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Na tensão da Câmara, votos eram comemorados como gols
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18/04/2016 | 01:01
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Brasília, 18/04/2016 - Enquanto a oposição vibrava a cada um dos 367 votos a favor do impedimento da presidente Dilma Rousseff, o clima entre os petistas no plenário era de desolação. Quando o voto de número 342, confirmando o prosseguimento do processo, foi anunciado pelo tucano Bruno Araújo (PE), alguns petistas começaram a deixar o plenário tentando buscar explicações para o fracasso dos insuficientes 137 votos contra o impeachment.

"O que deu errado já vem dando há muito tempo. Difícil corrigir um problema acumulado há muito tempo", disse o líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), que acompanhou os instantes finais no plenário. Com um ar de cansaço e consternação, Costa disse que era preciso esperar a poeira baixar para ver o que podia ser feito no Senado, mas admitiu que a tarefa não será fácil, já que o afastamento do cargo será definido por maioria simples na Casa.

Horas antes da sessão do impeachment, os discursos eram otimistas dos dois lados. Mas oposição e governo entraram no plenário sem a certeza de que teriam os votos necessários. A partir do voto 208 favorável ao afastamento, pouco antes das 21h, os governistas começaram a jogar a toalha e os ânimos se exaltaram.

Sem perspectiva de mudança de cenário, o vice-líder do governo, Orlando Silva (PCdoB-SP), anunciou que, numericamente, seria difícil reverter a votação. "Este resultado sinaliza que a oposição vencerá. PP, PR e PMDB do Paraná não cumpriram a palavra. Dificilmente haverá reversão", desabafou Silva.

Ao ser informado do comentário de Orlando, outro vice-líder, deputado Silvio Costa (PTdoB-PE), irritou-se e disse que o colega estava errado e não sabia fazer contas. "Nós estamos no jogo, sim. Se o deputado Orlando admite a derrota, ele não sabe fazer contas", disse, aos gritos. Costa deixou o plenário chorando minutos antes do fim da votação.

Aos poucos, os votos dos que se declaravam indecisos foram se revelando no plenário, para desespero dos governistas. As primeiras decepções vieram com os votos favoráveis ao afastamento de Giacobo (PR-PR), do ex-ministro "faxinado" Alfredo Nascimento (PR-AM) e de Flávia Morais (PDT-GO).

O líder do PP e ex-ministro do governo, Aguinaldo Ribeiro (PB), foi chamado de traidor quando votou sim. O voto pró-impeachment de Tiririca (PR-SP) foi um dos mais celebrados da noite pela oposição, que em nenhum momento demonstrou desânimo.

"Os golpistas venceram aqui na Câmara, mas a lista continua", lamentou o líder do governo, José Guimarães (PT-CE). "O governo começou a reagir tardiamente. Criou-se uma reação irreversível, é a minha opinião", avaliou Wadih Damous (PT-RJ).

Tensão

A sessão foi marcada por momentos tensos. O primeiro tumulto aconteceu no início, quando aliados do Planalto não se conformavam com a ausência da defesa de Dilma. O vice-líder do governo, Paulo Teixeira (PT-SP), esbravejava contra a decisão da Mesa quando foi puxado da Mesa Diretora por Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

Bolsonaro também protagonizou outro momento acalorado da votação. O parlamentar começou seu voto elogiando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e causou polêmica ao dizer que os governistas perderam em 1964 e são derrotados em 2016.

"Contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra o Foro de São Paulo, pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, por Deus o meu voto é sim", declarou. Em seguida votou Jean Wyllys (PSOL-RJ), que no final do discurso contra o impeachment, cuspiu em direção a Bolsonaro.

Muitos deputados que votavam contra o impeachment manifestavam o repúdio à condução dos trabalhos por Cunha. O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) chegou a chamar o peemedebista de "gângster", levando os governistas a sair da apatia em plenário e aplaudi-lo de pé. O vice-líder do governo Silvio Costa foi um dos que mais empolgou os governistas por chamar o presidente da Casa de "canalha", "bandido" e "ladrão". E vinha de Costa os principais incentivos à "tropa". "Vamos buscar voto, pessoal", gritou no plenário.

Telões

Dois telões no plenário exibiam imagens da manifestação na Esplanada dos Ministérios, o que irritou os petistas. As imagens mostravam predominantemente os manifestantes pró-impeachment, o que foi entendido como uma forma de pressão.

Cada voto era comemorado pelos dois lados como se fosse um pênalti convertido.

Entre os oposicionistas que declaravam voto a favor do impeachment, o ritual era descer da plataforma montada no meio de plenário e assinar uma bandeira brasileira. Já o lado governista, que passou toda a sessão apreensiva, aguardava em silêncio o anúncio dos votos e comemorava aos gritos cada voto contra o impeachment. No voto que sacramentou o impedimento, a oposição comemorou o resultado com gritos, abraços e choro.




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