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Bariloche, quando a vingança é branca

Esquiar no país dos ‘hermanos’ combina charme, conforto e uma deliciosa sensação de revanche

Andréa Ciaffone
do Diário do Grande ABC
03/07/2014 | 07:07
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No verão, a invasão é garantida. O câmbio pode determinar se virão milhares ou milhões de argentinos, mas uma coisa é certa: conforme o sol fica mais forte, algo provoca o instinto migratório dos hermanos, que se deslocam em busca do calor tropical. Mas, como o universo tende ao equilíbrio e tudo o que vem volta, bastou o mercúrio dos termômetros se esconder para que nós, brasileiros, tomássemos o rumo das montanhas nevadas argentinas. Assim, do mesmo modo que em Florianópolis (Santa Catarina) se ouve mais castelhano com ‘ll’s transformados em ‘j’s nos meses quentes, quando chega julho, o que se escuta em Bariloche são os mais variados sotaques brasileiros, evidenciados por várias formas de puxar, enrolar ou esticar os ‘r’s. A invasão é tão completa que rendeu à estação de esqui o apelido de Brasiloche.
Além de ter sido escrita nas estrelas, a afinidade desta charmosa cidade de 130 mil habitantes localizada na província de Rio Negro, a meio caminho da Terra do Fogo (extremo Sul do continente) e quase encostada na fronteira com o Chile, tem uma explicação topográfica: San Carlos de Bariloche fica em uma área da Cordilheira dos Andes em que as altitudes são menores, muitas vezes nem chegam a 1.000 metros, o que facilita a aclimatação para quem vive (como é o caso da maioria dos brasileiros) em altitudes próximas do nível do mar. Para se ter ideia, o município paulista de Campos do Jordão fica a 1.600 metros de altitude – ou seja, é mais fácil fazer atividade física nesse pedaço dos Andes do que na Serra da Mantiqueira.
E existe uma excelente razão para se preocupar com a performance esportiva: poucos prazeres na vida se comparam à sensação de descer montanha abaixo sobre a neve fofa – seja sobre esquis, pranchas de snowboard ou mesmo em motos de neve. Bariloche oferece pistas para todos os níveis – dos iniciantes até os ousados praticantes de heliski, que são deixados no alto das montanhas por helicópteros e têm o privilégio de curtir a neve virgem.
Dentre as áreas de esqui, o Cerro Catedral merece destaque pelo tamanho e pela diversidade. Cerro Otto e Neumeyer completam a oferta de pistas da estação, que espera receber pelo menos 25% a mais de turistas brasileiros na temporada de inverno deste ano, que começou com 40 centímetros de neve nas montanhas. Como Bariloche já amargou alguns invernos em que o ouro branco não compareceu para alegrar os esportistas, a cidade, que vive de turismo, não economizou e investiu 500 mil euros (cerca de R$ 1,5 milhão) na instalação de 12 canhões de neve para não decepcionar quem vai em busca da adrenalina dos esportes.
Em Cerro Catedral, 20 quilômetros de trilhas e estradas esperam os turistas, que terão acesso a novos teleféricos e ao Play Park, parque de neve com vários trenós e tubos. Outra novidade são os três magic carpets que foram instalados em Cerro Catedral. Essas esteiras rolantes podem transportar tanto os que querem acessar a parte alta da montanha para descer esquiando quanto quem prefere apenas curtir a paisagem nevada.
Aliás, Bariloche é um destino bem generoso com quem quer conviver com a neve mas não tem alma de esportista. Além de terem acesso ao alto das montanhas, os não esquiadores contam com vários outros programas para curtir a cidade. Os mais imperdíveis são a visita à Isla Victoria e o passeio pelo bosque de Arrayanes, único da espécie no planeta. Em todo o resto do mundo, a planta não passa de um arbusto, mas lá ela toma a forma de grandes árvores. Para chegar à ilha, é preciso fazer viagem de barco pelo lago Nahuel Huapi, em que belas paisagem se sucedem.
Outro programa interessante para esportistas e turistas é o restaurante giratório no topo de Cerro Otto. Importante notar que lá o estabelecimento é chamado de confiteria – na verdade, nem tem um nome, sendo citado como Confiteria Giratória del Cerro Otto. É bom saber isso para evitar mal-entendidos. Se bem que eles são raros porque, como convivem muito com brasileiros, os moradores da cidade são bastante hábeis com o portunhol.
Bariloche é graciosa, bem cuidada, com arquitetura inspirada nos Alpes Suíços e cheia de hotéis e pousadas simpáticas, além de fábricas de chocolate e restaurantes repletos de delícias. E mais: é bastante generosa em opções para a vida noturna. Oferece restaurantes, pubs, cervejarias – pelo menos oito, na contagem mais recente – e danceterias.
Aliás, como vive do turismo, a cidade se transforma na temporada de inverno e floresce. No começo da estação – as montanhas abriram há duas semanas – há a Fiesta Nacional de la Nieve, que tem eventos como o desfile das confecções que produzem roupas de lã, corrida de garçons, eleição de miss e várias apresentações musicais. Em agosto, há ainda a Semana Internacional do Esqui.
Tudo isso faz com que, há 40 anos, Bariloche esteja no topo das preferências dos brasileiros. Nesse caso, a vingança é branca. 




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