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Mão-de-obra barata põe mais engenheiros nas montadoras
Por Eric Fujita
Do Diário do Grande ABC
21/08/2005 | 08:04
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O baixo custo da mão-de-obra em relação aos Estados Unidos e à Europa está levando as multinacionais da indústria automobilística a promover uma expansão dos departamentos de engenharia no Brasil, parte dos quais vinculados a fábricas instaladas no Grande ABC. Com mais engenheiros, o país se tornou receptor de projetos estratégicos e passou a desenvolver carros com origem genuinamente brasileira destinados ao mercado mundial.

Na avaliação de especialistas do segmento ouvidos pelo Diário, fica mais barato para as empresas projetarem novos modelos no país por conta das diferenças salariais, que chegam a 360%. Enquanto um engenheiro brasileiro recebe em média R$ 5 mil por mês, outro com a mesma qualificação no exterior ganha US$ 5 mil (cerca de R$ 12,5 mil) nos Estados Unidos e 8 mil euros (R$ 23 mil) na Europa.

Segundo Fabio Braga, gerente de Relações Institucionais da SAE-Brasil (Sociedade de Engenharia Automotiva do Brasil), as matrizes perceberam que os engenheiros brasileiros têm a mesma competência dos profissionais do exterior e com ganhos mais inferiores. "Se a capacidade é a mesma, as empresas com certeza fazem de tudo para economizar custos."

Por outro lado, essa diferença salarial garantiu projetos importantes para o Brasil. Um deles foi o Projeto Tupi, da Volkswagen, iniciado em 1999 e que originou o Fox. Lançado no final de 2003, o modelo tem uma versão para a Europa, cuja produção começou em julho em São Bernardo.

Na General Motors, foram projetados os derivados do antigo Corsa. São as versões quatro portas, o station wagon e a picape Corsa. Anos mais tarde, em 2002, a empresa desenvolveu no país o monovolume Meriva, com base na plataforma do novo Corsa. Agora, se prepara para lançar o novo Vectra, produzido totalmente no país.

Para garantir o sucesso desses projetos, as filiais brasileiras tiveram de contratar profissionais mais especializados, capazes de absorver tecnologia mais complexa oriunda das matrizes, destaca o presidente da Delegacia Regional do Sindicato dos Engenheiros no Estado, Sérgio Scuotto.

Segundo ele, a parcela de engenheiros nos centros de desenvolvimento de veículos das montadoras aumentou de 30% nos anos 70, quando as empresas passaram a investir mais nesses departamentos, para 80% atualmente. "Antes, o desenvolvimento de projetos no país era tocado por profissionais de nível técnico", explica Scuotto, que atua em montadoras há mais de 30 anos.

Após absorver as novas técnicas, os engenheiros passaram a aplicá-las nos carros com preços mais atrativos e compactos - os conhecidos populares -, explica Scuotto. A finalidade era dar mais conforto ao motorista, com base em tecnologias empregadas em veículos de luxo. "A partir daí, o país se tornou uma das principais referências no segmento."

O consultor automotivo da Beer Consult e ex-vice-presidente da GM para o Brasil, André Beer, afirma que a expansão das tecnologias ocorreu principalmente para atender ao gosto do brasileiro e às condições das estradas do país.

"Quem define isso é o cliente. Tanto que os produtos passaram a se adequar de tal forma que os engenheiros tiveram como principal desafio aplicar as tecnologias de fora nos carros populares para atrair os brasileiros."




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