Após cinco meses de espera, estudante de Ribeirão Pires
receberá medula óssea doada que pretende salvar sua vida
"Não fiquem com medo, pois estou com vocês. Não se apavorem, pois sou o seu Deus. Eu lhes dou forças e os ajudo. Eu os protejo com a minha forte mão."
A Bíblia no quarto do estudante Lucas Guizzardi, 10 anos, está aberta no livro de Isaías, capítulo quatro, versículo 10. É sobre esse texto que a mãe do menino de Ribeirão Pires, Rosimar Guizzardi, 37, apoia sua fé. "Chegou a hora do meu filho renascer."
Após cinco meses de espera, o garoto receberá hoje a transfusão que pretende salvar sua vida. No Centro de Transplantes de Medula Óssea do Hospital São Camilo, na Capital, a primeira das seis bolsas contendo a medula do doador 100% compatível, encontrado em junho deste ano por meio do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea, começa a ser transferida para o corpo de Lucas a partir das 13h.
Nos próximos 15 dias, a medula precisa "pegar", ou seja, começar a produzir as células sanguíneas que farão parte de Lucas, mas que serão sempre do doador. Por isso, o menino, internado há 15 dias, toma medicamentos para evitar a doença do enxerto versus hospedeiro, quando o sangue não reconhece os órgãos do corpo e os combate como a uma doença.
Duas portas separam o quarto onde Lucas receberá a medula do mundo exterior. Elas se abrem quando a mão se aproxima de um sensor. Antes de entrar, é preciso lavar as mãos para evitar qualquer tipo de contaminação.
No quarto, uma câmera grava o estudante 24 horas por dia. "Estou no Big Brother", ele brinca. Além de duas edições da Bíblia sobre a mesa, o boné do Santos Futebol Clube está pendurado na beira da cama, ao lado do inseparável notebook, sua janela para a vida que está lá fora. É pela telinha do computador que Lucas se comunica com amigos, familiares e mesmo gente desconhecida que acompanha sua história. "O carinho de todos com meu filho é visível e agradeço muito por isso", afirma Rosimar.
TORCIDA
Os amigos de Lucas prometem corrente de fé e oração hoje, em frente ao hospital. A mãe, que não saiu do lado do filho nenhum minuto sequer, está ansiosa e otimista. "Muita gente disse que ele sofreria, mas não foi assim. Meu filho é forte, vai conseguir."
Lucas dormia tranquilo no fim da tarde de ontem. Na TV, Harry Potter e a Pedra Filosofal. Ao seu lado, duas revistas do Santos. E sobre ele, a fé para enfrentar o desafio de renascer.
SC900,116 A luta de Lucas Guizzardi, 10 anos, contra a leucemia linfoide aguda, tipo de câncer no sangue que ele tem desde os 5 anos, ganhou as páginas do Facebook, onde ele está cadastrado como Lucas Guizz. Quem ajudou a divulgar a bonita história de força e fé foi a ‘assessora de imprensa' Abelhinha. "Ela é da tia Lilian. Mas não conta para ninguém o nome dela porque é segredo."
Doutora Abelhinha, ou Lilian Ferraz, 52, é voluntária em hospitais, orfanatos e asilos há sete anos. Ela leva conforto, apoio e alegria para pacientes adultos e crianças e suas famílias, que enfrentam diversos tipos de doenças.
Menino coleciona amigos e conquistou Doutora Abelinha
Uma perda pessoal levou Lilian a se dedicar ao voluntariado. "Recebi muitas mensagens de amigos e familiares e, por meio delas, cheguei a um site que divulgava o trabalho voluntário."
Foi então que Lilian criou a Doutora Abelhinha. Um chapéu com o formato do inseto e um pequeno bichinho de pelúcia são seus companheiros de trabalho. "Onde chego, tento espalhar a alegria e o carinho para quem mais precisa."
Doutora Abelhinha conheceu Lucas e sua mãe, Rosimar Guizzardi, 37, na campanha de cadastro de doadores de medula óssea realizada em maio deste ano em Ribeirão Pires. Desde então, acompanha o caso do menino e, por meio dele, divulga o voluntariado e a solidariedade. "É claro que é preciso ter estrutura psicológica para fazer o que faço, mas todo tipo de solidariedade é bem-vindo. O problema é que muitas pessoas só pensam nisso quando se aproxima o Natal. O sentimento precisa ser cultivado o ano todo."
A ‘assessora de imprensa' de Lucas o ajudou a gravar um vídeo onde ele e a mãe agradecem o doador da medula. "Obrigado por ajudar a salvar minha vida."
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