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Pronto socorro ao motociclista
Do Diário do Grande ABC
08/07/2017 | 07:00
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Motoristas precisam, não raro, estar mais atentos a retrovisores do que ao pára-brisa, na atualidade da selva de latas em que se encontram ruas e avenidas brasileiras. Motociclistas, por qualquer lado, tentam sucesso em avançar à frente dos carros, para buscar sua vantagem, chegar mais rápido. Muitos acham que é mais barato andar de moto, contudo, na conta completa, falta o risco de vida. O custo por morto no trânsito brasileiro é de US$ 300.000,00 (Ipea, 2005), que inclui lista de itens, desde o custo subjetivo emocional a até perda de postes e semáforos. Como morrem 10 % a mais de motociclistas do que ocupantes de carros (DataSUS, 2013) e há o dobro de carros do que motos no Brasil (Denatran, 2016), o risco de vida em moto é três vezes maior.

O estresse marca o relacionamento entre motoristas e motociclistas. O impacto se torna iminente à medida que cansaço e pressa preponderam.

Mandar multar mais é fácil e dá mais dinheiro ao poder constituído. Solução? Educação, em longo prazo. Em curto prazo, exige pronto socorro. Há de se estabelecer campanha de trânsito, onde a punição suceda a informação. Informar com panfletos, outdoors e outros veículos que serão fiscalizados os que andem em corredores “queimando faixas”, praticando chispadinhas nos semáforos em vermelho, abrindo o gás em alta velocidade e pilotagem perigosa.

Em paralelo, blitzes para aferir álcool ou drogas no sangue.
A cultura da velocidade e do fazer o que a maioria faz exige intervenção forte e duradoura. Uma campanha apenas não mudará costumes. A prescrição carreia elevado volume de recursos humanos, materiais e dinheiro. Pelo Art. 320 do CTB (Código de Trânsito Brasileiro) os recursos de multas apenas podem ser aplicados em educação no trânsito, sinalização e Engenharia de Tráfego.

Por mais que se entenda que a multa seja contra os motociclistas é, na realidade, a seu favor, resultado de um processo de ações. Avisar de que será multado e explicar porque não pode fazer, reforça o aprendizado da CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Quanto à velocidade excessiva, radar pistola permite flagrar melhor os infratores. Radares com câmeras onde se analisam imagens de veículos com trajetória de risco enquanto se memorizam vídeos permite fiscalizar a imprudência que radar não pega.

As causas geradoras da pressa devem ser analisadas. Se um empregador de motoboy o induz a chegar mais rápido, configura ato de desprezo por sua vida. Este trabalhador urbano de alto risco ainda deveria ter capacete e colete dentre outros itens, considerados como EPI (Equipamentos de Proteção Individual) cuja compra e troca sejam pagos pelo empregador. Por outro lado, obrigar seguro de vida para seus dependentes é aceitar o excessivo risco. Outra solução é a troca do veículo. Nos Estados Unidos é comum carro para entregar pizzas. Mas, e o congestionamento? A pizza esfria... e o mercado e trabalho também.

Um outro projeto de mobilidade, de comprovada sustentabilidade e sucesso é o dos populares Velotaxis, tanto na Europa quanto na Ásia. Em Frankfurt reluzentes triciclos em pontos estratégicos, aguardam passageiros. Veículos praticamente pagos por empresas de marketing. Em Nova Iorque e Londres, levam curiosos turistas entre pontos de interesse, onde a foto não treme, afinal, pressa no turismo quer dizer ver menos. De inspiração no clássico riquixá, de origem japonesa a significar veículo de força humana, fomentam esporte e vida saudável, induzem ao conhecimento da cidade e ao amor por esta, abrem mercado ao novo guia turístico. Resguardam a vida, desde que motoristas sejam também efetivamente penalizados ao invadirem ciclofaixas. Um futuro melhor.

O que não se pode aceitar, em nenhuma forma, é a atual taxa de mortalidade de motociclistas.

Creso Peixoto é mestre em Transportes e professor da FEI.
Email para esta coluna: cresopeixoto@gmail.com
 




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