A governadora do Rio de Janeiro, Benedita da Silva (PT), ordenou na noite desta quarta-feira a reabertura das investigações sobre o assassinato do repórter da TV Globo Tim Lopes, assassinado em junho enquanto fazia uma matéria no complexo de favelas do Alemão. Ela determinou ainda a exoneração do delegado Sérgio Falante (22ª DP do Rio, na Penha), responsável pelas investigações, e o afastamento do investigador Daniel Gomes, apontado como um dos autores do inquérito encaminhado para a 1ª Vara Criminal do Rio de Janeiro nesta quarta-feira. Benedita requisitou ao Ministério Público a devolução do inquérito e a reabertura dos trabalhos em uma outra delegacia, com outros investigadores.

As medidas se deveram à má repercussão do inquérito sobre o caso. O Jornal Nacional, da TV Globo, publicou nesta 4ª trechos do documento apontando que o repórter foi o responsável pela própria morte. Os fragmentos exibidos pela Globo afirmam que Tim Lopes "se colocou muito perto do perigo, não vislumbrando a diferença da emoção para a razão". Ele teria feito isso para conquistar prestígio e fama com mais uma matéria sobre o poderio do narcotráfico. O relatório, segundo divulgado pela Globo, lembra a conquista do Prêmio Esso de Jornalismo por Tim Lopes, com uma matéria sobre 'feira das drogas' nas favelas do Rio.

O inquérito rendeu um editorial indignado por parte da Rede Globo, em que a emissora destacou a ineficiência da polícia fluminense nas investigações. A reação do governo do Rio chegou após os comentários da Globo. Uma nota oficial divulgada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado no final da noite afirma que as conclusões do inquérito "de maneira alguma traduzem o sentimento" das autoridades e ressaltam a "corrosão e a deterioração que atingem parte do aparelho policial do Rio". A nota destaca ainda que a reabertura das investigações serão feitas "em nome da dignidade e em memória de Tim Lopes e das demais vítimas do crime".

O inquérito acusa nove pessoas, o traficante Elias Pereira da Silva (Elias Maluco) e oito supostos membros de sua quadrilha, pelo assassinato de Tim Lopes. O repórter foi executado em 2 de junho deste ano, ao tentar coletar imagens de um baile funk no Complexo do Alemão (que seria dominando por Elias Maluco) para uma matéria sobre o recrutamento de jovens por traficantes. Ele foi levado ao alto da favela da Grota, torturado, executado e teve seus restos mortais queimados. Segundo testemunhas ouvidas no inquérito, os responsáveis pelo crime foram Elias Maluco e seu bando.

Foram acusados, além de Elias Maluco, André da Cunha Barbosa (André Capeta), Maurício de Lima Martins (Boi), Anderson Martins de Carvalho (Ratinho), Elizeu Felício de Souza (Zeu), Fernando Sátiro da Silva (Frei), Claudino dos Santos Coelho (Xuxa), Reinaldo do Amaral de Jesus (Cadê) e Ângelo Ferreira da Silva. Os quatro primeiros estão foragidos e os cinco últimos, detidos.