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‘Fui esquecido e colocado para fora do PT’, diz Siraque
Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
18/05/2017 | 07:00
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Ex-vereador, ex-deputado estadual e ex-parlamentar federal por Santo André, Vanderlei Siraque entregou ontem carta de desfiliação do PT. Ele, que estava registrado no diretório petista da cidade desde 1983 – ingressou em 1980, mas em Santa Cruz do Rio Pardo, no Interior –, diz que sai da legenda por ter sido escanteado no petismo.

“Quando deixei de ser deputado (em 2014) fui abandonado. Pelo PT, pelas nossas gestões”, afirma Siraque, em entrevista ao Diário. O ex-petista declara que deve definir nas próximas semanas sua nova sigla, que quer ser candidato a deputado estadual em 2018 e que sua mulher, Bete Siraque, continuará no petismo. “Estou tirando um pedaço de mim. Fui colocado para fora. Não estou saindo, fui saído. Fui esquecido numa gaveta.”

CONFIRA ENTREVISTA COMPLETA

Por que o sr. saiu do PT?
Quando ganhei a prévia (em 2007, para ser candidato a prefeito de Santo André em 2008), apesar de o PT se intitular como partido democrático, o grupo perdedor saiu em debandada. Mesmo assim deixei tudo isso para lá, saí candidato a deputado federal em 2010. Todas as pesquisas indicaram que poderia ser candidato (a prefeito) em 2012, nome forte, mas sabia que teria de ir para prévia. Só que não queria me submeter mais a prévias, é muito dolorido, e abri mão para o (Carlos) Grana ser candidato a prefeito. Ouvi muitas promessas do Grana, de participação na construção do governo. Depois o Grana e o (Luiz) Marinho me pediram para ser candidato a deputado federal. Pensei e consenti, achei importante. Só que na campanha de 2014 a estrutura se voltou contra minha candidatura. Não fui priorizado, se voltaram contra. Com todas dificuldades, me coloquei à disposição para ajudar na reorganização do PT. Procurei as grandes lideranças e nada. Tem gente me ligando hoje (ontem) depois de três meses eu pedindo para conversar. É uma desfaçatez. Só queria ajudar o programa de governo. Sempre me disseram que havia bastante gente. Essas coisas vão desgastando. Quando deixei de ser deputado (em 2014) fui abandonado. Pelo PT, pelas nossas gestões. Não queria espaço de cargos. Mas queria discutir o governo, participar da gestão, dar conselho. Na campanha de reeleição eu sequer participava da reunião de coordenação. Agora estamos em um bom momento. Aqui em Santo André o PT está num bom momento. A chapa, puxada pelos nossos vereadores, principalmente pela Bete, venceu. O candidato Zé Paulo (Nogueira) foi vitorioso (a presidente do PT andreense). Entretanto, na região não. Pessoas que não tinham condições de estar aqui ganharam prêmios, como ser coordenador regional (Grana foi eleito para Macro PT ABC, núcleo regional do petismo). No Estado, continua do mesmo jeito. Em âmbito nacional não melhorou. Aqueles que têm poder de decidir vão continuar mandando. Não vejo vontade de mudar, com exceção daqui. A gota d’água foi a exclusão do meu nome na lista de candidatos. Nem deputado estadual, deputado federal, governador ou senador. Não estou em lista nenhuma de prioridades. Como não tenho vontade de me aposentar, ainda me considero novo (tem 57 anos), quero continuar dando a minha contribuição.

Qual sentimento com saída?
Não estou saindo do PT. Não foi um filiado normal. Sou um construtor do PT junto com minha família e amigos. Ajudei o PT a se consolidar. Estou tirando um pedaço de mim. Fui colocado para fora. Não estou saindo, fui saído. Formalmente eu estava no PT, mas de fato eu não fui convidado a nada. Fui esquecido numa gaveta. E teve uns que tentaram trancar a gaveta e jogar a chave fora. Pelo menos nos últimos dois anos estava nessa gaveta. Só que eu abri a gaveta, arrombei a fechadura e saí. Estou vivo. Estou me sentindo expulso. Quando não tem mais força, você acaba renunciando. Criaram essa condição para eu sair. Renuncio à filiação do PT, mas não à militância. Tenho certeza que 90% da militância concorda comigo, com a minha posição. Não fico feliz por sair.

