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Seminário discute futuro da indústria
Por Vinicius Gorczeski
27/05/2011 | 07:12
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Unir empresários, governo e trabalhadores para atuarem em conjunto a fim de desenvolver a indústria nacional. A tese foi debatida e defendida pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, durante seminário realizado ontem na Capital. Com a enxurrada de itens importados, vindos principalmente de países asiáticos, e o consequente risco da desindustrialização, Mercadante mobilizou o evento, que se propôs a apontar alternativas para a economia brasileira quanto à produção e ao emprego. A reunião contou com representantes da Fiesp, CUT, Força Sindical e Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Como forma de viabilizar as discussões na forma de políticas públicas, o ministro sugeriu a criação de uma comissão entre empresários, trabalhadores e governo, que está aberta a audiências em Brasília. "É só dizer o dia", prometeu o ministro.

Mercadante destacou a Educação, desde formação básica até a capacitação profissional, como o pilar que irá sustentar o avanço da indústria nacional. Quando questionado sobre a falta de realizações concretas quanto ao tema, Mercadante rebateu que o processo de investimentos no setor é recente, e dizendo que a obrigação de cuidar da educação básica - que permite intensificar aprendizado de áreas como a matemática - é obrigação de prefeituras e governos estaduais. Apesar de repassar a responsabilidade, disse que "as portas do governo federal estão sempre abertas" para apoiar esses poderes. Também listou maior investimento na educação universitária como forma de ampliar a qualificação.

Uma das críticas do ex-senador que reflete o cenário atual é feita em relação à discrepância entre alta produção acadêmica contra baixo número de patentes registradas pelo País. "No mundo inteiro quem faz dois terços das patentes é a indústria. No Brasil é o inverso, quem patenteia dois terços são as universidades", disse, ao citar que um engenheiro é lançado ao mercado a cada 50 formandos, enquanto na Coréia do Sul a proporção é de um para cada quatro egressos.

Entre outras ações, Mercadante reforçou a necessidade de atrair centros de pesquisa e desenvolvimento, e citou ações recentes para viabilizar a retomada de avanço no setor. "Trouxemos a GE, que vai investir US$ 500 milhões em dois anos, e a IBM, US$ 450 milhões. Sem contar a atuação da Alemanha, que já está criando a sexta casa da ciência e inovação em São Paulo."

O vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, reforçou que é preciso manter a inovação na indústria, e lembrou do encontro desta semana com a companhia francesa Dassault para transferência de tecnologia no desenvolvimento de caças como iniciativa importante nesse aspecto. Esse passo só será dado, porém, se o governo federal os escolher.

País precisa começar a produzir tecnologia de ponta

 

A crítica do ex-senador é que o País não pode se acomodar com status de grande exportador de commodities, que classificou como "cultura parasitária", e deve começar a desenvolver produtos industrializados. Para isso, Aloizio Mercadante listou Ciência, Tecnologia e Educação como eixos que devem direcionar a economia brasileira.

Ele citou como exemplo a produção de telas de LED, mais barata e eficiente, mas ainda com domínio de produção restrito a poucas nações mundiais, e o esforço recente para desonerar os custos dos tablets. O governo baixou decreto, nesta semana, para reduzir a carga de imposto sobre esse equipamento, incluindo-os na Lei do Bem, que oferece benefícios fiscais com a produção do tablet que contenha componentes desenvolvidos no País.

Pela manhã, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, apontou que apenas a importação de veículos impediu em 2010 a abertura de 102 mil empregos na cadeia automotiva do Brasil. "A situação também se repete em outros setores, como o eletroeletrônico e o de máquinas." O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, concordou com o diagnóstico. "Em 1985 a indústria empregava 25% de todos os trabalhadores brasileiros. Hoje, emprega 7%."

 

RECLAMAÇÃO

Os empresários reclamaram e cobraram resposta "objetiva" de Mercadante sobre como é possível inovar no segmento com os custos elevados de impostos, especialmente sobre a mão de obra. "A folha de pagamento financia a Previdência, que já não é boa e tem deficit histórico. Mas se tirar tributo dali tem que colocar com outra base de tributação. Por que a carga é alta? A dívida pública é alta. Apesar de ter ocorrido uma redução, ainda consome esforço fiscal importante do País", disse o ministro, apontando que manter superavit comercial é o melhor caminho para equilibrar as contas públicas.

Ele também criticou que há interesses governamentais nos Estados que barram uma reforma ampla no sistema de impostos, e que há ainda empresas que se beneficiam da guerra fiscal. "Não querem mudar senão vão pagar o que não pagam hoje."




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