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Após 20 anos, estação ferroviária de Paranapiacaba será restaurada

Edifício histórico é recuperado com elementos originais; obra deve ficar pronta em novembro

Yasmin Assagra
Diário do Grande ABC
06/07/2020 | 07:59
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André Henriques/DGABC


A Vila de Paranapiacaba, em Santo André, é ótima alternativa para quem busca passeios tranquilos e com boa dose de história. Isso porque, as características marcantes do local e os diversos pontos turísticos podem ser apreciados logo na entrada da região. Pouco depois da criação da vila histórica – em meados de 1862 –, foi inaugurada a Estação Ferroviária de Campo Grande, em 1889, como uma parada de embarque e desembarque entre o local e Rio Grande da Serra, e que estava abandonada há 20 anos e terá seu patrimônio totalmente revitalizado.

Os 300 metros quadrados de área construída e 7.500 metros de área externa estão sendo recuperados em seus moldes originais, ou seja, com elementos próprios para revitalização, como telhas, tijolos, madeiramento estrutural da cobertura e argamassa de revestimento. A obra teve início no primeiro trimestre de 2020 e tem previsão de entrega para novembro deste ano. 

As arquitetas da Contemporânea Paulista, Cristina Machado e Fabiula Domingues, responsáveis pelo gerenciamento da obra, detalham que os 100 anos de história daquele local permanecerá disponível para toda a vila, sendo recuperado passo a passo. “Na parte externa será feita toda a recuperação da plataforma, vamos mexer na parte elétrica, que hoje não existe, além de um estacionamento e passagem de pedestres também. Toda esta vegetação vai permanecer com o gramado, tornando o paisagismo o mais agradável possível, mas sem perder a essência do espaço”, explica Fabiula. 

Segundo as arquitetas, o local estava em péssimas condições de conservação, repleto de mato e lixo e com risco de desabamento após ter sofrido incêndio em 2010. Apesar disso, conseguiram recuperar algumas peças e devolver na restauração da estação. “Quando chegamos, não existia este salão, que futuramente será um centro de operações, eram alvenarias fazendo divisões de ambientes, onde no projeto original foi escolhido pela demolição destas alvenarias se adequando para um único salão”, completa Fabiula.

A Estação Ferroviária, atualmente, está sob responsabilidade da MRS Logística, concessionária de transporte de carga pela ferrovia e, após revitalização, se tornará um centro de controle operacional das composições MRS que trafegam pela região em direção ao Porto de Santos ou retornando no sentido do Interior de São Paulo e demais pontos.

Para conseguirem reutilizar algumas peças da estação, foi preciso trabalho manual antes da recolocação em novo formato, como por exemplo, as telhas. “Destelhamos em todos os pontos que achávamos que conseguiríamos reaproveitar, fizemos toda limpeza manual de cada telha, com escova de aço, água e sabão neutro, depois imergimos em um tanque de água para verificar essa absorção de cada peça e as pesamos, secas e úmidas. Com isso conseguimos reaplicar”, ensina Fabiula. 

Apesar de todo trabalho de resgate dos materiais originais, algumas perdas de peças foram inevitáveis e, para isso, foi preciso complementar com itens mais novos. “O teto, por exemplo, metade do telhado tem com material 100% original, na outra parte tivemos que restaurar com telhas novas”, complementam as arquitetas. 

As profissionais ressaltaram que desejam que cada vez mais os patrimônios históricos sejam compreendidos pela sociedade. “Um bem restaurado, além de permitir novas experiências, é um legado para as futuras gerações. É a recuperação de uma história, o que para paisagem é tudo de bom”, finaliza Fabiula. 

A obra é patrocinada pela MRS Logística, com apoio da Prefeitura de Santo André e está sendo realizada por meio da Lei de Incentivo à Cultura, com valor aprovado de R$ 1,7 milhão. “A empresa (entende que seu papel vai além da operação ferroviária, sendo também protagonista nos campos da cultura e da recuperação do patrimônio histórico”, comenta o gerente geral de relações institucionais da MRS, José Roberto Lourenço. 

PARA OS MORADORES - Durante a execução da obra e, principalmente, após seu término, serão oferecidos ao público, gratuitamente, atividades educativas com o objetivo de informar a população sobre as riquezas da região e, desta forma, incentivar a difusão e a preservação da memória, por meio do patrimônio histórico. 

