A mão no queixo após abrir o placar contra a Espanha, ontem, no Fisht Stadium, em Sochi, fez a imagem de Cristiano Ronaldo instantaneamente rodar o mundo. Era como se ele imitasse uma cabra, goat em inglês, iniciais da expressão Greatest Of All Times (Melhor de Todos os Tempos, em português). Foi justamente atrás disso que o português foi à Rússia. Os outros dois gols que ainda marcaria no incrível empate por 3 a 3 no clássico ibérico contra a Espanha aproximam o astro do feito. Eleito cinco vezes pela Fifa o melhor do planeta, o atacante sabe que precisa de um título mundial e, aos 33 anos, essa é a sua última chance.

A pressão sobre CR7 era grande. Ele fracassou nas três Copas que havia disputado, com um gol em cada uma. Ontem, na estreia, contra o adversário mais difícil do Grupo B, balancou a rede três vezes e igualou marca de Pelé, e dos alemães Uwe Seeler e Klose, como únicos a marcar em quatro mundiais. E ele ainda terá Marrocos e Irã pela frente na primeira fase.

A fome do português se materializou em gol longo no início. Com um minuto, CR7 pedalou para cima de Nacho e foi derrubado dentro da área. Ele mesmo converteu o pênalti.

Favorita ao título, a Espanha queria mostrar que a substituição do técnico Julen Lopetegui por Fernando Hierro, dois dias antes da estreia, não mudou nada e contou com noite inspirada do brasileiro Diego Costa, que logo empatou.

Foi então que o goleiro espanhol De Gea, que durante a semana disse ter estudado CR7, foi reprovado. Tomou frango em chute rasteiro do português.

A conversa de Hierro no intervalo funcionou. A Espanha voltou avassaladora. Virou em 13 minutos com outro gol de Diego Costa e em lindo chute de Nacho, se redimindo do pênalti cometido no início.

O jogo, que era esperado por todo o mundo desde o sorteio dos grupos, correspondia à expectativa. Com a vantagem de 3 a 2, a Espanha parecia consolidada no clássico, mostrava força, bom volume de jogo e troca de passes envolvente, fazendo jus a fama de favorita ao título.

Portugal parecia entregue em campo, mas quem tem CR7 não desiste. O craque sofreu falta na entrada da área e com chute espetacular empatou o clássico. “Trabalho há muitos anos e confio em mim”, disse o comedido Ronaldo. “Mais importante que capacidade física é a mental dele. É incrível por isso. Tem qualidade técnica, física e mental impressionantes. Por isso é o melhor do mundo”, cravou o técnico Fernando Santos.

Português muda rotina na padaria para vibrar com Cristiano Ronaldo

A rotina da padaria que o seo Manoel Sampaio tem na Avenida Lino Jardim, em Santo André, mudou ontem. Era dia de Portugal em campo na Copa do Mundo. O avental deu lugar a camisa e cachecol da seleção lusa e os olhos, que antes ficavam entre caixa e balcão, não desgrudavam da televisão. Pelo futebol ele mata saudade da terra natal, que deixou há 57 anos, quando veio morar no Brasil.

“Jogo de Portugal é especial. Não acompanho muito futebol, mas a seleção sim. É uma forma de matar a saudade, de lembrar das minhas raízes”, conta ele, que nasceu em vilarejo chamado Covo, que pertence a Peso da Régua, cidade localizada a 117 quilômetros do Porto.
Aposentado e dono da padaria há cinco anos, seo Manoel sempre que pode vai a Portugal. Tem uma irmã que ainda mora em Covo, mas não pensa em retornar ao país de origem. “Gosto muito do Brasil. Isso aqui é uma pérola. Não fosse a corrupção seríamos uma potência mundial. Olho no mapa e não acredito que um país desse tamanho não é rico”, constata.

Aos 75 anos, Manoel esbanja vitalidade e gritou cada vez que Cristiano Ronaldo balançou a rede – e precisou ter garganta para vibrar três vezes ontem. Para ele, CR7 está na sua melhor fase. “É a última chance que o Ronaldo tem de ser campeão do mundo. Por isso acredito que fará diferença”, projeta o português, que já faz planos para assistir às fases decisivas da Copa ao lado de conterrâneos.