O sr. é candidato em 2018?
Pretendo. Não sei se a (deputado) federal ou a estadual. Estarei na cédula. Minha vontade é ser estadual, mas vou conversar, se tiver que vir federal, virei. Tenho de acertar.

Há algum partido em vista? O PCdoB é possibilidade?
Ainda não. Mas será dentro do campo da esquerda. Minhas ideias não cabem no campo da direita nem a direita cabe em mim. Existe uma possibilidade (sobre o PCdoB). Tive alguns convites (de outras siglas). Há possibilidades. Como se trata do campo da política, tenho que pensar onde vou desenvolver melhor as ideias, os projetos, a construção de projeto. Minha inspiração será retomar o projeto do Celso Daniel (prefeito de Santo André por três mandatos pelo PT, morto em 2002), revisitando esse projeto, com releitura deste projeto com base nas atualidades.

Esse partido que o sr. escolher tem de ser necessariamente oposição ao governo de Paulo Serra (PSDB), prefeito de Santo André?
Não necessariamente. Nunca defendi oposição a pessoas. Defendo oposição a projetos.

Até quando pretende definir seu novo partido?
Quero definir logo. Até o fim de maio vou definir isso.

Como fica sua mulher Bete Siraque, vereadora do PT andreense? Sairá também?
A Bete não foi excluída (do PT). Faz parte da executiva municipal. Tem atuação junto à nossa bancada. Muitos acham que a Bete se elegeu por minha causa. Eu ajudei, mas não só ela. A Bete é minha mulher, é questão de afetividade. Não é porque eu saio que ela tem que sair.

O sr. acredita em retaliação ao trabalho da Bete no PT?
Acredito que não. A mulher precisa ter autonomia na política. Tem de saber separar as coisas. Já perderam um, vão querer perder outro também? Ela tem trajetória própria. Espero que o PT mude. Será pedagógico.

Grana decepcionou o sr.?
Não, não. Ele nunca me decepcionou. Ele é o que sempre foi e continua sendo. Ele não tinha condições, na época, de assumir a responsabilidade aqui. A culpa não é só dele. Ele foi colocado aqui. Cumpriu missão de um grupo político. Não digo que não tinha capacidade para ser prefeito. Cumpriu uma missão dada para ele por um grupo político, que passou por cima de todos os grupos da cidade, deu no que deu aí. Ele não cumpriu nenhum acordo que fez comigo. Não jogo a responsabilidade para ele. Quem pariu Mateus que embale. O sistema está errado. Eu não tive condição de mudar o sistema e o sistema não me quer dentro dele. Porque talvez eu seja crítico. Talvez tenha ideias que as pessoas não compreendem. Em 2007 o Grana nem aqui estava. Não me lembro, acho que não morava aqui (em Santo André). Estou falando de gente que era ministro, que vinha aqui tomar posição em eleição. O Grana é peixe pequeno nesta história.

O sr. ainda sonha em ser prefeito?
Não é esse meu objetivo. Meu objetivo é discutir projetos para cidade, na região. Hoje não está dentro da minha utopia. Discutir a cidade é obrigação de todos os cidadãos.

Alguma liderança conversou com o sr. após a entrega da carta?
Nenhuma, das grandes, falou. As pequenas sim. Choram e eu choro junto. Outros, talvez, até torceram para isso. Perdi a eleição a prefeito porque o PT não estava junto. Tem gente no PT que não é petista. Tem gente que trabalhou na administração sem a mínima relação. O principal secretário (do governo Grana) é o atual prefeito, que é do PSDB (Paulo Serra foi secretário de Obras, Serviços Públicos e Mobilidade Urbana). É fato. A ex-secretária de Assuntos Jurídicos é corregedora numa gestão do PSDB (Mylene Gambale, ex-titular da Pasta com Grana, hoje trabalha com o prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior). Só que vou deixar claro. Não vou brigar com o PT. Saí porque não tive espaço. 




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