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Dolly demite cerca de 300 funcionários no Grande ABC

Em greve há 25 dias pelo atraso de salários, operários têm medo de não receber rescisão

Por Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
16/06/2018 | 07:14
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A fabricante de bebidas Dolly, que possui unidade em Diadema e centro de distribuição em São Bernardo, demitiu ontem cerca de 300 dos seus 700 trabalhadores. De acordo com informações de operários, só na fábrica foram desligados mais de 200 profissionais, de diversos setores. Restaram menos da metade que atuava no local. A explicação dada foi que a empresa não tinha mais como manter os colaboradores.

“Nosso maior receio agora é que eles cumpram com suas obrigações e paguem os nossos direitos que, além das verbas rescisórias, incluem o pagamento em atraso e o aviso prévio, que assinamos ontem”, diz um dos ex-funcionários que pediu sigilo. Ele se refere aos responsáveis no plural porque muitos deles são terceirizados, e por várias empresas. No ponto da fábrica, para se ter ideia, ele constava como empregado da Ecoserv e, no registro da carteira de trabalho, como Ragi Refrigerantes. “Todos da Ecoserv foram dispensados, e esta era a empresa que tinha mais colaboradores. Por enquanto, ficaram os que atuam pela Brabeb.”

Um dos trabalhadores do centro de distribuição conta que empregados da Redimpex também foram demitidos, sem precisar quantos. “Eles não têm nem condições de pagar nossos salários, quem dirá a rescisão. Como eles vão fazer o nosso acerto?"

De acordo com outro ex-empregado, o restaurante da fábrica não existe mais. “O pessoal dos escritórios, de vendas e de telemarketing que ainda está indo trabalhar está se virando com lanches. E o da limpeza está sendo dispensado mais cedo.”

Na quinta-feira, os operários haviam recebido mais R$ 300, além de R$ 300 pagos na segunda, totalizando R$ 600 referentes aos salários atrasados desde 18 de maio. Eles também receberam cesta básica e os que tinham seus convênios médicos interrompidos por falta de pagamento foram reativados.

Segundo Ademir José da Silva, coordenador do Sintetra (Sindicato dos Rodoviários do ABC), todos foram pegos de surpresa. “Soube no fim da tarde (de ontem) que boa parte dos funcionários da fábrica tinham sido demitidos, e alguns encarregados do centro de distribuição, mas não tenho mais informações. Somente na segunda vamos entender o que aconteceu. Tínhamos marcado assembleia na terça para tentar avançar na situação e redefinir os rumos da greve”, assinala. A paralisação chegou ontem ao 25º dia.

Cerca de 150 trabalhadores se manifestaram há uma semana em frente ao Juizado Especial Federal de São Bernardo para chamar a atenção da juíza Lesley Gasparini, na esperança de reverter o bloqueio dos bens da firma, o que não aconteceu. A justificativa da empresa para o não pagamento dos salários está no bloqueio dos bens. Procurada, a Dolly não respondeu até o fechamento desta edição.

IMBRÓGLIO - Conforme matéria do Diário de 12 de maio, especialistas apontavam que a prisão do dono da Dolly, Laerte Codonho, – que durou oito dias – e a investigação de sonegação, lavagem de dinheiro e fraude fiscal – ainda em curso e sigilo, conforme o MP-SP (Ministério Público de São Paulo) – poderiam colocar em xeque a continuidade das atividades da fabricante, com o risco de fechamento de postos de trabalho e até mesmo das unidades. Se os golpes forem provados, a estimativa é que o rombo de valores devidos ao Estado e à União chegue a R$ 4 bilhões.
 




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