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Manoel Coelho, 'a via de duas partes'

Cortada pela Avenida Goiás, rua tem fama de manter diferenças de ambientes entre parte alta e Centro

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
05/10/2020 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


A Rua Manoel Coelho, em São Caetano, foi caracterizada pela população como “a via de ligação dividida em duas partes”, já que é desmembrada pelo cruzamento com a famosa Avenida Goiás. Para o lado de cima, no bairro Santo Antônio, o clima é mais calmo e reúne ainda algumas residências. Na parte mais baixa, no Centro, o logradouro é agitado e ‘decorado’ com comércios de fora a fora, o que lhe rendeu a fama de manter diferenças de clima em um só trajeto.

Por unanimidade, as pessoas veem a Manoel Coelho como local de extrema importância para a cidade, sobretudo porque a rua dá acesso a diversos outros pontos municipais e reúne serviços e lojas de nome, como é o caso da Pernambucanas, instalada no endereço desde 1930. Outro exemplo é a Casas Bahia que, apesar de não ter como endereço oficial a Manoel Coelho – sendo somente as costas da loja, situada oficialmente na Rua João Pessoa, localizada no fim da via –, reforça a história da região por ser a primeira unidade da rede a ser inaugurada, em 1957.

De mão única, a Manoel Coelho começa no terminal rodoviário, com ligação pelo Viaduto dos Autonomistas, passando pela Avenida Goiás, e desemboca na Rua Monte Alegre, sentido bairro. Ao longo dos cerca de 930 metros, cruza ainda com endereços como a Rua Baraldi e o calçadão da Carlos de Campos, sem contar que a galeria municipal tem passagem para a Rua Santa Catarina. Esses acessos são o que fazem da Manoel Coelho a “pequena notável” dos são-caetanenses.

Ao andar pela rua é possível encontrar centros médicos e odontológicos, supermercados, farmácias, bancos, lojas diversas, bares e restaurantes, hospital, e até mesmo o Correios e a Receita Federal. Foi essa relevância, sobretudo comercial, que levou a família do advogado Fernando Rezende da Silva Castro, 55 anos, ao endereço, ainda nos anos 1940, quando seu avô, o cirurgião-dentista João Lourenço de Castro, abriu seu consultório no número 184, no Centro.

O ponto, desde aquela época, era considerado bom para os negócios, principalmente pelo movimento local. Castro relatou que, quando mais novo, morava com os pais, tios e avós em uma chácara que ficava na divisa de Santo André com São Caetano, na Avenida Carlos Gomes, entre os bairros Palmares e Boa Vista, respectivamente. Com a desapropriação da residência, os Castro foram morar na casa onde ficava o consultório. “Ficamos nesse endereço até 1979, quando meu avô e pai encontraram um terreno para comprar, também na Manoel Coelho, no antigo número 884, na mesma calçada, só que do outro lado da Goiás, no bairro Santo Antônio”, relembrou.

Castro, que coleciona em sua história 43 anos de vivência na Manoel Coelho, sendo 39 na mesma casa, explicou que um dos motivos para terem trocado de lar foi o alto movimento da parte Central, mas que não quiseram mudar de rua, já que o local para eles já tinha mais do que importância, “As carreiras dos meus tios, pai e avô foram aqui na Manoel Coelho. Essa rua foi vital para a nossa família, serviu de esteio para todo mundo”, revelou, assumindo seu carinho pelo local e motivo pelo qual se mantém até hoje no endereço.

De perto, Castro pôde acompanhar as mudanças da via. “Onde moro, no bairro Santo Antônio, lado de cima da Goiás, antigamente era só residências. Aos poucos, foi se tornando mais comercial também e com mais movimento”, explicou o advogado. “A casa onde era antes o consultório da minha família é agora um centro odontológico. Isso nos deixou muito felizes, porque mantém nossas raízes”, contou, orgulhoso, revelando que não pensa em sair do local. “Essa rua é essencial para a cidade. Liga os bairros com o Centro, a cidade à Capital. Nem eu, nem meu filho, que tem 26 anos, pretendemos sair daqui. Somos muito felizes nessa casa”, finalizou.

