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À noite, Av.dos Estados é terra de ninguém
Por Rafael Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
05/02/2012 | 07:00
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Fernando Nonato/DGABC


Avenida dos Estados, região do Jardim Alzira Franco, em Santo André. Toda sexta-feira, por volta da 0h, o cenário que durante a semana é pacato, marcado sobretudo pelas residências e fábricas, transforma-se e se torna o ponto de encontro de funkeiros, muito deles menores de idade, usuários de drogas e até de praticantes de racha. Uma terra sem leis onde, apesar da presença tímida da Polícia Militar esporadicamente, vale tudo por aquilo que os frequentadores chamam de diversão.

A equipe do Diário flagrou, além das corridas ilegais, riscos de acidentes graves de trânsito, brigas e uma competição informal para ver quem tem o som mais pontente. Tudo regado ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas, adolescentes em trajes curtos e apertados e eventuais brigas.

O problema mais grave é o racha. Cientes de que a Polícia Militar aparece para coibir o som alto dos funkeiros nos postos de gasolina localizados na esquina da Avenida André Ramalho, os organizadores se concentram mais à frente. Na Rua Itaipava, se localiza uma das bases, onde os competidores fazem seu pit stop, fãs esperam para cumprimentá-los e até funciona uma central de apostas. De lá, saem os carros. São Gols de carroceria quadrada, design usado pela marca nos anos 1980, variando entre o bege e o cinza.

As placas são de Santo André e uma aproximação revela que são jovens de classe média. Possuem celulares de última geração e rádio para comunicação instantânea, usam roupas de grife, correntes de ouro ou prata e estão sempre acompanhados das namoradas. Apesar do horário, por volta da 1h, um deles, que parece ser espécie de líder, usa óculos escuros. Tenta desconversar sobre o esquema, mas se atrapalha.

"Não tem nada, mas quem sabe você não dá sorte", disse. Depois de cerca de 15 minutos, os Gol bege arrancam na Avenida dos Estados. Equipados, andam a cerca de 120 km/h, cortam pela direita, fazem manobras arriscadas em meio ao trânsito. Durante todo o trajeto, integrantes param nas esquinas para acompanhar o movimento e avisar de possíveis problemas. Disfarçam sobre o motivo de estarem ali. "Minha mina passou mal mano, só por isso tô aqui parado", disse um deles, enquanto fazia sinal com as mãos para um veículo que passava pela Rua Itatinga.

A concentração de veículos e pessoas em um local sem nada aberto deixa claro o motivo. Na própria Avenida dos Estados, jovens conferem o motor dos carros, escutam conselhos, são orientados. "Você errou na curva lá truta", disse um rapaz de óculos ao dono de um Gol cinza. Pouco depois, ele tira algumas notas do bolso e dá a uma sorridente loira, acompanhante de um rapaz de boné branco.

"Isso aqui é um inferno. Já virou palhaçada, ninguém faz nada", disse o porteiro José Lopes, 38 anos. Há oito meses no período noturno, ele já sabe que às sextas-feiras seu trabalho redobra por conta da presença pouco recomendável nas redondeza. "Tudo o que você imaginar eu já vi. Eu disse tudo."

Os grupos não se misturam, os frequentadores do racha fazem questão de enfatizar. "Não gosto de funk", disse um deles, fazendo careta para um Golf preto que passava com o som no último volume. Com a atuação intensiva da polícia na Avenida Industrial (leia abaixo), muitos migraram para o Alzira Franco, nos postos de gasolina, atraídos pela venda fácil de bebidas e gelo. "Se a gente fechar isso aqui e não deixar eles pararem não consigo nem pensar no que pode acontecer. Tenho filho pequeno", disse um funcionário.

 

Polícia mantém a paz na Avenida Industrial

O pancadão da Avenida Industrial, no bairro Campestre, em frente à Universidade do ABC (UniABC), em Santo André, por ora é página virada da história. A Polícia Militar manteve a promessa de seguir com as operações no local. Na sexta-feira à noite, novamente um comando era realizado para coibir os funkeiros, desta vez com a colaboração da Prefeitura de Santo André, que mandou agentes de trânsito para auxiliar na fiscalização.

Para coibir de vez o som no último volume, o uso de drogas e até a presença de menores de idade, as ações vêm sendo realizadas diariamente, segundo os moradores, e não mais apenas às quartas, sextas e sábados, quando acontecia o pancadão. Alguns funkeiros ainda vão ao local imaginando encontrar os abusos relatos revelados pelo Diário. Novamente, grande número de motocicletas, cerca de 12, foram apreendidas pela Polícia Militar.

"Agora sim eu diria que está tudo em ordem. Antes a polícia agia, mas ia embor e eles oltavam ainda mais barulhentos. Desta vez, acho que tudo vai acabar e eles vão ter que encontrar outro lugar para fazer o que gostam, mas que prejudica quem mora ou trabalha aqui", disse o porteiro Antônio de Oliveira Araújo, 48 anos.




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