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Cantor cubano Compay Segundo morre aos 95 anos
Por Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
14/07/2003 | 18:36
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Foto: AFP A música cubana está de luto. Morreu na noite de domingo, de insuficiência renal, Compay Segundo, uma das lendas da ilha de Fidel. Aos 95 anos, o músico integrava grupo Buena Vista Social Club, que ganhou fama mundial após o lançamento do CD homônimo produzido por Ry Cooder em 1997 e do documentário dirigido por Win Wenders, em 1999.

Compay não foi apenas um excelente músico. Era uma figura carismática, que logo todos podiam identificar por seu sorriso largo e fácil, e por seu charuto aceso, sempre a postos. O músico, cujo verdadeiro nome é Francisco Repilado, tinha gosto pela vida. Dizia que queria o sexto filho, cujo nome seria: Compay Segundo.

“Espero chegar aos 100 anos e pedir prorrogação”, dizia, bem-humorado, em suas entrevistas. Costumava, nessas horas, se referir à sua avó, que viveu 116 anos e que fumava charutos acesos por ele quando tinha apenas 5 anos de idade.

Mas Francisco não teve lá uma vida das mais fáceis. Nasceu no povoado de Siboney, em Santiago de Cuba, em 1907. Cresceu na pobreza desencadeada pelo período pós-guerra. Antes de tornar-se conhecido, trabalhou como lavrador, charuteiro (dobrador de folhas de tabaco), cabeleireiro e pintor de paredes.

Seu início na música foi ainda na adolescência, como clarinetista na Banda Municipal de Santiago de Cuba, e a partir de 1934 se radicou em Havana, onde integrou um quinteto com Saquito.

Na década de 50 formou o duo Los Compadres com Lorenzo Hierrezuelo. Daí surgiu o apelido com o qual ficou famoso: ele era “o segundo dos Compay, ou compadres”. Anos depois, seguiu carreira solo. Conquistou certa fama em seu país mas depois caiu no esquecimento, amargando 14 anos sem gravar.

Assim como seus contemporâneos e colegas de Buena Vista – Ibrahim Ferrer e Rubén González, por exemplo – obteve reconhecimento tardio. Sua fase áurea começou a ser desenhada no início dos anos 90, com a abertura, na Espanha, à música tradicional cubana. Em 1995, uma antologia com sua obra deu-lhe novo fôlego. E, em 1997, com a conquista do Grammy de música tradicional pelo Buena Vista Social Club, veio o estrelato. Compay, então, estava com 90 anos.

Mas a fama nunca lhe fez a cabeça. A Compay bastava difundir o verdadeiro som cubano e levar à nova geração um pouco do romantismo que ficou para trás. “O boom do Buena Vista foi como um bombardeio. Saltamos das montanhas à fama, fomos aos palcos mais exigentes. Mas eu continuo sendo simples, como se estivesse começando. Sigo cantando a todos os cubanos como fiz, nos tempos de juventude, por toda a Cuba”, disse, em entrevista.

Compay acumulou vários sucessos. Os principais são Macusa, que era a preferida do escritor Gabriel García Marquez; e Chan Chan, do qual disse, certa vez: “Imagine que na França, quando vão brindar, em vez de chin chin, agora dizem chan chan, por causa da minha canção. A gente chora e tudo”. O músico também fez história tocando seu “armônico”, uma variação do violão de sete cordas (a adicional é a sol, repetida) inventada por ele.

Compay veio ao Brasil em 2002 para divulgar uma marca de charuto e seu último disco, Duets. Ainda havia planos para colocar seu nome em marca de café, tabaco, cerâmica e até em cadeia de restaurante.

Nada, porém, foi mais importante que a música. Mesmo com dificuldade para andar e perda da audição – problemas enfrentados apenas desde o ano passado –, dava seqüência à sua atribulada agenda. Só saiu de cena nos últimos tempos por causa da insuficiência renal que se agravou e culminou em sua morte.




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