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Pobreza salta aos olhos no Grande ABC
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
28/11/2004 | 13:51
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São Bernardo é uma cidade de dois extremos, mostra o estudo da Fundação Seade, baseado no Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2000. Mas a pobreza salta aos olhos de quem se vira para qualquer ponto do Grande ABC. A pesquisa também aponta os bolsões de miséria nos outros seis municípios, que pelos dados não apresentam tanta disparidade, mas registram situações limítrofes na prática. Na região, cerca de 200 mil pessoas vivem em condição muito alta de vulnerabilidade social. O número é maior do que a soma de toda a população de São Caetano e Rio Grande da Serra. Cerca de 150 mil estão no lado inverso e não correm riscos graças à conta bancária.

Com 80% de seus moradores classificados na faixa número 2 do IPVS (Índice Paulista de Vulnerabilidade Social), São Caetano pode ser considerada uma grande ilha de privilegiados no Grande ABC. O estudo mostra que a população carente é tão pequena na cidade que, nos quesitos de risco social médio, alto e muito alto, há um traço na tabela. Realidade muito diferente de Mauá, que, em porcentagem, é a maior concentradora de gente "muito vulnerável" – são 15% que dependem de serviços públicos de saúde, lazer, transporte e educação. Rio Grande da Serra está em segundo lugar – de baixo para cima – com 13% de excluídos.

Em Diadema, só 2,5 mil pessoas podem se considerar muito bem de vida, 0,67% da população. Na cidade, tomada por áreas invadidas e favelas recém-urbanizadas, metade dos moradores se equilibram na corda bamba para sobreviver: é a classe média baixa e os não tão pobres, que não foram privados de todos direitos básicos, mas dificilmente se livram da imobilidade social. Estudaram, mas não o suficiente para um emprego de alto nível. Estão na faixa 4 do IPVS, de média vulnerabilidade. Santo André e Ribeirão também concentram boa parte da população nesse meio termo.

Para incluir as 200 mil pessoas na roda-viva do desenvolvimento, a região precisa apostar em iniciativas que, a longo prazo, possam reverter o caos sem causar grandes abalos nos outros 150 mil. Demora, mas resolve, de acordo com o economista Sinésio Pires Ferreira, um dos coordenadores do estudo que estabeleceu o índice da Fundação Seade. "Só políticas a longo prazo podem quebrar o círculo vicioso. Mais do que iniciativas isoladas, os programas precisam se integrar. Assistencialismo imediato não dá."

O desafio para a região é maior porque trata-se de um pólo de atração populacional, por ser bastante industrializado. "Regiões ricas são assim. Concentram muitos pobres em áreas urbanas, que chegam em busca de emprego. E vão se acumulando. Talvez no interior vivessem bem melhor com a mesma renda, porque o custo de vida na Região Metropolitana é altíssimo."

Em Rio Grande e Mauá, os recordistas de vulnerabilidade, o primeiro passo encontrado pelas prefeituras foi o mesmo. Ambas investiram no cadastro único para traçar políticas mais eficientes de inclusão. "Dependemos muito de recursos federais porque nosso orçamento é muito baixo. Mas investimos muito em capacitação profissional", afirma a secretária de Ação Social e Cidadania de Rio Grande, Célia Regina Migliani.

Em Mauá, o desafio dos últimos anos foi a de regularizar as áreas invadidas, como Jardim Zaíra e Oratório. "Começamos da estaca zero. O importante, agora, é usar o cadastro único para balisar iniciativas em conjunto", afirma o secretário de Assistência Social e Cidadania, Sebastião Marcial Sobrinho.

Em São Bernardo, o município estuda a implementação de um software que informatize o cadastro dos usuários dos programas sociais. "Vai ficar mais fácil cruzar os dados. Vamos otimizar nossa ação", explica a assessora para Políticas Sociais da Prefeitura, Marlene Zola.




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