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Motorista precisa de sorte para trafegar pela Anchieta e Imigrantes

Rodovias têm série de problemas, como insegurança, falha nos serviços de SOS e ambulantes

Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
24/12/2017 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Motoristas que circulam pelo SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes) precisam de paciência e sorte para enfrentar os desafios impostos pelas estradas que cortam o Grande ABC e dão acesso aos municípios do Litoral paulista. Responsável por um dos pedágios mais caros do País, o sistema acumula série de problemas que colocam em risco a segurança de usuários, como trechos propícios a arrastões, falha nos equipamentos de SOS e presença de ambulantes nas vias.

Os problemas encontrados pela equipe do Diário na semana passada pelos 63 quilômetros percorridos entre as duas rodovias desrespeitam, inclusive, contrato assinado entre a concessionária responsável por administrar o SAI – Ecovias – e o governo do Estado, como é o caso das falhas no serviço de emergência.

Em uma das praças de pedágio, onde motoristas são obrigados a arcar com o custo de R$ 25,60 para seguir ao Litoral, condutores se deparam com o primeiro de uma série de desafios. De forma escancarada, em frente a funcionários da Ecovias, ambulantes irregulares disputam espaços entre veículos que aguardam para passar pela cabine de cobrança na tentativa de comercializar as mercadorias, como alimentos e bebidas.

A abordagem aos clientes acontece diariamente e, segundo funcionários da Ecovias, se intensifica aos fins de semana e feriados prolongados, como é o caso do Natal e Ano-Novo. “Quando tem mais movimento e calor é pior ainda. Eles surgem do nada na frente dos motoristas. Tem de ter cuidado”, diz, em anonimato, uma das profissionais responsáveis pela cobrança do pedágio.

Embora seja proibida pela lei estadual 7.452 de 26 de julho de 1991, o comércio irregular parece ser atividade comum para ambulantes que atuam diariamente nas rodovias. “É reportagem? Se for, compra um salgadinho comigo que conto um negócio que aconteceu lá embaixo”, oferta um dos vendedores à equipe do Diário.

Pelo trecho de serra, os problemas persistem. Usuários precisam de sorte caso necessitem pedir socorro pelo telefone ou call box espalhados nas duas rodovias. Dos 20 equipamentos de SOS testados aleatoriamente pela equipe do Diário, cinco apresentaram falhas.

A situação mais crítica foi encontrada no km 21 da Via Anchieta, em São Bernardo. No local, o call box apresenta sinais de vandalismo. Aviso de “equipamento em manutenção” orientava o usuário a recorrer à central telefônica por meio do 0800 para solicitar o suporte.

“Por dia, faço em média cinco socorros. Na maioria das vezes o pessoal diz que só foi salvo por conta das câmeras de segurança, pois o telefone não funcionou”, diz o mecânico Paulino Vieira dos Santos, 48.

Não bastassem os problemas estruturais, motoristas também são obrigados a redobrar os cuidados com a alta incidência de neblina nas estradas, o que implica diretamente na segurança de usuários. Segundo levantamento da Artesp (Agência de Transportes do Estado de São Paulo), os trechos com alta incidência de nevoeiro estão localizados entre o km 32 e o km 42 da Via Anchieta.

Para diminuir os riscos, a Ecovias adota a Operação Comboio sempre que a visibilidade dos motoristas fica comprometida – abaixo de 100 metros. Nestas situações, os veículos circulam escoltados por viaturas da Polícia Rodoviária e da concessionária a uma velocidade máxima de 40 quilômetros por hora como medida de segurança.


Polícia destaca trabalho contínuo de fiscalização e operações conjunta

Em resposta aos problemas destacados pela equipe do Diário nas rodovias do SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes), a SSP (Secretaria da Segurança Pública) do Estado destacou que as polícias Civil e Militar realizam ações na tentativa de coibir os crimes, entre elas a força-tarefa
Operação Direção Segura, além das atuações de campo para conter crimes contra o patrimônio e o tráfico de drogas, e da Polícia Judiciária, promovidas mensalmente.

Outra ação enfatizada pela SSP e considerada importante para o combate à criminalidade na região é a implantação do sistema Detecta, por meio de 41 câmeras do DER (Departamento de Estradas de Rodagem) distribuídas em 30 pontos das rodovias que interligam as cidades da região.

Além disso, o Estado observa que cerca de 30 policiais concluíram treinamento recentemente e estão nas ruas, em viaturas descaracterizadas, realizando abordagens e trabalhos investigativos nas rodovias. Na semana passada, dois adolescentes foram detidos, sendo reconhecidos em aproximadamente 40 roubos. Até outubro, 6.169 pessoas foram presas em flagrante e 1.033 armas de fogo foram apreendidas na Baixada Santista.

A Polícia Militar considerou ainda que grupo de trabalho coordenado pela Artesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo ), desde o segundo semestre de 2016, tenta buscar soluções para a questão do comércio ambulante nos pedágios do SAI. Já foram realizadas 37 operações de fiscalização desde novembro de 2016 e apreendidas oito toneladas de mercadorias.

A Ecovias deu prazo até 6 de janeiro para que os call box sejam consertados e destacou reforçar o monitoramento por meio de câmeras.


Arrastões persistem apesar de câmeras

Relatos de arrastões em trechos das estradas do SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes) continuam a colocar usuários das duas rodovias em alerta.
No ano passado, a Ecovias, concessionária responsável pelo Sistema Anchieta-Imigrantes, instalou 16 câmeras de segurança nas estradas, na tentativa de coibir ação dos criminosos. No entanto, usuários relatam que a medida não surtiu o efeito esperado.

“Os arrastões continuam. Há duas semanas mesmo tivemos um assalto no horário do almoço aqui no posto de gasolina. Foram uns cinco rapazes. No último feriado, novamente motoristas foram assaltados aqui na frente. Não tem jeito, eles não têm medo”, comenta a frentista Alailza Maria Barros, 31 anos.

Segundo usuários, um dos trechos mais perigosos está próximo ao km 59 da Rodovia dos Imigrantes, na divisa de São Bernardo com Cubatão. Foi lá que, em maio do ano passado, tentativa de assalto resultou na morte do estudante Reinaldo Lima de Souza Júnior, 17 anos, atingido na cabeça por pedra de 20 quilos durante ação de grupo criminoso.

Na quarta-feira, a equipe do Diário foi até o local para verificar a situação. Durante cerca de 30 minutos, nenhuma viatura da Polícia Militar Rodoviária foi vista. Em contrapartida, moradores caminhavam livremente pelo trecho, próximo de uma comunidade.

Incomodados com a presença da equipe do Diário no acostamento da rodovia, moradores chegaram a pressionar pela a saída dos profissionais. “A gente sempre fala para as pessoas, em hipótese nenhuma, parar neste trecho do muro. É muito perigoso. Eles (criminosos) se escondem lá e só esperam pela oportunidade certa”, afirma o vendedor Rubens Moraes, 46.




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