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Comerciantes ‘fogem’ dos cheques na região
Por William Glauber
Do Diário do Grande ABC
26/02/2006 | 08:27
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Dispostas em pontos estratégicos de lojas de ruas populares do Grande ABC, placas informativas dão o recado de forma clara e incisiva: “Não aceitamos cheques. Não insista, por favor”. Para fugir de altas taxas de inadimplência decorrentes da emissão de cheques sem fundos, comerciantes da região passam progressivamente a rejeitar essa modalidade de pagamento, tanto à vista como a prazo. Alguns clientes reclamam, mas boa parte, sem alternativa, aceita as restrições.

A alta taxa de inadimplência justifica a medida de lojistas da região. Levantamento realizado pela Telecheque – empresa de verificação e garantia de cheques – aponta que a cada 100 cheques apresentados no país em janeiro, 2,18 foram devolvidos por falta de fundos. O crescimento é de 18,47% em relação ao mesmo mês do ano passado (1,84 a cada 100).

Embora não existam dados que dimensionem a recusa do cheque como forma de pagamento, associações comerciais da região apostam na substituição das folhas dos talões por dinheiro de plástico. A Aciam (Associação Comercial e Empresarial de Mauá), por exemplo, estima que até 10% dos comerciantes já rejeitem cheques.

A Fecomercio (Federação do Comércio do Estado de São Paulo) também aponta para o crescimento do número de comerciantes que negam o cheque. “Com certeza, isso é uma tendência. Vemos hoje lojas com as placas nas portas. Mesmo com critério e análise de crédito, o comerciante pode ficar sem receber pela mercadoria”, conta a assessora econômica Kelly Carvalho.

O perfil dos lojistas que partiram para a decisão radical – extermínio dos cheques – repete-se nos centros comerciais das principais cidades da região. Em Santo André, São Bernardo e Diadema, sobretudo os pequenos comerciantes deixaram de aceitar cheque e passam, paralelamente, a incentivar os pagamentos com cartões de crédito ou débito.

Segundo o Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor), os lojistas podem recusar cheques, mas uma placa deve informar a decisão ao cliente – de acordo com norma do Banco Central, o comércio não tem obrigação de aceitar outras formas de pagamento além de moeda corrente. Comerciantes contam que alguns clientes protestam, se indignam e ameaçam com ações judiciais. No entanto, cabe somente ao proprietário do ponto comercial estabelecer instrumentos para a concessão de crédito.

Prejuízo – Sem encontrar alternativas para contornar as altas taxas de devolução de cheques sem fundos e fraudados (clonados, adulterados ou falsificados), há quatro meses a gerência da Boing Modas, em Santo André, radicalizou a relação com os clientes, após prejuízo de mais de R$ 3 mil em outubro. Compras, só com dinheiro ou cartão de crédito ou débito.

Antes da medida, a gerente Lucimara Souza conta que a loja recorria a diversos expedientes para tentar evitar as perdas de faturamento. “Aceitávamos cheques só com mais de cinco anos de conta aberta, mas, mesmo assim, continuávamos a ter problemas com devolução.”

Com a mesma preocupação, Natalício Ribeiro Júnior, proprietário do Ribeiro Utilidades, loja de R$ 1,99 de São Bernardo, deixou de receber cheques há cinco meses. “Tenho advogado que faz cobrança e a gente não recebe, e veja que não são cheques de valores altos”, reclama o comerciante. “Hoje, preferimos o cartão por ser mais seguro e também viável.”

Ribeiro ressalta os cartões como instrumento para coibir a inadimplência. Mesmo com pagamento de taxa de manutenção do equipamento e cobrança de percentual efetuada por banco e bandeira (Visa, Mastercard, RedeShop, entre outros) sobre a movimentação financeira, o empresário ainda prefere o dinheiro de plástico. “A taxa na contratação do serviço foi alta, mas, com o tempo negociamos. Hoje pagamos 2% para débito e 3,5% para crédito”, diz.

Em Diadema, a precaução também prevalece. Diversos lojistas do Centro passaram a rejeitar cheques, e a principal justificativa está relacionada à inadimplência. O Bazar Diadema, por exemplo, comércio de papelaria, trabalha apenas com dinheiro e cartões há seis meses.

A proprietária Regina Yasuoka reclama, como todos os colegas, da devolução de cheques. “Infelizmente, tem muita gente que age com má fé e sai soltando talões sem fundos. Mesmo com sistemas de consultas, os cheques voltavam”, desabafa. Agora, mesmo com taxas e cobrança das operadoras e bancos, Regina diz estar mais “aliviada” em relação ao faturamento do comércio. “Os cartões compensam porque temos a garantia de que vamos receber o dinheiro da venda.”




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