporte ao aliciamento e a exploração sexual. O País entrou na rota do turismo sexual nas décadas de 1980/1990. O Nordeste brasileiro rapidamente se tornou um dos paraísos mundiais dessa máfia. O tráfico sexual de mulheres e meninas é responsável por cerca de um milhão de vítimas anuais e é a terceira maior fonte de renda ilegal, ficando atrás apenas de drogas e armas. Sua receita anual é de US$ 7 bilhões a US$ 12 bilhões.

A rede delituosa inclui caminhoneiros, motoristas de táxi, donos de bares e boates, policiais, agências de turismo, hotéis, agências de modelos e shopping centers. As formas mais comuns de aliciamento são falsas agências de empregos para crianças em casas de família, lanchonetes e restaurantes. As promessas são de escola e salário. O ganho das meninas exploradas sexualmente é muito reduzido. Uma porcentagem alta vai para quem as explora e para a sua própria manutenção.

O turismo sexual cresce, em todo o chamado mundo periférico. Ele se caracteriza pela clientela de homens com poder aquisitivo e gosto pela prostituição, que viaja em busca de mulheres. O roteiro inclui países da Ásia, África e América Central e do Sul.

Os turistas motivados sexualmente se interessam em especial por culturas exóticas. No início do século 20, turistas gays da Europa e dos Estados Unidos costumavam contratar meninos árabes no Norte da África. André Gide (França,1869-1951) expõe a obsessão européia por corpos árabes em seus livros. Atualmente, Bangcoc se tornou a capital global do sexo para homens homo e hetero. Na maioria das vezes os turistas são oriundos dos antigos países imperialistas e neo-imperialistas e seus destinos são as ex-colônias. Os turistas japoneses, por exemplo, preferem os paraísos sexuais em Taiwan e de outros países do Sudeste asiático.

Na arena do sexo inter-racial, o orientalismo, a prostituição e as relações de poder desiguais se misturam. Muitos países pobres são destinos perfeitos para o turismo sexual, já que podem não ter uma lei rígida a respeito. Por isso, turistas ricos, incluindo os adeptos da pedofilia, gozam mais de serviços sexuais acessíveis durante suas viagens do que em seus próprios países.

Toda uma indústria se estruturou em torno desse comércio. O governo brasileiro lançou, em 2005, a campanha Brasil, Quem Ama Protege, de combate ao turismo sexual. O objetivo é conscientizar o turista de que ele é um agente protetor da infância. A campanha é permanente e não se restringe ao período do verão.

“A campanha não tem a única finalidade de dissuadir o estrangeiro dessa prática (exploração sexual), mesmo porque ela não se dá só por estrangeiros. Com relação a esses, as ações são bem mais profundas, no sentido de que temos toda uma estrutura, por meio dos escritórios de promoção do Brasil e das nossas representações no Exterior, trabalhando na origem, junto aos operadores de turismo estrangeiros, para dissuadi-los de trazerem pessoas para essa prática no Brasil, por estarmos com uma política forte de repressão e de combate”, informou à mídia, durante o lançamento da campanha, o representante do Brasil na Organização Mundial do Turismo sobre Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, Sidney Alves Costa.

ONGs (Organizações Não-Governamentais) que trabalham no combate ao turismo sexual denunciaram as organizações criminosas por trás do comércio de meninas em Fortaleza, Ceará. Os italianos são os mais apontados como usuários da prostituição no Nordeste do Brasil. Tailândia, Filipinas e Brasil representam 10% do turismo sexual em todo o mundo.

Os crimes de natureza sexual são, claramente, resultado de dois fatores, segundo estudiosos do tema: a miséria da ignorância e a repressão sexual. A primeira causa atua sobre as classes excluídas, e a segunda age nos demais segmentos. As soluções são igualmente difíceis, mas educar depende apenas de dinheiro e vontade política, ao passo que a mentalidade repressiva só pode ser anulada com muitos anos de conscientização. É uma luta para muitas gerações.

Regina Navarro Lins, psicanalista e sexóloga, é autora de O Livro de Ouro do Sexo (Ediouro). E-mail para a coluna: rlnl@uol.com.br. Site: www.camanarede.com.br



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