Hospital está há 46 anos no endereço
Ponto histórico na Manoel Coelho, o Hospital Central de São Caetano, na altura do bairro Santo Antônio, completará 46 anos de atuação este mês. O endereço, porém, ganhou visibilidade por ter sido construído, à época, em local que ainda tinha viés mais residencial, quando sua estrutura robusta chamou atenção, dando valorização ao endereço. Construído por um médico anestesiologista, a escolha do ponto foi estratégica, sobretudo por estar próximo da Avenida Goiás, que liga o município não somente aos bairros, mas também Santo André e Capital.

Diretor administrativo do equipamento de saúde há 23 anos, Antônio José Mônaco avalia que, nos últimos dez anos, o logradouro mudou seu viés. “O comércio cresceu na Manoel Coelho, trazendo o fluxo de pessoas e, principalmente, lojas de cosméticos e produtos importados. Com a chegada de novos empreendedores, investindo no comércio local, a população cresceu muito. Há dez anos a rua era mais bairrista”, contou.

Para ele, a Manoel Coelho é uma via “facilitadora”. “A rua cruza a cidade de São Caetano desde a estação até o bairro Santo Antônio, dando acesso à Rua Baraldi e à Avenida Goiás, uma das principais do município”, avaliou, elogiando a construção da Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) Parque Escola, em área que antes abrigava a somente a Praça Luiz Olinto Tortorello, à margem da Avenida Goiás – o local trazia transtornos aos pacientes, sobretudo por ser “mal frequentada”, e ter “muito barulho nas madrugadas”.

A unidade escolar deve ser entregue ainda este ano e trará novo conceito, desenvolvendo o modelo de escola parque, com implantação de 15 medidas de sustentabilidade e integração de ambiente escolar com espaço público.

UM POUCO DE HISTÓRIA
A Rua Manoel Coelho remonta desde antes da emancipação do município, em 1948. Conforme a Fundação Pró-Memória de São Caetano, o loteamento da região Central da cidade e a abertura de suas ruas aconteceram no início do século 20, quando tudo fazia parte do município de São Bernardo, e a partir da década de 1930, a Santo André.

Conforme a Prefeitura, no início do século 20, a família Pamplona, proprietária da Companhia Melhoramentos de São Caetano, loteou terrenos adquiridos de antigos colonos, e, por isso, ruas destes loteamentos receberam nomes de seus familiares ou de pessoas ligadas à empresa. Foi o caso de Manoel Coelho, que era diretor gerente tanto da Companhia Fábricas Pamplona quanto da Companhia Melhoramentos de São Caetano, além de ser amigo de confiança do proprietário. Coelho morreu em 1914, aos 44 anos.

Comerciantes apostam na rua para novos negócios
Forte no comércio e com alto movimento, a Rua Manoel Coelho é um dos endereços de São Caetano que chama atenção de empresários. Dentre tantas opções, o local é visto como “boa aposta” para novos negócios.

Foi assim que o chef de cozinha Fernando Nunes Bandeira, 34 anos, escolheu o logradouro para abrir, em fevereiro, o Barbacana, que fica quase no fim da Manoel Coelho, no bairro Santo Antônio, já chegando na Rua Monte Alegre. Além do nome forte da via, o ponto crucial para a compra do imóvel foi de a casa, onde hoje funciona o bar e restaurante, já estar pronta. “Aqui é um bom acesso. Passa muita gente que vem da Capital, do Centro, e de todos os bairros. A rua é gostosa e trouxemos uma proposta diferente para o local”, disse o proprietário.

Além de servir refeições, o espaço funciona de sexta-feira e sábado como happy-hour, como bar e karaokê. “Com a pandemia, o movimento ainda é baixo. Tivemos de parar por um tempo, optamos pelo delivery, e agora vamos sentir como vai ser esse relançamento”, relatou Bandeira.

O chef de cozinha já vislumbrava a oportunidade havia cerca de três anos, quando trabalhava como fornecedor de salgados, em fábrica que ficava no bairro São Lucas, em São Paulo. “Depois de cursar gastronomia, revolvi apostar em outro ramo, que também era de alimentação, mas outra proposta. No lugar de salgados, restaurante e bar”, revelou.

Hoje o Barbacana oferece cardápio executivo, à la carte, com pratos diversos, que atendem desde o público vegano, até quem quer uma comida mais tradicional. O espaço, que Bandeira caracteriza como “aconchegante”, ainda passará por reformas para melhor atender o público. “Quero dar mais visibilidade para a área interna, que é bonita e chamativa”, contou.




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