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Usuários e empresários defendem reformulação
Por Daniel Macário
Diário do Grande ABC
06/08/2017 | 07:00
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Denis Maciel


O sistema de transporte público por ônibus em Santo André, que a cada dia transporta 183,2 mil pessoas, requer reformulação. Passageiros e empresários do setor concordam que mudanças são necessárias para melhorar a qualidade do serviço e evitar que o modelo deixe de ser financeiramente sustentável.

Passageiros defendem mais ônibus nas ruas para diminuir duas das principais reclamações dos usuários: a superlotação dos coletivos e o longo tempo de espera nos pontos. Apenas nos sete primeiros meses do ano, a Prefeitura registrou 360 queixas contra o sistema – algumas delas contra motoristas que simplesmente ignoram os sinais para parar.

“Por mais que tenham wi-fi, os ônibus ainda são insuficientes. Tem dia que você fica 30 minutos no ponto”, destaca a vendedora Nathália Soares, 31 anos. Ela falou com a reportagem do Diário enquanto esperava o ônibus no terminal da Vila Luzita, que aguarda por reforma. “Quando chove, isso daqui é um horror.”

Usuária do sistema desde adolescente, quando tomava os coletivos para fazer o trajeto entre a casa e a escola, a recepcionista Neide Nascimento, 44, considera-se fiscal do sistema. “Qualquer problema que tenho, reclamo. Comigo não tem vez”, relata, demonstrando insatisfação com a demora do ônibus. “Quando entrar, vou falar para o motorista.”

Entre os pontos positivos reconhecidos pelos usuários estão a qualidade dos veículos e também a facilidade de acesso a passageiros com necessidades especiais. Por lei, os ônibus que circulam por Santo André não podem ter mais do que dez anos – a idade média da frota é de seis, e 82% dos carros possuem acessibilidade para deficientes físicos.

A manutenção de veículos novos e a ampliação do volume de grupos beneficiados por passagens livres aumentam os custos para as companhias e preocupam os empresários do setor. Segundo o gerente-geral da Aesa (Associação das Empresas do Sistema de Transporte de Santo André), Luiz Marcondes de Freitas Júnior, somente neste semestre foram contabilizados 5,3 milhões de acessos gratuitos.

“A projeção é que 2017 feche com um total de 10,7 milhões (de usuários que não pagam passagem), número bem superior ao 1 milhão de acessos registrados em 2000.” O executivo admite que o tema tem sido discutido pelos empresários. “Se não forem colocadas em prática medidas para equilibrar as contas, o sistema corre sérios riscos de perder a qualidade.” Atualmente, 21% do total de passageiros são beneficiados com a gratuidade. “No fim, quem paga esse custo são os demais usuários.”

Na análise do gerente, é necessário reequilibrar as contas para que o sistema consiga oferecer serviço de qualidade e com preço justo. “Hoje, por exemplo, todos os estudantes, sejam eles de escola privada ou pública, são beneficiados pela gratuidade. Em algumas cidades, esse modelo já foi restringido”, cita Marcondes.

Em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, o prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB) enviou à Câmara projeto para acabar com algumas isenções. O tucano afirmou que, se não tomasse a atitude, teria de reajustar muito o valor da passagem em 2018. Em São Paulo, a fim de manter o sistema operando, a gestão de João Doria (PSDB) precisou remanejar para pagar subsídios verba reservada para as construções de corredores e de terminais.

SÉRIE - Com a publicação do raio X do transporte público municipal por ônibus em Santo André, o Diário inicia série de reportagens sobre o sistema nos sete municípios do Grande ABC. O objetivo é discutir melhorias na prestação do serviço e relatar a realidade enfrentada pelos quase 700 mil usuários, cerca de um quarto da população da região que utiliza diariamente o serviço. São Bernardo será o tema do próximo domingo.

Paço ainda elabora licitação para Vila Luzita

Discutida desde o ano passado, quando a Expresso Guarará entrou com pedido de falência, a licitação para concessão do transporte municipal de ônibus da Vila Luzita, região mais populosa de Santo André, segue parado na administração pública.

Conforme noticiado nesta semana pelo Diário, a SATrans (autarquia responsável pelo transporte municipal da cidade) reiniciou o processo licitatório que visa contratar empresa que fará estudo técnico sobre os serviços de transporte público coletivo da cidade e as elaborações de projeto básico e de proposta de viabilidade econômico-financeira sobre o sistema de transporte da cidade.

Na sexta-feira, durante audiência, a SATrans recebeu propostas comerciais com a finalidade de selecionar empresa vencedora do certame. Os documentos estão sendo analisados. A expectativa é a de que o resultado seja anunciado ainda nesta semana.

Somente com a finalização deste processo e, posteriormente, com a entrega dos estudos, é que a Prefeitura deve lançar oficialmente a concorrência para a concessão. A previsão é que isso ocorra até o início de 2018.

Segundo o Paço, enquanto o certame não é finalizado, a Suzantur continuará operando de maneira precária o sistema da Vila Luzita até o fim do processo. A equipe de reportagem não conseguiu contato com empresa até o fechamento desta edição.

MUDANÇAS - A promessa é que além do início da concorrência, a administração municipal também consiga ter em mãos amplo diagnóstico do sistema de transporte municipal de Santo André, com dados de itinerários, necessidades de usuários, dentre outros assuntos.

A atual gestão cogita, inclusive, com o estudo em mãos, reformular itinerários de ônibus visando as mudanças geográficas da cidade. A criação de novas linhas não é descartada pelo governo andreense.




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