Quando o caos impera no tráfego aéreo do Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, muitos passageiros olham torto para a torre de controle, imaginando que ali estão os responsáveis pela situação. Mas, de fato, na sala do alto dos 51 m da estrutura de concreto armado e vidro, trabalham 52 controladores com pouco poder de decisão e submetidos a intenso estresse, que inclui até destrato por parte de pilotos irritados com as longas esperas para a decolagem.
Funcionando 24h, a torre abriga os profissionais de tráfego aéreo (PTA) que cuidam dos pousos e decolagens. O grupo de PTAs se divide em quatro turnos de 6h, que têm entre seis e nove integrantes. “Somos subordinados operacionalmente ao Comando da Aeronáutica”, diz o coronel Antonio Velardi, gerente de navegação aérea da Regional Sudeste da Infraero (Empresa de Infra-estrutura Aeroportuária).
A torre segue rigorosamente as ordens dos controladores do Cindacta-1 (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo), localizado a 1.015 quilômetros, em Brasília.
“A gente só cumpre ordens, e tem que lidar com as restrições impostas”, diz Patrícia Rodrigues, que atua como PTA há sete anos. “Quando o Cindacta ordena que o espaçamento entre as aeronaves suba de cinco para vinte minutos, só nos cabe obedecer. E aí, quem escuta as reclamações e às vezes até alguns xingamentos dos pilotos somos nós, porque eles ficam cobrando explicações e previsões sobre quando vão poder decolar e não temos como falar nada.”
Ela e seus colegas não se deixam fotografar porque, durante o auge do apagão aéreo, no final de 2006, alguns chegaram a ser confundidos com os controladores do Cindacta e foram destratados por vizinhos e amigos.
Pouso e decolagem - Nada acontece nas pistas de Guarulhos sem a gestão dos controladores da sala de vidro. A torre controla, basicamente, três posições operacionais das aeronaves. A primeira é a autorização de tráfego, quando o PTA verifica o plano de vôo, documento que identifica o caminho aéreo e altitude que a aeronave seguirá no ar.
Cada avião é identificado na tela do PTA por um código transponder, com quatro números. “O código tem o mesmo nome do aparelho que ganhou destaque no acidente da Gol porque, no ar, contém o sistema anti-colisão”, diz Nielson Moraes, coordenador de Controle Operacional da Navegação Aérea de Guarulhos.
A segunda posição, solo, orienta o piloto na saída das pistas principais e no taxiamento até o pátio. Na útima, torre, o PTA determina a decolagem e acompanha a aeronave até que esteja sob o controle do aeroporto de Congonhas, cujo poder se estende até determinados níveis de altitude, quando o Cindacta 1 ou o 4, localizado em Curitiba, passa a operar.
No caso dos pousos, o processo se inverte. A aeronave fica sob controle do Cindacta até que Congonhas passe a comandar a trajetória, guiando o avião até que esteja na área de Cumbica.