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Ataliba recorda fase no Santo André

Ex-atacante do Timão traz à tona problemas vividos no Ramalhão em 1985

Thiago Bassan
do Diário do Grande ABC
02/04/2012 | 07:00
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O jeitão de jogador de futebol típico dos anos 1990 e a tradicional gagueira continuam sendo as marcas de Ataliba. Ex-jogador de Corinthians, Santos e com passagem breve, mas com muitas histórias pelo Santo André, Edson Ataliba Cândido, 55 anos, atualmente trabalha em uma empresa de investimentos comandada pelo presidente do Clube Atlético Diadema, Paulo Lofreta, como auxiliar administrativo.

Mas não largou de vez o futebol. "Hoje mesmo estive na Federação Paulista para entregar toda a documentação dos times Sub-12, 15 e 17 do CAD", comentou.

Pelo Ramalhão, a passagem de Ataliba foi durante o Campeonato Paulista de 1985. Experiência que o ex-ponta direita achou válida.

"Fui convidado pelo Lance (ex-atacante e supervisor do Santo André) para jogar no Ramalhão. Fomos eu, o Gilberto Sorriso, o Márcio Fernandes (ex-técnico do Comercial de Ribeirão Preto no Paulistão 2012), entre outros atletas. Não foi época boa, mas também não me arrependo. Todos pagavam em dia, isso era muito importante", relembrou.

Questionado sobre os motivos que levaram o Santo André a fazer campanha tão ruim na época (o time terminou a competição em 13º lugar, lutando contra o rebaixamento até a última rodada), Ataliba ressalta que o problema até hoje parece não ter sido resolvido: a infraestrutura do clube.

"Nós não tínhamos estrutura nenhuma. Não havia campo para treinar. E para piorar, o Bruno Daniel não podia ser usado, já que o gramado havia sido danificado na época por causa do show dos Menudos. Então tudo isso foi dificultando nosso desempenho", destacou.

Mesmo assim, Ataliba, titular da equipe então comandada pelos técnicos Norberto Corrêa, Lance e José Poy na competição, marcou quatro gols com a camisa ramalhina.

Duas vezes contra o Palmeiras (2 a 0 em 7 de julho e 1 a 0 dia 2 de outubro), uma vez contra a Portuguesa (1 a 1 em 4 de agosto) e frente ao Juventus (2 a 1 dia 9 de junho). "Caramba, nem eu lembrava disso. A internet ajuda mesmo hoje em dia", espantou-se.

Dentre esses gols, o mais importante, e o único que o jogador diz recordar-se, foi contra o Palmeiras, na vitória por 1 a 0.

"Esse gol eu recordo. O Leão era o goleiro e usava camisas listradas em verde e branco. A partida foi em Mauá (no estádio Pedro Benedetti), porque nosso estádio não tinha condições de receber a partida. Ganhamos moral com essa partida. O time não era ruim, mas tinha alguns problemas, como lugar para almoçar. Treinava um dia num lugar, no outro dia, já tinha mudança", comentou.

Um dos maiores orgulhos de Ataliba enquanto jogador é o fato de ter sido o único atleta a conquistar três vezes consecutivas o Campeonato Paulista. "Sou o único jogador tricampeão paulista. em 1982 e 1983 pelo Corinthians e no ano seguinte pelo Santos. Ninguém ainda conseguiu isso", conta Ataliba.

A troca pelo rival Santos após o bicampeonato se deu por causa de pequeno desentendimento com figura bastante conhecida no futebol do Grande ABC, o técnico Jair Picerni.

"Logo após o fim da democracia corintiana (leia ao lado), teve muita mudança no clube. O Jair veio para o Timão. E ele disse que não queria me usar. Então o (Serginho) Chulapa, que é padrinho do meu filho me disse: "Você não quer jogar no Santos?". Eu não queria de início, mas aceitei e deu certo", contou o ex-jogador.  

Democracia não pegaria hoje, diz ex-atleta
Ataliba participou de movimento inédito na história do futebol brasileiro: a Democracia Corintiana. Nos anos de 1982 e 1983, os jogadores do Corinthians, liderados por Sócrates, Casagrande e Biro-Biro estabeleceram novo sistema de trabalho.

Os atletas não eram obrigados a se concentrar nas vésperas das partidas e assim poderiam fazer o que bem quisessem antes dos jogos, mas com certo limite.

Sob a autorização do então diretor de futebol do Timão, Adílson Monteiro Alves e com a aprovação do técnico Mário Travaglini (em 1982) e Jorge Vieira (em 1983), os jogadores tinham liberdade, inclusive, de expressar suas opiniões políticas.

"A gente tinha horário para cumprir. Não era uma bagunça, como muitos diziam. Se o almoço estava marcado para as 11h30, tinha que ser nesse horário mesmo. Inclusive, para os atletas que não estavam no hotel. Quem queria concentrar, podia fazer isso numa boa, sem pressão", garante o ex-jogador.

Perguntado sobre a implantação de um sistema desses nos dias atuais, o atleta respondeu: "Foi um exemplo, toda época tem seu estágio. Eu acredito que hoje seria difícil esse esquema ser implantado. Temos outros nomes, atletas, alguns são milionários, outros têm empresários que mandam. A democracia iria envolver muita gente, não acredito que daria certo na atualidade", avalia.

Outra diferença apontada por Ataliba em relação ao futebol atual é a mentalidade dos atletas. "Na minha época, o jogador pensava somente em jogar bola e nada mais. Hoje em dia, todo mundo vive da ambição de jogar fora, ganhar muito dinheiro", cutuca o ex-jogador.

Em seus momentos de lazer, Ataliba é visto constantemente nos ensaios das escolas de samba Gaviões da Fiel e Nenê de Vila Matilde.




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