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Omnisys investe R$ 5 mi para ampliar área em São Bernardo

Empresa, que tem radares como carro-chefe, cresce na esteira do aquecimento da defesa, apesar da pandemia

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
08/11/2020 | 07:00
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DGABC


 A Omnisys, empresa de engenharia desenvolvedora de alta tecnologia para os setores aeroespacial e de defesa situada em São Bernardo, irá ampliar sua área produtiva na cidade até o fim do ano. Subsidiária do grupo francês Thales desde 2005, a companhia, que tem como carro-chefe a produção de radares, a exemplo dos de vigilância costeira e controle de tráfego aéreo, passará dos atuais 6.000 metros quadrados de área útil para 7.400 metros quadrados em um primeiro momento. A expectativa é finalizar o processo até janeiro.

“No fim de 2019, colocaram para alugar prédio na nossa rua. E esse tipo de oportunidade só acontece uma vez. Iniciamos a revitalização do edifício e, em março, fomos surpreendidos pela Covid-19. Mas estávamos em um ponto em que não dava mais para abortar a decolagem”, contou Luciano Macaferri Rodrigues, diretor-geral da Thales no Brasil, em visita ao Diário. “E, apesar de o setor de aviação ter dado uma parada devido à pandemia, as Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica, todos clientes da empresa) afirmaram que a diretriz era seguir em frente. ‘Não parem’, disseram. Tanto que, em agosto, inauguramos radar em Corumbá (Mato Grosso do Sul, para reforçar segurança aérea na fronteira com Paraguai e Bolívia). Foi enorme operação, pois enviamos profissionais para lá e trouxemos pessoal do Exército a São Bernardo para fazer a aceitação do equipamento, tudo com rígidos controles sanitários.”

Rodrigues disse que ainda estão decidindo o que irá para o prédio novo, mas incluirá a parte da montagem mecânica. “Deverá ir o sistema transportável de rastreio de engenhos em voo que desenvolvemos para o Exército, composto por cinco caminhões que sairão daqui com radares embarcados e com telemetria (sistema de comunicação). Entramos com o caminhão ali no edifício e o recheamos de eletrônicos. É um produto que não tínhamos, assinamos em abril do ano passado. E hoje já trabalhamos a possibilidade de exportá-lo”, assinalou. “Nosso centro de serviços de aviônicos também deve ser ampliado no prédio novo e prevemos novos produtos brasileiros. Porque vendemos aqui também sistemas que são fabricados fora. Por exemplo, um satélite. Desse produto, muito pouca coisa é feita aqui. Já na parte civil, quase tudo o que vendemos produzimos aqui. Por exemplo, fabricamos o Radar Banda L, de longo alcance. Só nós produzimos esse radar no mundo todo para a Thales. Considerando que ela está presente em 68 países, qualquer empregado que vender em qualquer país, somos nós que vamos fabricar.”

O Radar Banda L permite que o controlador de voo não só acompanhe as aeronaves na tela (versão primária), mas interaja com ela por meio de dispositivo no avião chamado transponder, e passe informações como velocidade, altitude e identifique problemas, como sequestro ou acidente, a partir da digitação de um código pelo piloto (versão secundária).

Segundo o executivo, em 2018, 80% da produção de São Bernardo era embarcada a outros países, percentual que recuou para 40% em 2019 e foi mantido neste ano. Mas, como desde 2016, quando a sede da Thales aportou na região, o faturamento da empresa quase triplicou, a produção do Brasil também aumentou, e neste ano deve ser mantido (números da Omnisys não são abertos). Por isso, justifica Rodrigues, o percentual de vendas ao Exterior baixou. Na operação do Brasil, quase a metade em termos de vendas e um terço em relação à receita provêm da região.

Para se ter ideia, em 2016, a empresa ganhou o centro de excelência em sonares, que funcionam de maneira semelhante aos radares em navios e submarinos, e têm o objetivo de detectar alvos e obstáculos, assim como medir profundidade e se comunicar.

Em 2018, foi lançado o centro de serviços de aviônicos e entretenimento de bordo, certificado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para realizar reparos. Lá existem hoje dois simuladores da Azul. Um com comando no braço, que não é touch screen e atende modelo da Embraer, e outro mais moderno, da Airbus, que possui TV ao vivo e conteúdo sob demanda. “São 120 telas do Embraer e 170 do Airbus. Antes de a Azul fazer um upload, a gente testa tudo, para evitar problemas”, explicou o diretor-geral.

E, desde o fim de 2019, ali funciona design center para atender a América Latina. Projetado para conectar equipes multidisciplinares e integrar diferentes áreas, o espaço converge questões tecnológicas e comerciais propondo solução ideal.

Mesmo em meio à pandemia, portanto, o grupo prevê crescimento. “A empresa começou a dar caixa e decidimos segurar um pouco e reinvestir nela, reforçando seu desempenho. Não quero fazer voo de galinha. Se triplicamos nossa receita, temos de manter o ritmo. Em 2017, a meta era dobrar o faturamento até 2021. Mas nós mais que dobramos até 2020. Em cinco anos queremos dobrar o faturamento”, apontou Rodrigues.

Companhia vai contratar 35 profissionais no Grande ABC
A Omnisys irá contratar 35 profissionais e ampliar seu efetivo em São Bernardo de 220 para 255 trabalhadores. O perfil dessas vagas é de mão de obra altamente qualificada. Para saber mais informações sobre as oportunidades e as capacitações exigidas, é preciso ficar de olho no LinkedIn da empresa.

“Estamos conversando com empresas do setor que precisaram dispensar, pois são cérebros que não podem ser perdidos. Trata-se de mercado muito especializado”, assinalou Luciano Macaferri Rodrigues, diretor-geral da Thales.

A companhia possui também parceria com universidades da região, como a UFABC (Universidade Federal do ABC) e o Instituto Mauá de Tecnologia, com a qual existe forte convênio, inclusive na luta contra o novo coronavírus. “A Mauá criou conceito de respirador de baixo custo e nós desenvolvemos a parte eletrônica e, a Mercedes-Benz, a parte mecânica. Na região, havia demanda de 400 respiradores no início da pandemia e, agora, são de cerca de 300. Estamos no aguardo da certificação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).”

A fim de instigar os estudantes e também estimular formação de mão de obra qualificada, existem as salas Thales nessas universidades, com identidade visual da empresa.

A parceria com a academia também se estende aos testes de produtos. Com a UFABC foi firmado convênio para testar a parte de vibração de avião aeromodelo desenvolvido pelos alunos. “Assim como, por exemplo, produzimos os sonares, mas não temos piscina, então os testamos no IPQM (Instituto de Pesquisas da Marinha). A gente se complementa muito”, exemplificou.

ABRANGÊNCIA
“Dois a cada três aviões no mundo usam tecnologia da Thales”, afirmou Rodrigues. E, apesar de os radares estarem no DNA do grupo francês, nos últimos anos ela foi diversificando a sua atuação. Tanto que, na planta de Curitiba (Paraná), são produzidos cartões de crédito e débito, SIM cards e bilhetes de identidade. Lá é feito o encapsulamento de microchips. Há, ainda, unidade em Barueri (Região Metropolitana) e escritório no Parque Tecnológico de São José dos Campos (Interior). A Omnisys é controlada pela Thales desde 2005.




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