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Em 10 anos, Billings pode estar totalmente comprometida

Cerca de 70% da área da represa apresenta
condições ruins, péssimas e regulares atualmente;

Por Bia Moço
Matheus Angioleto
Especiais para o Diário
08/07/2017 | 07:00
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Denis Maciel


 Estudo elaborado por especialistas em Meio Ambiente aponta que no prazo de uma década os braços da Represa Billings devem ser afetados por forte poluição existente hoje em áreas centrais do reservatório. Segundo a bióloga especialista em recursos hídricos e professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Marta Ângela Marcondes, os efeitos negativos foram observados a partir de análise de modelo de projeção matemática. “Se nada for feito, dentro de 10 anos teremos um reservatório como grande esgoto a céu aberto. Nossa maior fonte de água potável pode acabar.”

O declínio de qualidade da água é apontado por estudo técnico feito durante três anos pela instituição de ensino, por meio do Projeto IPH (Índice de Poluentes Hídricos), durante a Expedição Billings. Marta relata que existe no corpo central da represa alta concentração de bactérias, responsáveis por causar doenças e infecções como gastroenterites (no sistema digestivo) e dermatites (na pele). Além disso, as cianobactérias, algas microscópicas que resultam no aspecto verde da água, produzem toxinas que causam irritação na mucosa e pode levar animais à morte. “Se não tiver um olhar para que o reservatório seja mantido com qualidade, essas concentrações vão atingir os braços, que são os (espaços) mais limpos do reservatório.”

Cerca de 70% da área está em condições ruins, péssimas e regulares, e apenas 30% conta com índice bom. O declínio na qualidade do reservatório, que completou 92 anos em março, foi verificado a partir da análise pelo IQA (Índice de Qualidade de Água) da área que corta municípios do Grande ABC – Santo André, São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra –, e parte da Zona Sul da Capital. “Precisamos estimular para que as políticas públicas de saneamento sejam mais efetivas e as prefeituras façam planejamento para melhorar a situação”, ressalta Marta. Na terça-feira, a especialista deve entregar o relatório no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, durante reunião mensal dos prefeitos.

Em março, em encontro com representantes do Consórcio, o governo estadual sinalizou positivamente sobre possibilidade de revisão da Lei Específica da Billings, sancionada em 2010. Mas até o momento não há novidades a respeito.

O relatório da USCS cita que os investimentos em saneamento na represa, que já foi uma das responsáveis por salvar o Estado da maior crise hídrica já enfrentada, são aquém do necessário. “A Billings poderia ser opção de abastecimento de água para o Grande ABC, mas seu uso inadequado não dá condições para esse fim. Prova disso é a alta contaminação por bactérias que evidenciam a presença de esgoto doméstico não tratado.”

Na opinião do presidente do Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental), Carlos Bocuhy, a demora em investimentos efetivos deixa a conta mais cara para o futuro, que pode não ser paga devido à inadimplência dos municípios, Consórcio e Estado sobre o tema. “O conjunto da diminuição de produção de água, o assoreamento e a poluição são fatores que estão levando à morte da represa, em um horizonte de 30 a 50 anos, dependendo da intensidade (dos problemas)”, explica.

Ainda segundo Bocuhy, os braços do Alvarenga (São Bernardo) e do Eldorado (Diadema) diminuíram cerca de 1 km nos últimos anos. “A represa está morrendo pelos braços, sofrendo processo de desaparecimento nos braços que são as áreas mais vulneráveis à erosão. A represa está condenada no modelo atual”, projeta.

 




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