Setecidades Titulo No trânsito
Ida ao trabalho demora
meia hora no Grande ABC

Recorte do Censo se refere a quem mora na região
e tem de se deslocar para outra cidade todos os dias

Fabio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
17/11/2013 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


A cada dez moradores da região que trabalham em outro município, seis levam ao menos meia hora para chegar à empresa. Os dados são parte de recorte do Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgado neste mês. A pesquisa, no entanto, só inclui Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá, já que foi feita apenas nas maiores cidades do País.

Em média, 22,6% dos moradores demoram mais de uma hora para chegar ao serviço, enquanto 42,1% levam menos de meia hora. O levantamento contabiliza qualquer tipo de deslocamento, seja a pé, com veículo particular ou transporte público. São levadas em conta apenas as viagens intermunicipais. Em 2010, 860,1 mil pessoas trabalhavam em outra cidade, o que equivale a 38,3% do total de habitantes.

Nos aglomerados subnormais, ou seja, favelas e comunidades carentes, a porcentagem de habitantes cujo trajeto é superior a uma hora é ainda maior. Não é possível fazer comparação com Censo 2000 porque a pesquisa, na época, não apresentava esse dado específico.

Trabalhadores de Mauá são os que passam mais tempo no caminho. A taxa de moradores que leva mais de meia hora é de quase 70%. Cerca de 33% demoram pelo menos uma hora para chegar ao destino final. Diadema, por outro lado, é onde os habitantes do Grande ABC chegam mais rápido ao trabalho. Para cerca de 53,5% dos entrevistados, o tempo de viagem é superior a 30 minutos. Em Santo André e São Bernardo, os índices nessa categoria são de 56% e 55,3%, respectivamente.

Especialistas ouvidos pelo Diário atribuem a diferença entre os números de cada município à proximidade com a Capital. Quanto mais perto da divisa, menor o tempo de deslocamento, e vice-versa. Mauá é cortada pela Linha 10-Turquesa da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Mesmo assim, a cidade registra altos índices de permanência no trânsito. A falta de planejamento da rede de transporte é apontada como um dos principais fatores para essa demora (leia mais abaixo).

O arquiteto de sistemas Rodrigo Dantas, 27 anos, mora em São Bernardo e trabalha na Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, na Capital. “Em um dia bom, levo uma hora e dez minutos para chegar. Mas, às vezes, demora duas horas”, relata. Ele optou por ir de carro ao serviço. “Se eu fosse de transporte público, demoraria mais. Tenho um amigo que mora a duas ruas da minha casa, também trabalha na Berrini e vai de ônibus. Ele costuma levar duas horas e meia todos os dias”, compara.

Dantas lamenta o tempo perdido no trânsito, de aproximadamente quatro horas por dia. “Eu poderia estar estudando, investindo em qualidade de vida. É frustrante.” Ele garante, entretanto, que usaria o transporte público se fosse ‘mais rápido e digno’.

Já o bancário Renato de Souza Peres, 32, prefere utilizar trem e Metrô para ir de Mauá à Avenida Paulista. “Demoro uma hora para chegar. De carro, a viagem seria mais longa”, pondera. Em relação ao tempo gasto diariamente, Peres diz não ver problemas. “Eu prefiro gastar duas horas no transporte e morar em uma região que eu goste do que morar em São Paulo”, comenta o morador do bairro Guapituba.

Para especialistas, falta planejamento

A falta de planejamento urbano e a desorganização dos modais de transporte são apontadas por especialistas como principais causas do longo tempo gasto pela população no deslocamento de casa para o trabalho. “As cidades expulsam a concentração da população para as periferias das cidades e os empregos estão centralizados principalmente nas áreas centrais e entorno”, comenta a coordenadora do Grupo de Trabalho de Mobilidade do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, a arquiteta e urbanista Andrea Brisida.

Uma das soluções, a longo prazo, seria a descentralização. “É preciso tentar ofertar emprego nas mais diversas regiões”, sugere. Segundo Andrea, não é possível melhorar a Mobilidade sem levar em conta o planejamento urbano como um todo.

A professora Clara Kaiser, do Departamento de Projetos da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade de São Paulo), afirma que a situação não é exclusiva do Grande ABC, mas de toda a Região Metropolitana. “A metrópole é conturbada. Na prática, tornou-se uma cidade só. Falta integração tarifária, operacional e administrativa”, critica.

Um dos principais problemas, diz a especialista, é o fato de os sistemas de transporte serem discutidos no âmbito dos municípios, e não regionalmente. “Quem vai de Pinheiros para Osasco paga mais do que quem vai do mesmo ponto para a Cidade Tiradentes (na Zona Leste), que é muito mais longe, apenas porque passou da divisa, sendo que não dá nem para perceber a mudança.”

A coordenadora do Consórcio salienta que a falta de planejamento das linhas intermunicipais também contribui para a demora dos trajetos. “Quanto mais o sistema circula pelas periferias, mais irracional se torna”, comenta. Como melhoria, ela sugere a implantação de linhas tronco-alimentadas, no qual os itinerários metropolitanos saiam dos terminais e os ônibus municipais levem as pessoas dos bairros para as estações. A curto prazo, Andrea acredita que as faixas de ônibus são boas opções para melhorar a fluidez.
 




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