Cultura & Lazer Titulo Crítica
Polêmica realidade brasileira

Com bagagem e responsabilidade pesadas nas
costas, ‘Aquarius’ estreia para provocar reflexões

Por Vanessa Ratti
30/08/2016 | 07:00
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Divulgação


 Uma mensagem dentro da garrafa. Assim pode ser definido o brasileiroAquarius, protagonizado pela atriz Sonia Braga. Melhor filme no World Cinema Amsterdam, festival da Holanda, a produção propõe importantes reflexões sobre a sociedade e traz à tona a nova realidade do cinema brasileiro: a diversidade. Dirigido por Kleber Mendonça Filho, o longa – cuja estreia é na quinta-feira – conta a história de Clara, jornalista, apaixonada por música e pelo mar, que vê da janela do seu apartamento, na Praia da Boa Viagem, no Recife. Tudo parece normal, até que seu edifício Aquarius é procurado por construtora que quer modernizá-lo. Ela luta até o fim para que isso não aconteça. Clara deseja preservar a memória do lugar onde cresceu e criou os filhos.

A trama é toda desenhada pela música, algumas vezes pela voz de Maria Bethânia, outras pela de Roberto Carlos. Porém, o que predomina é a crítica ao progresso implícita na obra. Diego, interpretado por Humberto Carrão, é quem deve demolir o edifício para acompanhar a modernidade urbana. “Vimos isso durante a Olimpíada. Muitas famílias foram tiradas das suas casas para que essas obras pudessem acontecer”, alfineta Carrão. “Eles acham que podem governar a cidade e ignoram o afeto e a memória.”

Além dessa discussão, Sonia Braga volta ao cinema brasileiro de forma revolucionária e apresenta personagem que é avó, mãe, profissional e tem vida sexual ativa, mesmo sendo viúva, o que quase nunca é tratado nos filmes. “Muitos tratam a mulher como em 1940, quando com 60 anos ela já era velha. O mais incrível é ver que muita gente se identifica”, revela a atriz, que vai além: “A Clara me deu voz”. E como não poderia deixar de ser, mesmo antes de estrear, o filme acumula polêmicas. Uma delas é a censura. No Brasil, o Ministério da Justiça o classificou como impróprio para menores de 18 anos. “Não acho que tem nada explícito. São três cenas de sexo, mas que estão de forma certa do ponto de vista da câmera. Não é nada chocante”, explica o diretor. 

Além disso, o longa já é comentário nas redes sociais desde que foi indicado para o prêmio Palma de Ouro do 69° Festival de Cannes, que ocorreu em maio. Na ocasião, todo o elenco apareceu com cartazes sobre situação política do Brasil e protestou contra o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. O caráter político, inclusive, estaria prejudicando a escolha do filme para ser possível representante brasileiro no Oscar. Tanto que os cineastas Gabriel Mascaro e Anna Muylaert decidiram tirar Boi Neon e Mãe Só Há Uma, respectivamente, da disputa. O objetivo? Dar destaque ao projeto de Mendonça Filho. Na sexta-feira, Aquarius foi exibido no Festival de Cinema de Gramado. Sob gritos de ‘Fora, Temer’, o longa foi ovacionado. E, no fim, é isso o que importa: trata-se de um bom filme e isso não se discute.




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