Automóveis Titulo
SP2: Um exemplar brasileiro
Por Marcelo Monegato
Do Diário do Grande ABC
06/04/2011 | 07:00
Compartilhar notícia


A história da indústria automobilística brasileira é feita de heróis fora de época. Personagens mal compreendidos, que após anos ganharam o reconhecimento tardio. O Volkswagen SP é um deles. Desenvolvido para o Brasil e apresentado como protótipo na Alemanha há 40 anos, o esportivo tem muitas histórias a contar. Algumas com desfecho nos fundos de garagens, cobertas de ferrugem. Outras, porém, com final feliz. Como a do SP2 1975 vermelho Rubi.

E o responsável por escrever a epopeia deste simpático automóvel com sabedoria, dedicação e uma dose de chatice - como ele mesmo reconhece - foi Amadeu Tobias, 44 anos, filho de mecânico, que num determinado dia decidiu restaurar um esportivo que fosse fácil e possível de ser montado, mas que fosse de lata (não de fibra). E com a ajuda do amigo Roberson, optou pelo SP2. "Me apaixonei pelo carro e decidi: ‘Vou fazer esse carro'. Comecei a procurar um carro que realmente não estivesse andando, mas em condições de ser restaurado", confidencia.

Em Guarulhos, Tobias encontrou um bem judiado, mas não gostou e partiu para outro. E foi em Osasco, em junho de 2009, que se deparou com aquele que viria a ser seu SP2. Levou-o para casa e, ao jatear todo o veículo, a surpresa: "Ele estava pior do que aquele de Guarulhos", revela o bancário, admitindo certo desânimo.

Mas a estrada dos restauradores é repleta de dificuldades. Obstáculos quase intransponíveis. Mas também de sorte. "Arrumei um lugar no Rio Grande do Sul, onde havia muitas peças, especialmente de lataria. Outras de parte mecânica ainda novas, dentro das caixas", detalha Tobias, que não se esquece dos amigos em São Paulo que também o ajudaram muito. "Encontrei um excelente funileiro que ama o SP2 - e não por acaso possui dois. E na oficina dele tem outros seis para serem restaurados", emenda.

O que muitos não sabem - inclusive este jornalista que relata esta saga - é que o SP2 é único. Repleto de exclusividades. "Esse carro é cheio de detalhes. A gente pensa que Volks é um carro simples. Esse não! Todo mundo acha que os faróis e a capa deles são iguais às de Brasília e Variant, mas não são! As pinças de freio são exclusivas dele. As barras estabilizadoras são dele. Até a tampa do tanque de gasolina é única, além de outros detalhes de acabamento, exclusivos."

E tudo no esportivo brasileiro da Volks foi refeito durante um ano e meio - inclusive a tapeçaria, por mãos de um artesão de São João da Boa Vista (SP). "Nada deste carro foi reaproveitado. Tudo é completamente novo", explicou Tobias, durante passeio pelas ruas da Zona Norte de São Paulo. Ao fundo, o agradável som do motor de 1.700 cm³ de 75 cv a gasolina que esbanja saúde. "Fui e voltei para Jundiaí (SP) a 120, 140 km/h. A mecânica está zerada. Tem cerca de 1.000 quilômetros rodados apenas."

E realmente o SP2 de Amadeu Tobias é algo raro. Parece ter saído ontem da linha de montagem da Volkswagen. Não por acaso, a placa preta foi adquirida com inquestionáveis 98% de originalidade - os 2% restantes ficaram nos pneus, montados em rodas de aço onde destaca-se ao centro o brasão da cidade de São Bernardo, utilizado pela montadora de origem alemã nos primeiros anos de Brasil. "Optei por estes até os copinhos originais estarem prontos do restauro", comenta.

Vidrado no SP2 que reluz na garagem, o bancário revela que o maior legado deixado durante estes quase dois anos de restaurador são as amizades que fez. "Tenho inúmeros contatos no meu celular de pessoas que gostam de carros antigos e que são aficionadas pelo SP2", enaltece.

Ainda curtindo o SP2 como criança que acaba de ganhar o presente dos sonhos, ele não esconde um desejo que vislumbra realizar. Ter um Dodge Charger 1971. "Raríssimo", reconhece. Vamos torcer, pois, sem sombra de dúvidas, a história automobilística brasileira precisa de mais pessoas como Amadeu Tobias.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.

Mais Lidas

;