A exposição conta com esculturas produzidas desde a década de 1940. A mais recente é a Claridade, de 2001. “Sonia continua trabalhando, principalmente com argila”, afirma o curador. A artista mora no Rio e, apesar de ainda em atividade, sua presença na mostra não deve ocorrer, por causa de “problemas físicos”.
A mostra, batizada de Sua Obra Sua Vida, abre nesta terça para convidados e no dia seguinte para visitação. Fica em cartaz até 10 de abril, com as 49 obras à venda – os preços variam de R$ 3,2 mil a R$ 210 mil. Luiza é a mais cara, e Diana, a mais alta (2,4m).
A trajetória de Sonia Ebling tem um marco facilmente identificável: a arte se sobrepõe ao preconceito. Era 1935, quando a menina do interior do Rio Grande do Sul, de 17 anos, decidiu ser escultora. Passeava pelo Rio e viu pela primeira vez um ateliê, era do escultor Humberto Cozzo. “Entrei, olhei e foi fulminante: ‘é isso que quero ser e vou ser‘“, escreve Sonia, no catálogo da mostra.
A empolgação logo se transformou em frustração. “A escultura era vista como coisa de macho, pois demanda fundição e trabalho com fogo, metal pesado”, afirma Schmidt. Teve de enfrentar os pais e a discriminação até de professores de arte. A artista conta que se sentiu “rejeitada” ao ouvir frases do tipo: “você é muito jovem e franzina, vai para a pintura”.
Formou-se em pintura, mas persistiu em seu objetivo. Em 1951, fez a escultura Adolescentes e se inscreveu pela primeira vez na Bienal Internacional de São Paulo. “Lembro-me que sequei o gesso com secador de cabelo, era preciso, a data de entrega se esgotava. A resposta veio por telegrama. Fui aceita”.
Adolescentes (feita em bronze, com altura de 78cm) está na exposição. A obra representa duas jovens – ingênuas, segundo a autora – em pose descontraída. A figura feminina volta a ser retratada, e muitas vezes. Se na época de Sonia a mulher tinha uma liberdade limitada, em sua arte ela pôde ser despojada, carinhosa, sensual, independente. Com personalidade, superou o preconceito.
Nomes como Rosália, Eleonora, Alberta, Marcela, Arminda e Juliana dão título às obras. Em muitas delas, a personagem está acompanhada de uma pomba. Seria uma homenagem ao ex-marido. Uma escultura em mármore, da década de 1960, é o auto-retrato da artista intitulado Sofia. “Não ousei chamá-la de Sonia, era uma figura nua”, escreve a autora.
O curador lembra a diferença de costumes entre aos anos 1940 e atualmente. “Hoje, a liberdade é absoluta. Naquela época, havia outra medida, era deselegante não usar chapéu”, diz Schmidt.
A retrospectiva traz outra faceta de Sonia Ebling. São os animais: Cabra, Elefante, Girafa, Leopardo, Rinoceronte e Hipopótamo, com alturas que variam de 25cm a 103cm.
A única falta, segundo o próprio curador, é o período abstrato de Sonia. “Quando ela voltou de Paris, em 1970, começou a produzir relevos abstratos, mas ela não tem mais nenhuma dessas obras. Uma delas, de 3m, está no Palácio dos Arcos, em Brasília”, afirma Schmidt.
A artista foi para a capital da França em 1955, quando ganhou o Prêmio Viagem à Europa, no Salão de Arte Moderna do Rio. Este foi um de seus inúmeros prêmios.
Em Paris, teve a oportunidade de estudar com o escultor russo Ossip Zadkine (1890-1967), de quem sofreu forte influência. “Acredito que seja ele seu grande mestre”, diz o curador.
Sua Obra Sua Vida – Exposição de esculturas de Sonia Ebling. Abertura na terça-feira, para convidados. Visitação, a partir do dia 24: de segunda a sexta-feira, das 10h às 20h; e sábados, das 10h às 14h. Na Nova André Galeria – alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1.753, São Paulo. Tel.: 3064-2242. Entrada franca. Até 10 de abril.
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