A vendedora Kalica Cristiane Silva, 27 anos, morreu anteontem à noite na Avenida Industrial, no bairro Campestre, em Santo André, após bater sua moto em outro veículo. Segundo a motorista do automóvel, que trafegava no sentido Centro, antes do acidente, Kalica deu vários chutes em seu retrovisor. A polícia informou que a vítima voltava para casa após um dia de trabalho.

O caso engrossa as ocorrências de acidentes com moto e ilustra um estudo inédito feito pela Secretaria de Estado da Saúde. O levantamento mostra que 77% dos acidentes com motociclistas, incluindo motoboys, ocorrem quando eles estão a caminho do trabalho ou voltando para casa.

A pressa em iniciar rapidamente as entregas - já que esses trabalhadores normalmente recebem por produção - ou o cansaço após um dia extenuante são os principais fatores de risco apontados para a ocorrência dos acidentes.

Foram analisados 444 comunicados de acidentes de trabalho feitos pelo Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de São Bernardo, incluindo ocorrências da Capital, São Bernardo, Diadema e Santo André.

O estudo é o primeiro do País que analisa dados epidemiológicos sob o ponto de vista da saúde do trabalhador. As ocorrências são mais comuns no período entre 6h e 12h (36% do total) e das 12h às 18h (36,9%).

Dos motoqueiros acidentados, 57% tinham entre 20 e 29 anos, 26% de 30 a 39 anos e 8% de 40 a 49 anos. A grande maioria (95,3%) dos acidentados era homem.

O levantamento aponta que em 45,5% dos acidentes com motociclistas as vítimas apresentam algum tipo de fratura. Já em 18% dos casos há várias fraturas e lesões, 18,2% apresentam contusões, 7% têm ferimentos como cortes e arranhões e 4,5% sofrem entorses.

As partes do corpo mais atingidas são os membros inferiores, responsáveis por 38% dos casos. Do total de acidentes com motociclistas analisados pela secretaria, 33% foram causados por colisões com automóveis e 28% por quedas.

"O objetivo do estudo foi traçar um perfil dos acidentes envolvendo motociclistas para que possamos estabelecer metas de prevenção com os diversos órgãos envolvidos na questão", afirmou a médica Silvana Tognini, da Divisão de Vigilância Sanitária do Trabalho da Secretaria de Saúde.

Ontem pela manhã, no bairro Serraria, em Diadema, outro acidente exemplificou o estudo. O motoqueiro Alexandre Lourenço Jorge, 21 anos, teve fratura exposta nas pernas após bater em um ônibus.

O Sindicato dos Motociclistas Profissionais do Grande ABC foi procurado, mas ninguém quis se pronunciar.