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GM prorroga em nove meses o lay-off

Cerca de 1.000 trabalhadores, afastados há quase
dois anos, ficarão em casa até março de 2017

Por Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
30/04/2016 | 07:30
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Divulgação


Em torno de 1.000 trabalhadores da GM (General Motors) em São Caetano, afastados em lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho) há quase dois anos, deverão permanecer em casa até março de 2017. Isso porque foi aprovado em assembleia com os funcionários que a nova suspensão, válida a partir de 8 de maio, terá duração de mais cinco meses, prorrogáveis por outros quatro, totalizando nove. Caso haja alguma dispensa enquanto vigorar o acordo, além dos direitos indenizatórios, os operários receberão três salários adicionais sob forma de multa.

Quanto à cláusula 42 do acordo coletivo da categoria, que garante estabilidade aos funcionários vítimas de acidente de trabalho ou portadores de doença profissional, essa foi retirada dessa negociação. “Fui a Detroit (nos Estados Unidos, onde está a sede da GM) para negociar um acordo, e consegui. A cláusula está mantida na convenção dos trabalhadores”, diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da cidade, Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, que havia prometido mobilizar greve caso fosse excluída. No mural dos funcionários exposto no interior da fábrica em São Caetano, porém, está escrito que essa questão será discutida em outra oportunidade. E que, em caso de necessidade, existe a possibilidade de a montadora fazer novo lay-off, com 500 trabalhadores.

“Antes da assembleia já havia boato dentro da empresa de que se não aceitássemos a proposta 500 funcionários seriam mandados embora. Houve pressão psicológica para que aceitássemos”, disse um dos operários, que pediu sigilo. Os empregados avaliam a proposta aceita como “enganadora”, já que não houve garantia de emprego. “Essa discussão só foi adiada”, disse outro funcionário.

Outra queixa dos operários é que não é feito rodízio dos trabalhadores que estão em lay-off. Portanto, os que já estão afastados permanecem assim. “Não é justo. Queremos voltar a trabalhar. Para nós, esse acordo não agrada. As perdas são muito grandes. Estamos ganhando apenas 60% do salário e não temos a chance de receber as horas extras.”

Para compensar a redução no banco de horas provocada pela diminuição no ritmo de produção e os consequentes estoques altos, ficou estabelecido que, com o aquecimento do mercado, eles terão de trabalhar dois sábados por mês, sendo 50% do pagamento feito em cima do deficit do banco de horas e, os outros 50%, sob a forma de horas extras.

De acordo com dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), porém, o setor automotivo encerrou o trimestre com queda de 27,8% na produção de veículos e de 28,3% nas vendas.

Questionado em relação à possibilidade de troca de operários em lay-off, Cidão assinalou que a questão não foi discutida porque a GM não quer fazer as substituições. “O rodízio é ruim porque pode alterar a qualidade dos veículos.” Antes, eram 1.200 que estavam suspensos, agora, são 1.000 – 11% dos 9.200 funcionários da montadora na região. “Alguns vão voltando gradativamente, conforme há demanda na fábrica, à medida em que as coisas vão melhorando. Estamos na expectativa de que a situação melhore”, justificou o presidente da entidade. Segundo ele, cerca de 500 são sequelados.

Procurada, a GM informou que “que chegou a um acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano nas negociações laborais”, o qual a GM acredita ser positivo “pois pode conciliar as necessidades de ajuste ao mercado em queda com os interesses dos empregados.”

PAGAMENTOS - Também foi aprovado em assembleia que os funcionários não terão reajuste nos salários neste ano. Será pago abono de R$ 8.000, em duas vezes, além de PLR (Participação nos Lucros e Resultados) de R$ 6.000 na primeira parcela. Quanto à segunda, o valor depende de meta, que ainda não foi estabelecida, e será quitado apenas no ano que vem.

Em 2017, 70% do rendimento será corrigido pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), e os demais 30% serão pagos em abono de R$ 3.000.


Acima de 7 meses, empresa paga 100%

O lay-off é uma ferramenta que permite às empresas que não conseguem manter o nível de produção em períodos de crise afastar os funcionários para realização de cursos de aprimoramento. Dessa maneira, o trabalhador recebe benefício do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), cujo teto é o mesmo do seguro-desemprego, de R$ 1.542,24, como parte de seu salário, enquanto o restante é complementado pela companhia.

A suspensão dura de dois a cinco meses, e pode ser estendida por até mais dois meses. Passada essa prorrogação, e considerando que os mesmos profissionais estão afastados, o governo deixa de ajudar, e a companhia deve arcar sozinha com os vencimentos. É o que vem acontecendo com a GM.

No início do ano, a montadora contava com 2.200 trabalhadores suspensos, com retorno previsto para 7 de março. A fim de evitar demissões, porém, devido ao mau desempenho do setor automotivo, foi realizada nova renegociação, em que 1.000 funcionários foram reintegrados – separados em dois grupos de 500 –, enquanto o restante esperava retornar em 7 de abril.

A empresa e o Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, entretanto, acordaram que prorrogariam a suspensão por mais 30 dias para pensar em alternativa já que a GM queria suspender a cláusula 42 e o sindicato, ameaçava fazer greve. Agora, aprovaram possibilidade de retorno em março de 2017.

PRODUÇÃO - O presidente do sindicato, Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, disse que hoje a fabricação de veículos é de 43 unidades por hora, enquanto que, no início de 2014, quando estava no ritmo normal, era de 56 por hora. Atualmente, a planta em São Caetano produz os carros Cobalt, Spin, Montana e Cruze Sedã e Hatch.

Conforme a equipe do Diário apurou, porém, a montadora está fazendo obras de adequação na fábrica para modernizá-la e passar a fabricar, entre junho e julho, a versão de entrada do Onix, o Joy – para ocupar o lugar do Celta, que deixou de ser fabricado –, e atender à demanda de empresas que atuam com frotas de veículos.




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