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Consórcio cogita mudar isolamento no Grande ABC

Maranhão e Lauro acenam a Bolsonaro e pedem opinião da população para ‘nortear decisões’

Por Júnior Carvalho
Do Diário do Grande ABC
31/03/2020 | 00:13
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DGABC


Mesmo sem justificativa técnica, o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC sinaliza alinhamento ao discurso do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), e cogita mudar a política de isolamento social ao pedir que a população opine para “nortear decisões” dos prefeitos da região sobre a manutenção do fechamento do comércio nas sete cidades.

O aceno a Bolsonaro foi dado ontem pelos dois principais dirigentes da entidade: prefeitos Gabriel Maranhão (Cidadania, Rio Grande da Serra) e Lauro Michels (PV, Diadema), presidente e vice-presidente do colegiado, respectivamente. As declarações, por outro lado, divergem da postura dos demais chefes do Executivo.

Em vídeo, transmitido ao vivo na página oficial do Consórcio no Facebook, Maranhão e Lauro sugeriram enquete com os moradores para definir se as sete cidades mantêm o isolamento total da população ou se adotam o chamado isolamento vertical, em que liberariam a abertura do comércio da região e limitariam a quarentena apenas às pessoas mais vulneráveis ao contágio da Covid-19, como os idosos e aqueles com doenças específicas, como diabete, hipertensão, cardíacas ou pulmonares.

“Nós queremos saber o que você acha. Ouvimos muito a mídia falando, mas deixa aí no nosso link a sua opinião. O que deve acontecer? Não tem medida certa ou errada, tem medida controlada e de acordo com a população”, afirmou Lauro, que ainda chamou o caso de “grande dilema”. “Abrir, não abrir, por que abrir, como abrir, se abrir, como tem de ser aberto (o comércio)? Deixe seu comentário, deixe seu like e diga o que você pensa e o que você faria se estivesse no meu lugar e no lugar do Maranhão”, pediu Lauro.

Defendido nos últimos dias por Bolsonaro como forma de evitar danos à economia, o isolamento vertical é considerado ineficaz por cientistas e pelo próprio Ministério da Saúde no controle da crescente contaminação do novo coronavírus – entre os mortos no Estado, há jovens com menos de 30 anos. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda o isolamento total.

Além disso, decreto assinado pelo governador João Doria (PSDB) instituiu quarentena em todo o território paulista até 7 de abril, proibindo o atendimento presencial de comércios considerados não essenciais. “Atendam às recomendações médicas, as de sanitaristas, de profissionais especializados na medicina de infectologia, aqueles que conhecem este tema. E não em informações que são colocadas nas redes sociais ou, lamento, mas não sigam as orientações do presidente da República do Brasil”, disparou Doria, ontem.

DIVERGÊNCIA
A declaração deixada por Maranhão e Lauro vai na contramão do posicionamento dos demais prefeitos da região. No domingo, o prefeito José Auricchio Júnior (PSDB), de São Caetano, voltou a defender as medidas de isolamento “a toda a população”. “Se o presidente da República faz chacota com assunto sério e traz desinformação, faremos o oposto. Repudio a forma em que o presidente trata o tema, assumindo um papel genocida”, disparou o tucano, único médico entre os prefeitos do Grande ABC.

Questionadas, as prefeituras de São Bernardo e Ribeirão Pires afirmaram se pautar pelas orientações técnicas, a exemplo da OMS.

O governo de São Paulo declarou que a quarentena é “essencial para evitar a propagação do novo coronavírus e já demonstra resultados efetivos como medida preventiva, com uma desaceleração do aumento de casos de Covid-19 no Estado, em comparação ao resto do País”.  




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