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‘Bolero’ é ponto alto do programa
João Marcos Coelho
Especial para o Diário
24/06/2005 | 08:35
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“Louco!”, gritou da platéia uma espectadora para Maurice Ravel (1875-1937) ao assistir a estréia do Bolero na Ópera de Paris, em 1928. E o compositor concordou: “Isso mostra que ela, ao menos, entendeu o meu objetivo”. E que objetivo era esse? Simples: fazer um enorme exercício de orquestração, de 17 minutos, um longo e progressivo crescendo de dois temas simples – cada um em duas partes de oito compassos – apoiados por um ritmo repetitivo, quase hipnótico de tão obsessivo.

A obra, clímax do concerto da Filarmônica de São Caetano na Sala São Paulo, hoje, nasceu por encomenda de uma bailarina, Ida Rubinstein. Ravel sempre a encarou como peça de circunstância e espantou-se com o sucesso planetário que perdura até hoje. E parece infinito, tamanho seu poder de sedução.

Mas, a primeira peça do concerto já estabelece o clima de música de programa que vai perdurar por toda a noite na Sala São Paulo. A Abertura Coriolano foi composta por Ludwig Van Beethoven (1770-1827), em 1807, como introdução musical à tragédia escrita pelo poeta Collin, não por acaso secretário do imperador austríaco. O compositor, assim, matava dois coelhos com uma só cajadada: agradava ao monarca e também mergulhava num tema que sempre o encantou, o da liberdade do herói, já que a peça é calcada no livro de Plutarco Vida dos Homens Ilustres Gregos e Romanos. É um poema sinfônico em miniatura, dura só 7 minutos. Mas de excelente qualidade.

A peça mais suculenta do programa é, sem dúvida, a Sinfonia no. 5 de Piotr Tchaikovski (1840-1893), escrita em São Petersburgo e estreada em 1888 com o próprio autor na regência. Mal recebida pelos russos, foi entretanto saudada em concerto de Tchaikovski, em Hamburgo, no ano seguinte, com a presença de Brahms na platéia. O tema do destino, marca registrada do compositor, é onipresente. Ele mesmo anotou pistas que ajudam a entender a sinfonia: “Introdução: submissão total diante do destino; Allegro: murmúrios, dúvidas, queixas. Não é melhor entregar-se à fé?”. Sobressai, nos quatro movimentos, um tema central, o do destino, que se transforma, mas é sempre reconhecível.




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