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Com apenas um rim, moradora sofre com falta de remédio em São Bernardo

Medicamento evita que órgão, recebido do pai há 22 anos, seja rejeitado

Renan Soares
Especial para o Diário do Grande ABC
30/06/2022 | 08:42
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Celso Luiz/DGABC


s rins são partes fundamentais do organismo, eliminando as toxinas, mantendo o equilíbrio hídrico do corpo e trabalhando como produtores de hormônios. Porém, faz 22 anos que Delmara Macedo de Souza, 41 anos, tem apenas um, transplantado do próprio pai, que doou o órgão após a filha ter problemas devido ao avanço de lúpus, doença autoimune que ocorre quando o sistema imunológico ataca os próprios tecidos e órgãos do corpo. Para que seu organismo não rejeite o rim do pai, Delmara tem de tomar medicamento fornecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde), este porém, se encontra em falta em São Bernardo.

O remédio chamado micofenolato de sódio de 360 mg, que a paciente costuma buscar todo mês na unidade do Poupatempo, no região central da cidade, está indisponível na unidade. Nos três meses em que Delmara mora em São Bernardo, ela conseguiu retirar o medicamento apenas uma única vez. Na primeira tentativa, em março deste ano, o remédio já se encontrava em falta, a unidade forneceu então outra opção, o micofenolato de mofetila, que após o uso por parte da munícipe gerou efeitos colaterais, como fortes dores no rim.

“Eu pego cerca de 90 comprimidos por mês e tomo três por dia. Quando fui retirar o remédio disseram que não iam nem dar senha porque o medicamento estava em falta”, conta ela. Os sintomas da rejeição do órgão transplantado podem ser leves, como febre, calafrios, náusea, cansaço e problemas na pressão arterial, podendo se desenvolver para casos mais graves com o não tratamento. Delmara morava antes em Santo André e retirava os medicamentos na unidade de saúde do município.

“Caso a pessoa não tome o medicamento todos os dias o organismo começa a criar rejeição contra aquele órgão. Existem pacientes que estão transplantados há um, cinco, 15 e até 20 anos, e órgãos continuam em funcionamento devido ao uso desses medicamentos que ajudam a controlar o processo de rejeição. É tratamento para vida inteira”, esclarece Carlos Machado, clínico geral e especialista em medicina preventiva. O médico alerta sobre a ausência do uso do remédio. “ Quando o paciente fica sem tomar o medicamento por alguns dias pode começar a aumentar a agressão do próprio organismo contra o órgão transplantado”, finaliza.

Para não deixar a ausência do remédio afetar sua saúde, a moradora de São Bernardo relata que tem conseguido manter uma reserva do fármaco, que custa cerca de R$ 500 a caixa com 50 comprimidos, ou seja, que duraria apenas metade do mês. “No Poupatempo, quando está em falta o remédio no fim do mês, eles não entregam o restante no mês seguinte. Fui terça-feira a unidade de saúde e liguei ontem, mas até o momento não tem previsão”, desabafou a paciente que tem comprimidos apenas para mais alguns dias.

Conforme define o clínico geral Carlos Machado o remédio possui alto custo e é extremamente específico, por isso não é comprado com facilidade pelo poder público. Segundo o especialista, a falta de medicamentos tem afetado diversos países do mundo devido à crise sanitária ocasionada pela Covid-19, que teve impacto direto na economia mundial, além da atual guerra entre Rússia e Ucrânia.

Questionada pelo Diário, a Secretaria de Estado da Saúde informou que o medicamento micofenolato de sódio de 360 mg é de responsabilidade de aquisição e distribuição do Ministério da Saúde, e que o órgão tem atrasado as entregas e “impactado diretamente na assistência aos pacientes de Estado. A pasta recebeu um quantitativo que está em distribuição para a FME (Farmácias de Medicamentos Especializados) de São Bernardo , com previsão de entrega até a primeira quinzena de julho”, informou a pasta. A pasta estadual segue cobrando o Governo Federal para a regularização das entregas para que os pacientes não sejam prejudicados em seus tratamentos.  




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