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90% dos acidentes com rede elétrica são nas férias
Artur Rodrigues
Do Diário do Grande ABC
02/01/2006 | 07:55
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Com décimo terceiro no bolso, muitos aproveitam para fazer reparos, aumentar um andar ou pintar a fachada de casa. Resultado: 90% dos acidentes com eletricidade em obras residenciais ocorre nos meses de dezembro e janeiro. Esse tipo de obra, feita por conta própria, conhecida como puxadinho, já representa mais de 20% das mortes em acidentes com a rede elétrica nos 24 municípios do Estado que a Eletropaulo atua. Ou seja: das 32 pessoas mortas eletrocutadas em 2005, sete estavam fazendo melhorias em casa. O puxadinho – junto com imprudência – também foi causa de 42 dos 152 acidentes sem vítimas fatais registrados em 2005. Média que se mantém na região, segundo a Eletropaulo.

O desempregado Emir de Carvalho, 48 anos, entrou para a estatística de acidentes com rede elétrica e por pouco não se tornou a 33ª vítima fatal do ano passado. Há cinco meses, ajudava o cunhado a ampliar a residência, no Jardim das Nações, em Diadema, quando encostou um objeto metálico na rede de alta tensão. “Apaguei. Só acordei no hospital”, conta o homem. No corpo, os sinais da descarga de 7,6 mil volts.

O pescoço e a perna de Emir, bastante queimados, servem de alerta aos moradores do bairro sobre o perigo da rede elétrica. “De vez em quando sinto dor. Mas sei que tive sorte. Só não sei como sobrevivi”, diz o homem.

O gerente da Gestão da Distribuição da Unidade Regional Grande ABC da AES Eletropaulo, Elias Santos, explica por que alguns se salvam. “A corrente vai procurar um caminho para poder ir para terra. Se esse caminho for a pessoa, ela recebe a descarga. Se a corrente passar pelo coração, a pessoa vai morrer com certeza. Se for a perna, pode ter o membro amputado. Mas algumas vezes ocorre de a descarga ir direto para a laje”, afirma Santos.

No Grande ABC, ocorreram cinco acidentes fatais, 22 leves e oito graves no ano passado. Diadema, cidade de maior densidade populacional da região, é o ponto crítico, segundo a Eletropaulo. Andando pelas ruas da cidade, é fácil perceber o motivo. Nos bairros da periferia, quase não há calçadas. As casas avançam para frente, em direção à rua, e para cima, muitas vezes ultrapassando três andares. Em alguns locais, os fios de alta tensão passam por dentro das casas.

O pedreiro José Carlos da Silva, 36 anos, também de Diadema, cansou de ver companheiros de profissão feridos em acidentes com a rede elétrica. Muitos no mês de dezembro, como estima a Eletropaulo. “Nessa época, aumenta o serviço”, constata o homem.

Quando foi abordado pela reportagem, o pedreiro levava telhas, por meio de uma corda, para a laje de um sobrado. Para que o material de construção chegasse ao alto da casa, era preciso desviá-lo de um labirinto de fios elétricos. “Mas já estou acostumado. Tomo o maior cuidado com isso”, comenta.

No ranking da Eletropaulo, o segundo lugar em acidentes fica para as pipas, com 15 leves, quatro graves e três fatais. Nesses casos, o cerol (pó de vidro com cola), usado para cortar a linha de outras pipas, costuma danificar a borracha que recobre os fios e potencializa as chance de acidentes. A arrumação ou instalação de antenas de televisão fica com o terceiro lugar na lista. Nesse quesito, são cinco acidentes leves, quatro graves e dois fatais. O número total de acidentes, no entanto, tende a ser maior, porque nem todos os casos são notificados à Eletropaulo.

Em alguns dos casos, não é necessário nem mesmo que a pessoa toque no fio para receber a descarga elétrica. A proximidade de 15 centímetros da rede de alta tensão pode ser suficiente para que a pessoa sofra um choque.

A Eletropaulo aposta em palestras em escolas e campanhas publicitárias para tentar diminuir o índice de acidentes. “Apesar de não parecer que existe correlação, a gente tem feito várias palestras, em escolas públicas e privadas, que têm surtido efeito no número de acidentes. É uma maneira de colocar sementinha dentro das casas das pessoas”, afirma Elias Santos, da Eletropaulo.

Cuidados na construção ou reforma

Antes de construir, verifique se a obra não está ou ficará próxima da rede de distribuição de eletricidade;

Faça a instalação adequada e na dimensão certa. Prefira os serviços de profissional habilitado. Instale o fio-terra. É a proteção dos seus equipamentos einstalação no caso de alguma sobrecarga ou curto circuito;

Se a construção já foi concluída e as janelas ou sacadas ficaram próximas à rede, solicite a AES Eletropaulo o afastamento do circuito. A aproximação de um objeto metálico pode provocar acidente;

Ao manobrar barras de metal ou vergalhão de ferro, cuide para que nada toque ou se aproxime da rede elétrica.Se isso acontecer, largue estes objetos imediatamente e não tente recuperá-los. Você pode receber descarga elétrica;

Ao construir ou reformar telhados, mantenha sempre uma distância segura da rede elétrica;

Construções de segundo ou terceiro pavimento ficam mais próximas da rede de alta tensão, pela qual normalmente passam 13 mil volts. A aproximação de cerca de 15 centímetros da rede pode provocar violenta descarga elétrica;

Ao manusear telhas galvanizadas, calhas e rufos, assegure-se de que não irão tocar nos fios e cabos da rede elétrica; Na pintura de fachadas, trabalhos em andaimes, instalações de painéis e luminosos, mantenha distância segura da rede

Instale sua antena a uma distância segura para que não toque nos fios da rede elétrica em caso de queda;

Antes de realizar qualquer trabalho, construção ou reformas próximo das linhas de transmissão, comunique a AES Eletropaulo para conhecer os limites da faixa de segurança;

Na pintura de fachadas, trabalhos em andaimes, instalações de painéis e luminosos, mantenha distância segura da rede.    




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