Política Titulo República em choque
‘Não renuncio. Repito, não renuncio’

Presidente diz que continua no cargo; STF abre inquérito e autoriza publicidade de conversa com JBS

Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
19/05/2017 | 07:00
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O presidente da República, Michel Temer (PMDB), afirmou ontem que não vai renunciar ao cargo, um dia depois de o jornal O Globo revelar que um dos donos da JBS, Joesley Batista, gravou conversa com o peemedebista em que ele consente com pagamento de mesada para que o ex-presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não faça delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato.

Também ontem, o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou abertura de inquérito contra Temer. Fachin também retirou o sigilo das delações de Joesley Batista e, assim, os áudios da conversa do empresário com o presidente, no Palácio do Jaburu, em março, tornaram-se públicos.

Antes de os áudios serem disponibilizados, Temer se pronunciou oficialmente, no Palácio do Planalto. “No Supremo, mostrarei que não tenho nenhum envolvimento com esses fatos. Não renunciarei. Repito, não renunciarei. Sei o que fiz e sei a correção dos meus atos. Exijo investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro. Essa situação de dubiedade e de dúvida não pode persistir por muito tempo”, declarou o peemedebista. “Não temo nenhuma delação, nada tenho a esconder. Nunca autorizei que se utilizasse meu nome.”

“Quero deixar muito claro, dizendo que o meu governo viveu, nesta semana, seu melhor e seu pior momento. Os indicadores de queda da inflação, os números de retorno ao crescimento da economia e os dados de geração de empregos, criaram esperança de dias melhores. O otimismo retornava e as reformas avançavam, no Congresso Nacional. Ontem (quarta-feira), contudo, a revelação de conversa gravada clandestinamente trouxe de volta o fantasma de crise política de proporção ainda não dimensionada. Portanto, todo um imenso esforço de retirar o País de sua maior recessão pode se tornar inútil. E nós não podemos jogar no lixo da história tanto trabalho feito em prol do País.”

O episódio fez a economia brasileira paralisar, bem como todo o Congresso Nacional, por onde passam as principais reformas defendidas pelo governo Temer, e causou imenso racha na base governista. Ministro se desligou do governo, partidos ameaçam abandonar o bloco de sustentação e protestos tomaram conta do País.

O trecho que compromete Temer está logo no início da gravação, que tem cerca de 40 minutos. O peemedebista diz que Cunha resolveu “fustigá-lo” e que está tentando “amedrontá-lo”. Joesley responde que “zerou pendências com Cunha” e cita diálogos com Geddel Vieira Lima (PMDB), ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Temer pede que haja cautela com relação a ligações e conversas entre os dois “para não parecer obstrução da Justiça”.

“Eu estou lá me defendendo. Como é que eu... o que é que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora. Eu tô de bem com o Eduardo, ok”, admite Joesley, na conversa com Temer. O presidente da República responde de bate-pronto: “Tem que manter isso, viu”. Joesley continua: “Todo mês. Também. Eu estou segurando as pontas, estou indo. Esse processo, eu estou meio enrolado aqui no processo”. O empresário também fala sobre possíveis vazamentos de informação de integrantes da força-tarefa da Lava Jato e de juízes que poderiam se influenciar.

A PGR (Procuradoria-Geral da República) sustenta que a JBS encaminhou, além da gravação da conversa entre Joesley e Temer, provas de pagamentos feitos a Cunha e a Lúcio Funaro, operador do PMDB. O ex-presidente da Câmara receberia R$ 500 mil por mês para ficar calado na cadeia. Recursos de propina, ainda de acordo com a PGR, seriam repassados por meio do deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR).

Cunha está preso desde outubro, por, segundo o MPF (Ministério Público Federal), receber propina pela exploração de petróleo em plataformas da Petrobras em Bênin, na África. Em março, foi condenado a 15 anos de prisão. Até agora não sinalizou com acordo de delação premiada.

Diante dos fatos, Fachin optou por abrir inquérito e apurar o caso. Assim, Temer se tornou investigado no âmbito da Lava Jato.

Em carta, Joesley Batista diz que errou. “Erramos e pedimos desculpas. Não honramos nossos valores quando tivemos que interagir, em diversos momentos, com o poder público brasileiro. E não nos orgulhamos disso. Ainda que nós possamos ter explicações para o que fizemos, não temos justificativas. Em outros países fora do Brasil fomos capazes de expandir nossos negócios sem transgredir valores éticos. Assinamos acordos com o Ministério Público. Concordamos em participar de alguns dos mais incisivos mecanismos de investigação existentes e nos colocamos à disposição da Justiça para expor, com clareza, a corrupção das estruturas do Estado brasileiro.” 




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