É difícil imaginar o universo de Noel Rosa realocado para outro ambiente que não seja o de um bar, com os instrumentos típicos do samba e, de preferência, uma voz grave para interpretá-lo. É difícil, mas não impossível, como mostra Gilson Peranzzetta e Mauro Senise em '100 Anos de Noel Rosa' (Biscoito Fino, preço médio R$ 43, o DVD, e R$ 35, o CD), registro ao vivo que resgata, em clima classudo, canções célebres do compositor.

Algo muito próximo do que muitos fazem com o som de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, só que vertido para o samba, com Peranzzetta no piano e Senise no sax alto e soprano e na flauta. Como convidados, trazem Zeca Assumpção, no contrabaixo, Amoy Ribas, na percussão e o Quarteto Bessler, nas cordas. Ainda, têm a luxuosa presença de Alaíde Costa, que empresta a voz a quatro dos temas.

Já na abertura do disco, vê se um virtuoso embate com 'Fita Amarela'. Enquanto o piano percorre as nuances da canção, incorporando novas notas, desdobrando as possibilidades da música, o sax alto de Senise cadencia a composição. Em seguida, com 'Gago Apaixonado', piano e flauta dão uma levada de choro à canção.

A partir daí, as participações enriquecem as composições. Alaíde chega em 'Cor de Cinza', 'Quando o Samba Acabou' e 'Feitio de Oração'.

O Quarteto Bessler aparece a partir de 'Pra Que Mentir', composição que transformam em algo épico, caprichando nas cordas na abertura, trabalho que fazem igual em 'Palpite Infeliz' e 'Feitio de Oração'.

Tanto rebuscamento, ao contrário de fazer perder de Noel Rosa sua essência, faz vê-lo em sua genialidade, e nas possibilidades infinitas de exploração que as suas clássicas obras têm.