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Aílton Graça, o galã tardio de ‘América’
Por André Bernardo
Da TV Press
10/06/2005 | 08:33
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O paulista Aílton Graça custou a decidir o que queria ser quando crescesse. Ainda criança, cogitou as mais diferentes profissões. De desenhista e mágico a médico e caminhoneiro. A certa altura, pensou até em ser agrônomo, embora não tivesse a menor idéia do que um agrônomo fazia. “Achava a palavra bonita”, diz. Certo dia, a mãe do garoto, dona Nair, resolveu aconselhá-lo: “Filho, você tem de escolher uma profissão em que caibam todas as outras”. Foi aí que Aílton descobriu que queria ser ator. “Até hoje, não sei exatamente o que a minha mãe quis dizer com aquilo. Mas aquelas palavras ficaram na minha cabeça. Desde então, sempre que me perguntavam o que eu queria ser, respondia que já era ator”, diverte-se.

Volta e meia, Aílton Graça se emociona ao falar de sua falecida mãe. Embora não fosse tão geniosa quanto a Diva de América, Aílton garante que ela também sabia a hora certa de lhe acertar o chinelo. “Cansei de pular janela para jogar bola na rua. O pior é que ela sempre corria atrás de mim para eu lavar louça, varrer a casa, essas coisas”, recorda, saudoso. Entre uma pelada e outra, Aílton pegava um varal, estendia um lençol sobre ele e improvisava um show de mágicas. Quando não tinha ninguém para assistir, pegava as almofadas da sala, desenhava uns olhinhos nelas e as colocava para prestigiarem o espetáculo. “Minha mãe, coitada, achava que eu estava ficando maluco. Tanto que, um dia, ela me levou até para fazer um eletro”, diverte-se.

De maluco, Aílton não tinha nada. Curioso, adorava folhear as fotonovelas que a mãe colecionava. Embora gostasse do que via, notava a ausência de atores negros nas revistas. “Mãe, por que não tem um pretinho sequer aqui?”, costumava perguntar. Anos depois, já crescidinho, passou a assistir às aulas de teatro do colégio em que estudava. Ainda hoje, não esquece do dia em que pegou no pé do garoto que interpretava José no Auto de Natal. De tanta esculhambação que levou, o menino abandonou a peça. Indignada, a professora brigou com Aílton e perguntou a ele quem assumiria o papel. “Eu!”, respondeu, sem pestanejar. Ainda em dúvida, ela retrucou se, pelo fato de ser negro, Aílton não se importaria de interpretar José. “E daí, professora? O Brasil é assim mesmo”, devolveu.

Hoje, aos 40 anos, Aílton exerce seu ofício em pleno horário nobre da Globo. O convite para América surgiu depois de participar do filme Carandiru, de Hector Babenco, onde interpretou o traficante Majestade. Atualmente, ele volta a interpretar o malandro bígamo na série da Globo Carandiru – Outras Histórias, de Hector Babenco, que estréia nesta sexta.

O ator é pai de Vinícius, 16 anos, filho de seu primeiro casamento. Atualmente, mora com a também atriz Kátia Naiame. Foi ela quem encorajou Aílton a voltar a fazer teatro e, principalmente, a fazer testes para Carandiru. “A Kátia é o meu anjo da guarda”, enaltece.

Até então, sua primeira e única participação tinha sido em Rainha da Sucata, na cena em que testemunha o suicídio de Laurinha Figueroa, de Glória Menezes. “Aquilo sim foi participação-relâmpago. Apareci só meio milésimo de segundo”, exagera. Na trama de Glória Perez, porém, a história é outra. A cada semana, constata, surpreso, que seu personagem, o simpático Feitosa, não só cresceu mais que o esperado, como se tornou o galã do núcleo suburbano. “O Feitosa caiu no gosto popular por ser de fácil identificação. Todo mundo conhece alguém como ele: honesto, batalhador, que leva a vida numa boa”.

A popularidade de Feitosa pode ser constatada sempre que Aílton sai às ruas. Diariamente, ele recebe os mais variados tipos de abordagem. Uns pedem para ele abrir os olhos com Diva, personagem de Neusa Borges, que passa mal sempre que o filho resolve namorar. Outros elogiam a paciência que ele demonstra por Flor, de Bruna Marquezine. Mas já houve quem, assanha-se Aílton, arriscasse uma cantada. “Mas você agarrou a Paula (Burlamaqui) daquele jeito mesmo, hein? E eu, como você agarraria?”, reproduz ele, aos risos.



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