Setecidades Titulo Educação
Governo recua e reorganização da rede estadual é adiada

Pressão obriga Estado a debater o tema em 2016;
alunos aguardam publicação para desocupar escolas

Por Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
05/12/2015 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


Anunciada em setembro e prevista para entrar em vigor em janeiro, a reorganização da rede estadual de ensino foi adiada para 2017. Pressionado pelos inúmeros atos de manifestação por parte de alunos e professores e também pelo questionamento da sociedade civil sobre a proposta, o governador Geraldo Alckmin (PDSB) recuou e, em pronunciamento feito na tarde de ontem, declarou que o projeto será alvo de debates ao longo do próximo ano. Poucas horas após o anúncio, o secretário estadual da Educação, Herman Voorwald, pediu demissão do cargo.

“Recebi e respeito a mensagem dos estudantes e dos seus familiares com suas dúvidas e preocupações em relação à reorganização. Por isso nossa decisão de adiar a reorganização e rediscutí-la escola por escola, com a comunidade, com os estudantes e, em especial com os pais dos alunos”, afirmou o governador. Segundo ele, é preciso aprofundar o diálogo sobre o tema, tendo em vista que “acreditamos nos benefícios da reorganização”. Para finalizar, Alckmin citou o papa Francisco. “Sempre que perguntado entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo.”

Embora tenham comemorado, em carta aberta estudantes destacaram que as pelo menos 200 ocupações de escolas em todo o Estado, 25 na região, serão mantidas até que o adiamento seja publicado no Diário Oficial. Os jovens pedem ainda a liberdade de todos os manifestantes atualmente presos e a não punição de nenhum discente envolvido na luta. “Consolidando nossa vitória, nada será como antes para a luta em 2016, que deve continuar. Nós, estudantes, provamos o poder que temos!”, ressaltam.

Presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Maria Izabel Noronha segue a mesma linha de pensamento. “Era uma necessidade (a suspensão). As escolas públicas nunca mais serão as mesmas. Agora, temos de esperar o governo cumprir sua palavra e revogar o decreto.”

Anunciada em setembro, a proposta estadual previa a distribuição de alunos nas escolas de acordo com o ciclo de aprendizado: 1º ao 5º ano (crianças com idade entre 6 e 10 anos), 6º ao 9º ano (11 a 14 anos) e Ensino Médio (15 a 18 anos). Com isso, 311 mil estudantes seriam transferidos em todo o Estado e 94 prédios fechados, sendo seis na região.

O projeto recebeu diversas análises e questionamentos, entre eles de professores da UFABC (Universidade Federal do ABC), USP (Universidade de São Paulo), Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). E, na quinta-feira, o MP (Ministério Público) e a Defensoria Pública do Estado ajuizaram ação civil pública que pedia a suspensão da reorganização.

Nos últimos dias, as manifestações estudantis ganharam força e os conflitos com a polícia passaram a ser intensos. Outra polêmica foi o vazamento de áudio em que o chefe de gabinete da Secretaria de Educação do Estado, Fernando Padua, classifica a situação como sendo de “guerra” e fala em “desmoralizar e desclassificar” o movimento dos estudantes, já destacado anteriormente pelo TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) como um direito. Diante do cenário, o Estado anunciou, na quinta-feira, a primeira audiência pública no dia 9, às 9h, no Memorial da América Latina, na Capital.
O nome do substituto do secretário de Educação deve ser divulgado apenas na próxima semana.


Estudantes permanecem nas escolas

Os alunos das 25 escolas ocupadas da região vão permanecer nas unidades mesmo após o anúncio do governador Geraldo Alckmin (PSDB) de suspender a reorganização na rede estadual. Reunião da Umes (União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo) está prevista para amanhã.

Na EE Diadema, a primeira escola ocupada no Estado, o clima era de resistência. “Isso demonstrou a força dos estudantes. Estamos muito felizes porque conseguimos começar um movimento. Mas o que realmente queremos é o cancelamento definitivo da reorganização”, disse Luana Maciel, 17 anos, aluna do 3º ano do Ensino Médio.

Ariane Cristina Favaro, 31, é mãe de jovem matriculado no Ensino Médio da EE 16 de Julho, no Centreville, em Santo André, e ajuda na ocupação. “Percebemos o quanto as escolas estão malcuidadas. Meu filho adora estudar aqui, e a transferência seria para uma unidade longe de onde moramos. Queremos ainda mais recursos para Educação.”

Na EE Senador João Galeão Carvalhal, na Vila Bastos, os alunos celebraram, mas também anunciaram que não vão desocupar o local. “É uma vitória. Conseguimos ver que somos capazes de mudar, mas só deixaremos a escola depois de uma assembleia. Também queremos a saída da nossa atual diretora”, afirmou o estudante do 2º ano do Ensino Médio Rodrigo Gissoni, 17. (Yara Ferraz




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