Política Titulo PROJEÇÃO AO BRASIL
Agora presidente, Temer tem de instalar reforma sem cortar direitos

Para especialistas, a retomada do crescimento do País não pode atropelar classe trabalhadora; Grande ABC também espera por melhora

Por Vitória Rocha
Especial para o Diário
04/09/2016 | 07:00
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Depois de três meses como presidente interino, Michel Temer (PMDB) assumiu oficialmente como chefe de Estado brasileiro nesta semana, após Dilma Rousseff (PT) ter sido deposta do Palácio do Planalto pelo processo de impeachment que tramitava no Senado. Para especialistas e políticos consultados pelo Diário, o novo governante precisa retomar o crescimento do País sem cortar direitos da população.

O peemedebista ainda não conseguiu dar identidade para sua administração, apesar de ter chegado ao poder com série de propostas, como a reforma da previdência e medidas econômicas mais austeras. Algumas das ideias, inclusive, envolvem o Grande ABC, como o encaminhamento de estudo para destravar a Linha-18 Bronze (Djalma Dutra-Tamanduateí) do Metrô, que ligará a região ao sistema da Capital.

Para o coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista, Sandro Maskio, Temer precisa tomar atitudes mais severas para resolver o problema econômico do Brasil. “A necessidade de reequilíbrio das contas públicas está dada, o que gera a necessidade de adotar política fiscal restritiva, incluindo contenção de despesa e ampliação de receita. Nesse sentido, a redução do tamanho da máquina pública é um dos caminhos, como o corte de alguns ministérios, e/ou a reorganização institucional. Agora, essas alterações não necessariamente devem significar eliminação de programas e políticas, em especial daquelas que não requerem grandes investimentos ou alocação de recursos públicos. Mas é muito difícil saber neste momento como será o prosseguimento dos programas, como política para mulheres, políticas de gênero e outras”, explicou.

Setores empresarial e comercial têm aceitado bem a administração peemedebista. Um dos indicadores da inflação no País, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) mostra que a variação dos três meses que Temer ficou como presidente interino é menor do que os quatro últimos meses da gestão petista. Entre janeiro e abril, com Dilma, o indicador variou 3,25%, enquanto de maio a julho, o valor flutuou 1,66%.

Segundo o professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e cientista político Paulo Barsotti, as primeiras medidas do governo Temer, que atingem e afetarão diretamente a classe trabalhadora, já eram esperadas pela população diante do conteúdo do documento ‘Uma Ponte para o Futuro’, divulgada pelo PMDB. “Antes a pergunta era: ‘Quem vai pagar o pato?’. A resposta é: ‘os trabalhadores’. Estamos com o desemprego chegando à casa de 14 milhões e o alvo da nova gestão continua sendo a previdência, a chamada flexibilização da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que, na verdade, remetem à precarização. Todas medidas têm um caráter antipopular e podem ser implantadas dada a fragilidade e a desorganização da oposição, dos movimentos sociais, dos sindicatos que precisam retomar esse processo de diálogo com a população, mas isso é algo lento, que dá um fôlego para o Temer passar essas medidas no congresso nacional.”

Professora de ciências políticas da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Jacqueline Quaressemin endossou o pensamento de Barsotti. “Como presidente, ele certamente aplicará o plano completo envolvendo medidas impopulares como a privatização da Saúde, aumento da idade mínima e mudança no cálculo para aposentadoria, flexibilização dos direitos trabalhistas e terceirização da mão de obra.”
Base pede exemplos do governo; oposição está temerosa

Políticos da base e da oposição divergem quanto aos possíveis rumos para o País nos próximos dois anos, sob gestão efetiva de Michel Temer (PMDB).

Para o deputado estadual Orlando Morando (PSDB), Temer precisa resolver a situação econômica do Brasil o quanto antes. “O presidente tem a obrigação de fazer dar certo e ele percebeu claramente que a mão que dá tira também. Tem de iniciar as reformas imediatamente e precisa começar pela própria carne: cortando cargos e despesas. Ele tinha de suspender avião privado para ministro, implementar políticas de austeridade pesada, mas isso tem de partir do governo porque ele não pode exigir nada da sociedade sem dar o exemplo.”

No mesmo sentido, o deputado federal Alex Manente (PPS) tem expectativas de que possa haver melhora em toda a Nação. “Espero que este governo coloque o País no rumo, que nós possamos ver o Brasil se desenvolver, voltar ao seu crescimento. Acho que agora, como presidente, ele terá mais condições de tomar medidas para colocar o país no caminho certo.”

O pensamento foi endossado pelo senador Alvaro Dias (PV-PR). “Ele (Temer) precisa ter coragem, conquistar credibilidade, apoio popular e, com isso, terá adesão no Congresso para realizar reformas. Acho que não podemos exigir mágicas do Temer. Mas exigir que comece a plainar o terreno para mudanças de maior profundidade à frente, provavelmente, depois da eleição de novo presidente, legitimado pelos votos da população. Ele tem esse dever”, argumentou o Dias.

Prefeito de Ribeirão Pires, Saulo Benevides (PMDB) espera obter alguma vantagem com o novo governo. “Espero que consigamos R$ 100 milhões em convênios com o governo federal. O viaduto do Centro Alto com o Centro Baixo foi um compromisso dele (Temer) quando esteve aqui em Ribeirão”.

Como contraposto, o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira (PT) se mostra pessimista quanto ao futuro. “É um governo golpista e representa o capital. É uma violência a democracia. Ele (Temer) vai tomar as diversas medidas contra o trabalhador, tirar direitos históricos conquistados. Trata-se de um governo tirano e quer defender os interesses do capital e do grande empresariado. As políticas voltadas para as classes mais baixas da sociedade serão cortadas. O Brasil voltou à mão da elite”, discorreu.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques (PT), concorda com o pensamento do deputado petista. “É um governo perigoso para nós, trabalhadores. Uma gestão mais alinhada à pauta conservadora, à reforma dura da previdência, que já tem gerado dificuldades no acesso ao seguro saúde. Apesar de o ministro do trabalho ter vindo conversar conosco que será um parceiro, continuamos muito preocupados com o que esse governo. Nossa posição é alerta máximo para não permitir retrocesso de direitos conquistados nos últimos anos”, comentou o dirigente.

Para o parlamentar federal Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT), o momento é de tensão. “Pelo que ele (Temer) tem falado na ponte para o futuro, há indicações de alguns caminhos que satisfazem as empresas internacionais e nacionais. A preocupação é muito grande no que diz respeito ao direito dos trabalhadores. É uma ameaça como a terceirização e o aumento das horas de trabalho. Estamos apreensivos, mas acredito que com os trabalhadores mobilizados podem resolver isso e não deixar essas medidas passarem.” 




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