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Indice de homicídios em Campinas supera Sao Paulo e Rio
Por Do Diário do Grande ABC
21/04/2000 | 14:33
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Até há pouco tempo considerada um oásis no interior do Estado de Sao Paulo, Campinas, a 90 quilômetros da capital, é hoje uma das cidades mais violentas do Brasil. Proporcionalmente ao número de habitantes, mata-se mais gente em Campinas do que em Sao Paulo ou no Rio de Janeiro.

Em 99, a taxa de homicídios em Campinas ficou em 55,8 por 100 mil habitantes. Em Sao Paulo, este índice foi de 55 e, no Rio, de 49. A cidade mais violenta do Brasil, por este critério, é Vitória (ES), com 77 homicídios por 100 mil habitantes.

A criminalidade na principal cidade do interior paulista aumentou 115% nos últimos cinco anos. O número de homicídios por 100 mil habitantes pulou de 26 para 55,8 entre 1994 e 1999. Em 99, foram 44 assassinatos por mês e 40 veículos roubados, em média, por dia. E, para piorar, a populaçao demonstra confiar pouco na polícia. Segundo pesquisa feita pela Fundaçao Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), 47,3% das pessoas vítimas de outros tipos de furto nao prestam queixa à polícia.

Assassinato - O assassinato do decorador e pintor Reynaldo Bianchi Neto, de 63 anos, na quarta-feira à noite, NO centro de Campinas, reacendeu a discussao sobre a violência em Campinas. Bianchi foi morto no cruzamento das avenidas Brasil e Barao de Itapura, regiao central da cidade.

Por volta das 21 horas, ele estava parado em um semáforo com seu Vectra preto, junto com a filha de 14 anos de idade, quando foi abordado por dois assaltantes. Segundo a polícia, o decorador se assustou com o assalto, acelerou o carro e levou dois tiros. Socorrido, ele morreu antes de chegar ao hospital.

Uma onda de seqüestros vem atingindo a regiao de Campinas desde o início do ano. Foram nove seqüestros registrados no período, o que dá uma média de um caso a cada 12 dias. Os crimes ocorreram em Campinas (três casos), Vinhedo, Capivari, Indaiatuba, Monte Mor, Sao Sebastiao da Grama e Mogi Mirim.

A açao do narcotráfico em Campinas também é intensa, segundo a Comissao Parlamentar de Inquérito (CPI) formada na Câmara dos Deputados. Os deputados da CPI estiveram na cidade no final do ano passado, ouviram diversos depoimentos e decretaram a prisao de vários suspeitos de envolvimento com o narcotráfico em todo o país.

Os crescentes índices de violência levaram o Comando de Policiamento do Interior (CPI), sediado em Campinas, a rever a política de segurança para a cidade. Segundo o setor de Relaçoes Públicas do CPI, o município cresceu muito e hoje enfrenta problemas sociais gravíssimos, típicos de uma metrópole. A política de segurança também tem que seguir esta lógica, de acordo com a Polícia.

O comando informa que isso já vem sendo feito, estabelecendo um maior contato entre a polícia e os Conselhos de Segurança (Consegs), formados por moradores. O objetivo é integrar ao máximo a polícia com a comunidade. A Polícia Militar de Campinas conta hoje com 450 viaturas e 2.500 policiais (um para 380 habitantes). Em junho ou julho, novas viaturas devem ser entregues. Até o final deste ano, mais 400 policiais devem integrar a corporaçao.Embora esteja acima do patamar recomendado pela Organizaçao das Naçoes Unidas (ONU) - de um policial para 500 habitantes -, o comando quer chegar a um para cada 100 moradores.

Juventude - Para o secretário municipal de Cooperaçao nos Assuntos de Segurança Pública, Ruyrillo Pedro de Magalhaes, é preciso investir em políticas públicas para a juventude como forma de diminuir a violência. "Temos que investir em educaçao e dar opçao de lazer aos jovens", diz. Mas, segundo ele, a Prefeitura sozinha nao tem como fazer esse investimento.

Magalhaes atribui os altos índices de violência em Campinas ao desemprego, ao consumo de drogas e à falta de educaçao básica e de aparelhamento adequado para a Polícia e a Justiça. E ressalta que a violência cresceu em todo o Brasil, nao apenas em Campinas.

A Prefeitura instituiu a Guarda Municipal em 96, no final da administraçao de Edivaldo Orsi (PSDB). O atual prefeito Francisco Amaral (PPB), investiu R$ 15 milhoes na corporaçao, que conta com 408 homens e 35 viaturas. Apesar da atuaçao ser limitada por lei (a segurança é dever do Estado, de acordo com a Constituiçao), Magalhaes afirma que a Guarda já fez 450 prisoes em três anos e diminuiu em 50% o número de ocorrências em escolas municipais, com o patrulhamento que realiza.

Covas - O presidente da Associaçao Comercial e Industrial de Campinas (Acic), Guilherme Campos Júnior, afirma que já fez várias reivindicaçoes ao governo do Estado para aumentar o aparato de segurança na cidade, mas alega nao ter sido atendido. "Falta efetivo. Esta é a sensaçao que nós temos", ressalta. Nem mesmo os números que mostram que Campinas tem mais policiais do que recomenda a ONU demove Campos dessa idéia.

Ele diz também que o fato de o prefeito Francisco Amaral partidário de Paulo Maluf (PPB), ser adversário político do governador Mário Covas (PSDB) prejudica a cidade. "Campinas sempre foi preterida em razao de o poder municipal estar totalmente descasado do estadual", declara. Para Campos, o problema nao é só com o Estado, mas também com a Uniao. "Campinas cresceu muito, mas a estrutura das polícias militar e civil e da Polícia Federal aqui é a mesma de 10 anos atrás", afirma. Para ele, esta é uma das razoes pelas quais o narcotráfico se instalou no município. As outras seriam a pujança econômica e a facilidade de acesso, por meio das várias rodovias que cortam a regiao.

O governador Mário Covas diz que há duas histórias inverídicas que criaram sobre o seu governo: a de que nao gosta de Campinas e a de que nao gosta da Polícia. "Nao sei de onde tiraram isso. Mas a versao foi crescendo e eu já cansei de responder que isso nao existe", ressalta. Covas afirma que se nao gostasse de Campinas, estaria cometendo um enorme ato de ingratidao com a sua populaçao. Ele lembrou que venceu na cidade as eleiçoes para presidente da República em 89 (quando ficou em quarto no País) e para o governo do Estado em 90 (quando terminou em terceiro no Estado), além de ter vencido também em 94 e 98.




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