Uma destas atividades é o inventário participativo, no qual moradores e líderes comunitários mostram para os responsáveis da obra o que representa a Vila de Paranapiacaba para eles e, em cima disso, a empresa detalha todos os patrimônios históricos existentes no município. “Entendemos que, neste caso da estação, a restauração terá uma função extremamente importante, pois vamos utilizar este espaço, mas precisamos ir além com a população, justamente, promovendo esta afetividade com este local. Então, faremos a troca de informação fundamental, principalmente, para todos os moradores”, destaca a arquiteta Fabiula.

Além disso, a estação também será palco de oficinas de artes e ofícios que oferecem qualificação aos munícipes, como atividades de operário, marceneiro, pedreiro e eletricista. 

Munícipes esperam por retomada lenta do turismo, mas seguem otimistas

A Vila de Paranapiacaba tem boa parte da receita proveniente dos turistas que visitam o local dispostos a conhecer detalhes da vila inglesa, que serviu como acampamento dos funcionários da São Paulo Railway Company, empresa que construiu o trecho da Serra do Mar em meados de 1860. Com a chegada da pandemia, o local tem, basicamente, morados perambulando pelas ruas quase desertas.

Neta de ferroviário e moradora de Paranapiacaba há 16 anos, a comerciante Márcia Salvador Tersetti, 54 anos, segue otimista com o retorno das atividades e, principalmente, pelo acesso de pessoas a vila – que foi restrito em meados de abril pela pandemia da Covid 19. “A expectativa está grande, apesar de acreditamos que o turismo pedagógico, que acontece durante a semana, não vai ser o mesmo (após a pandemia). Mas, aos poucos, vamos recuperando, principalmente, após as restaurações em toda cidade”, comenta.

Sobre a estação ferroviária que está sendo restaurada, Márcia aprova a iniciativa. “Vai devolver boa parte da história de toda a vila, pois a estação também foi criada logo no início. É um novo atrativo, visto que muitas pessoas, apesar da pandemia, procuram saber o que foi feito e o que está sendo feito por aqui, mesmo sem visitar. Então, este novo visual será muito positivo, as pessoas gostam daqui e os moradores ainda mais”, destaca a comerciante. 

O diretor de gestão de Paranapiacaba, Eric Tadeu Lamarca, reforça que com a estação ferroviária entregue as novas funções irá agregar aos demais patrimônios históricos. “Em relação ao valor visual, são obras importantes para os munícipes e também para o turismo que, futuramente, vai retornar na vila. Obras grandes como esta são atrativos e repercutem de forma muito positiva, são símbolos importantes que jamais podem ser esquecidos”, comenta.

“Nos últimos três anos a Prefeitura de Santo André, por meio da Secretaria de Meio Ambiente, tem se empenhado para viabilizar a revitalização de todos os espaços com relevância histórica e a Estação de Campo Grande é um destes pontos. Será uma entrega importante que vai se somar a outras revitalizações realizadas na vila”, destacou o secretário de Meio Ambiente de Santo André, Fabio Picarelli.

Outros pontos também passam por reforma

Além da Estação Ferroviária de Campo Grande, a Vila de Paranapiacaba também recebe outras revitalizações, como a da cabine de sinais e de comando, na parte baixa. Ainda sem previsão para entrega desses dois patrimônios, as obras agregam histórico de restaurações por toda região, fomentando os passeios turísticos em diversas épocas do ano.

Dentre as obras entregues recentemente em Paranapiacaba estão a revitalização do Museu Castelo, da Igreja do Senhor Bom Jesus de Paranapiacaba e da Garagem das  Locomotivas, utilizada hoje como estação do Expresso Turístico da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), além da Torre do Relógio, que foi restaurada e entregue à população em junho do ano passado. 

Depois de cinco anos parada, a torre do relógio – réplica do Big Ben, tradicional sino instalado no Palácio de Westminster, em Londres, na Inglaterra, em 1859 – passou por revitalização que custou R$ 1,3 milhão, valor pago pela MRS Logística, empresa que utiliza os trilhos da região para levar carga ao Porto de Santos e para a Capital. A obra foi entregue para a população no dia 20 de julho de 2019 – data que marcou também a abertura do Festival de Inverno, tradicional evento local e que neste ano não será realizado em virtude da crise sanitária causada pela Covid-19. Uma das principais novidades da atração é a iluminação, que faz com que a torre possa ser vista também à noite, ainda que a neblina típica de Paranapiacaba tome conta do local.

O prefeito Paulo Serra (PSBD) acompanhou as etapas do projeto de restauração e destacou o resgate da autoestima dos moradores e comerciantes. “Participamos de todos os passos para trazer este patrimônio de volta. O relógio fica entre os trilhos do trem que dividem as partes alta e baixa da vila e precisávamos trazer esse cartão-postal da cidade de volta”, comenta o chefe do Executivo.
 




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