Tirar a garotada do comodismo típico da geração internet e transformar em feras no taekwondo é desafio diário em Diadema. Mais do que isso, traduz o termo ação social em realidade palpável em uma cidade do Grande ABC ainda sem muita tradição esportiva. Com pouco mais de um ano de existência, o projeto Colegas, realizado em uma pequena metalúrgica no bairro Serraria, já rende resultados surpreendentes.

No mês passado, 18 atletas da equipe comandada pelo professor Michel Saimon participaram do Campeonato Brasileiro Interclubes, em Mogi das Cruzes, e faturaram 24 medalhas (14 de ouro, cinco de prata e cinco de bronze) nas categorias kyorugui (luta), e poomse (demonstração).

Coordenado pela pedagoga Célia Batista, o trabalho com a arte marcial coreana é pioneiro em empresas de São Paulo. "O material humano em regiões carentes é bem parecido. Quando se propõem (praticantes) a fazer algo, não importa a idade, se esforçam em dobro para ficarem bons. As pessoas são mais ávidas por elogios e em vencer. Isso contagia todo o ambiente da academia e sempre molda campeões", afirmou Saimon.

Atleta mais jovem a alcançar a graduação máxima no taekwondo no Brasil (com oito anos de idade, fato que o colocou na edição nacional do Guinness - Livro dos Recordes em 1994), Michel tem apenas 23 anos, mas é veterano nas ações voluntárias em Diadema. A atual empreitada - gratuita e que tem como participantes funcionários e famílias, parentes e convidados - é a segunda que encabeça na cidade. "O que falta por aqui é falar menos e agir mais, como são por essência as artes marciais. Comecei a dar aulas de taekwondo aos 11 anos na sala de casa e não parei mais. Sempre gostei de ensinar e ajudar os outros", comentou.

Dos 70 alunos, a maioria é composta por jovens entre 5 e 18 anos. Boa parte já está graduada na faixa amarela (terceira). No Brasileiro em Mogi, a equipe de Saimon foi a única que representou a cidade, e ainda recebeu troféu especial de menção honrosa pela participação de quatro atletas de apenas cinco anos: Paulo Sérgio, Karina Silva, Arthur Ladislau e Naum Oliveira.

Árbitro da FPF usa treinos como complemento físico

Fernando Capelli

Muito além dos golpes contundentes, as aulas de taekwondo do projeto em Diadema também são usadas como atividade complementar de preparação física. É o caso do árbitro-assistente da FPF (Federação Paulista de Futebol), Renato de Oliveira Cardoso, 25 anos, que treina com Saimon desde o primeiro dia.

"Começamos em três e hoje tem muitos alunos. Os treinos ajudam na parte de resistência e flexibilidade, e isso me deixa em dia nos exames físicos da federação, que estão cada vez mais pedreiras", afirmou.

Atualmente classificado na categoria Prata (atua em jogos das divisões inferiores do futebol paulista), Cardoso concilia os treinos da luta com viagens profissionais pelo futebol. "Ano que vem pretendo subir de categoria e bandeirar partidas pelo Brasil todo. Apertei o ritmo dos treinos aqui, de acordo com o que mais preciso para os testes físicos futuros", explicou. "Mas também tem a parte do combate mesmo. Com essa vida de árbitro, é praticamente inevitável o dia em que você vai ter de se defender", brincou.