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Artista plástico Pazé recebe grupo da região
Por Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
13/03/2005 | 17:49
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A fotografia do local onde foi encontrado em 2002 o corpo do então prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado a tiros, é um dos elementos da exposição do artista plástico paulistano Pazé, em cartaz com entrada franca até dia 24 na galeria Casa Triângulo, em São Paulo. Obras que simbolizam um tabuleiro e um pelotão de fuzilamento com nove soldadinhos de brinquedo completam a instalação, parte da mostra Sobre a Terra do Sol. O tema é a sistematização da violência urbana.

A ligação histórica e emocional que o evento mantém com o Grande ABC motivou a ida de 15 pessoas da região à galeria semana passada, atividade promovida pela Casa do Olhar de Santo André e acompanhada pelo Diário. A Prefeitura providenciou o transporte do grupo em um ônibus.

“Quis ambientar a situação que estamos vivendo, esse sistema eficaz de matança do qual o caso do prefeito Celso Daniel é um exemplo clássico”, afirmou Pazé. Ele recepcionou o grupo junto à professora universitária Nancy Betts, que falou sobre arte contemporânea e sobre a mostra.

Impressões - “Pazé abre os olhos das pessoas para o fato de estarmos inseridos nesse jogo de vida e de morte. Nós somos as peças. Ele faz a gente pensar no nosso cotidiano”, disse o repórter fotográfico Fernando Ferreira.

Edir Linhares, do Centro de Dança de Santo André, fez um paralelo entre a exposição e o longa-metragem A Paixão de Cristo, de Mel Gibson. “No filme é apresentada a tortura a que Cristo foi submetido. Mostra muito sangue, explorando a plasticidade. Já na mostra é trabalhado sobretudo o enredo. Parece então uma inversão de linguagens: o cinema utilizando mais o caráter plástico e as artes plásticas explorando o enredo.”

A forma como Pazé criou beleza estética, de forma lúdica, a partir do que foi um ato violento impressionou a assistente cultural Nilza Cavinato. Ela também disse crer na arte como ferramenta para soluções de problemas como a violência.

O estudante Eduardo Izidoro, que cursa Educação Artística na andreense Fainc (Faculdades Integradas Coração de Jesus), afirmou que ver a foto do local onde foi encontrado o corpo de Celso Daniel o fez lembrar da época do acontecimento. “Recordei das imagens que vi na TV e em jornais”.

Mazé, que integra o Núcleo de Artes Plásticas da Casa do Olhar, afirmou que o artista foi muito feliz na proposta de passar a idéia de jogo da vida. Para ela, a pesquisa de dois anos que Pazé fez para elaborar os trabalhos foi fundamental para resolver o conceito da exposição.

Integrante dos núcleos de fotografia e de artes plásticas da Casa do Olhar, Cristina Pereira ficou surpresa com a capacidade de Pazé de utilizar uma linguagem que remete ao mundo infantil para tratar de violência. “A maioria que tenta fazer isso acaba caindo na crueldade”, afirmou Cristina, acrescentando que o caminho da arte contemporânea é o engajamento.

“Quando entrei na mostra fiz diversas leituras, foram várias viagens. Com as explicações do Pazé e da Nancy, consegui entender melhor a idéia”, disse Cléo Santos, do núcleo de fotografia.

Ela depois analisou a obra em partes: “A fotografia faz você entrar nela, seguir a estrada de terra retratada. Os bonequinhos remetem ao fato de que alguém sempre está apontando para a gente. O tabuleiro significa que cada um deve buscar um melhor caminho para si”.

Também estudante da Fainc, André Luiz Correa falou exclusivamente da parte estética. Uma das características da mostra que mais o agradaram foi Pazé ter utilizado várias linguagens artísticas em um só trabalho.



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