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Lavrador seria guarda no cativeiro
Cláudia Fernandes
e Gabriel Batista
Do Diário do Grande ABC
16/10/2004 | 13:23
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Embora todos – ou quase todos – de Rio Grande da Serra confiem na palavra do lavrador Mário Antônio de Godoy, um senhor evangélico de 75 anos, as evidências colhidas pela polícia o apontam como um dos homens de participação ativa no crime de Emile Perez de Souza, 10 anos. Foi Godoy quem levou a polícia ao local onde o corpo da menina foi jogado, na estrada da Caracu. Ele disse que Deus o guiou até a estradinha. E a sua versão, desde então, é a mesma.

Mas os acusados que resolveram colaborar com a polícia e dizer o que realmente aconteceu desde que Emile foi seqüestrada, no domingo de eleição, até a sua morte, negam a versão de Godoy. E dizem que o velhinho era um dos guardas na vigília do cativeiro. Além disso, o ex-irmão de igreja do pai da menina, Nilson Gonçalves de Souza, 40, teria presenciado a morte de Emile, na chácara no meio da Mata Atlântica, onde era o cativeiro. Mesmo assim, o pai da garota se recusa a acreditar que Godoy o tenha traído de tal forma.

Policiais afirmam que o caso Emile é uma trágica história de um grupo que se juntou para ganhar algumas migalhas. Se conseguissem a quantia de resgate pretendida, lucrariam R$ 10 mil. Como o bando tinha oito pessoas, a divisão de dinheiro resultaria em uma miséria para cada um. “Eles não sabem nem falar. São pessoas sem prática, que queriam ganhar uns trocados”, disse um policial.

Eles imaginavam que o pai da menina, candidato derrotado a vice-prefeito, tivesse sobra de dinheiro da campanha. Souza teria sido visto no bar do Marcão, no bairro Pedreira, pagando colaboradores de campanha. Foi quando surgiu a idéia de seqüestrar a sua filha. Dias depois, a quadrilha toda se reuniu no mesmo bar, já com a menina raptada. Júlio Cesar Santos Silva, um dos acusados que está colaborando com a polícia, disse ter sido contratado para servir de guarda no cativeiro.

Ele disse que além dele, outros três ficavam na casa fazendo a vigília. Godoy ficava mais do lado de fora da casa, vendo se alguém aparecia do meio do nada. O tempo todo que ficou naquele cativeiro – na quarta-feira da semana passada –, ela teria ficado de joelhos, olhando para a janela do único quarto da casa.

Emile conhecia quase todos os seus seqüestradores. Inclusive Maria Aparecida Salviano de Oliveira, 52, mulher que a teria levado até os criminosos. As duas teriam ido a pé até determinado local, perto de onde moravam, na Vila Suzuki, e entrado em um Fusca. Maria Aparecida seria a única cuja a participação teria acabado após a entrega da menina.

Nesta sexta, a polícia não queria dar declarações sobre o caso. Os investigadores queriam desvendar todo o crime, mesmo que tivessem de varar a madrugada deste sábado. “Já sabemos 99% da história”, disse nesta sexta-feira à noite um policial. Durante todo o dia desta sexta-feira, os policiais ficaram na rua à procura da faca que matou Emile. No dia da prisão de parte da quadrilha, na quarta-feira da semana passada, os policiais foram ao cativeiro e encontraram uma faca perto do local do crime. A arma com sangue foi encaminhada para a perícia. Mas a polícia enfrenta uma dificuldade: depois do crime, choveu e todo o sangue onde a menina deve ter sido morta, na frente da casa da chácara, foi levado para o ralo.

De toda a investigação, a polícia até sexta-feira divulgava apenas duas certezas: de que não foi um crime político e que a menina não sofreu abuso sexual.

Prisões – As prisões dos acusados ocorreram na última quarta-feira à noite. Três foram levados para um interrogatório de 15 horas: o filho de Maria Aparecida, Fernado Salviano de Oliveira, 26, e dois jovens que moram em um cômodo no seu quintal – o encanador Rodrigo Monteiro Ferreira, 25, e o ajudante de pedreiro Claudiomar Carvalho Alves, 30.

De manhã, quando todos já estavam exaustos, os três citaram os nomes de Luciano Cardoso, 25 anos, e Júlio César Santos Silva, 19. Os dois se juntaram ao grupo já preso. Não demorou muito para que Cardoso confessasse. Ele disse que a quadrilha queria pedir R$ 10 mil ao pai da menina e indicou o cativeiro onde ela foi mantida refém nas últimas horas de vida, a 2,5 km da estrada onde Emile apareceu morta. Cardoso é, também, dono do Fusca bege que teria sido usado para transportar a menina.

Na noite desta quinta, mais dois confessaram. Ferreira, o encanador, e Oliveira, filho da mulher que teria levado a menina da escola. Todos os que admitiram participação negaram ter matado a menina. O principal suspeito do assassinato é Cardoso.




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